Descrição de chapéu Obituário Virgínia Cavalcanti (1948 - 2020)

Mortes: Jornalista e escritora, viveu com ficção, arte e militância

Virgínia Cavalcanti trabalhou em uma série de veículos e fugiu da ditadura militar

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São Paulo

Aos 71, Virgínia Cavalcanti, jornalista, escritora, astróloga e ex-militante, passou pelo distanciamento de coronavírus entretendo amigos com dicas, receitas e poemas.

Do apartamento onde vivia, em Copacabana, manteve contato diário com uma lista de pessoas por WhatsApp, a quem enviava frases curtas com sua curadoria cultural e mensagens de afeto.

“Hoje tem live do Caetano”, “Zeca Pagodinho no Bial”, “Está indo para a rua, querida?”, “Live da Teresa Cristina”, “Como está o movimento dos entregadores?”, “Emicida é meu filósofo favorito”.

Virgínia foi repórter na ditadura, perdeu pessoas no período e lhe preocupava qualquer traço de ameaça à democracia. Na década de 1960, foi militante, sob o codinome Lilian. Trabalhou no Jornal do Brasil. Também passou pela Folha no Rio.

Virgínia Cavalcanti e o filho, Diego; era uma de suas fotos preferidas
Virgínia Cavalcanti e o filho, Diego; era uma de suas fotos preferidas - Acervo pessoal

Orgulhava-se ao contar que a Passeata dos Cem Mil foi organizada em sua sala.

Mudou para Londres em 1971. Conta parte desse período em um de seus vários livros, um romance com toques biográficos, "Exílio na Primeira Classe” (2018), com foto de Evandro Teixeira e texto de quarta capa de Ruy Castro, dois amigos.

“Virgínia já viveu o suficiente para três ou quatro vidas. Sei disso porque, quando nos conhecemos, ela ainda estava na primeira”, escreveu Ruy.

Em Londres, foi correspondente da revista Manchete e do JB. Na década seguinte, trabalhou na TV, com produção e roteiro na Globo.

Com múltiplos interesses e uma coleção de mil LPs, Virgínia mergulhou na astrologia. Por volta dos 45 anos, também estudou escrita criativa em Nova York.

Até os anos 2000, quando foi diagnosticada com lúpus, viveu com saúde. “Minha mãe tinha muitas histórias, tinha todas as histórias”, diz o filho, Diego Albuquerque. “Era livre e desprendida, daria um banho na nossa geração.”

Em depoimento à Folha sobre a campanha pró-democracia do jornal, Virgínia resumiu sua história, um mês antes de morrer, após um mal súbito, em 17 de agosto.

Disse à repórter que ficou emocionada com a publicação, mas que gostaria de ler o nome do pai, militar de esquerda e "herói de guerra".

Virgínia era filha de Maria Amélia Cavalcanti e do herói de guerra Pedro Albuquerque. Deixa o filho, Diego, 46, e o neto, Pedro Albuquerque, 5.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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