Segurança pede que criança negra saia de doceria de SP, diz mãe do menino

Segundo ela, o funcionário contratado por centro comercial de Perdizes disse que seu filho era pedinte; shopping afirma que repudia discriminação

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São Paulo

Uma mãe pretende ir à Justiça contra um centro comercial em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, porque um segurança do local teria sido racista contra o seu filho, de 10 anos, que é negro. O caso aconteceu por volta das 10h da última sexta-feira (25), em uma loja de doces na rua Cardoso de Almeida.

De acordo com a jornalista de 54 anos, o segurança disse para o garoto, que havia acabado de entrar na doceria para encontrar a mãe, que saísse dali porque não era permitida a presença de pedintes no local. O menino ficou revoltado, lembra ela, e ainda questiona se tudo isso aconteceu por causa da cor de sua pele.

A jornalista conta que todas as sextas-feiras espera na doceria, ou em alguma outra loja do centro comercial, o menino sair da terapia, realizada em um local próximo. Desta vez, diz, o terapeuta deixou o garoto no estacionamento e ele se dirigiu à loja para sentar-se com ela.

Unidade de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, do shopping Instant CCS, onde uma mãe afirma que seu filho de 10 anos foi vítima de racismo na sexta-feira (25) - Reprodução

Nesse momento, a mulher, que é branca e mãe de dois filhos negros adotivos —o garoto tem uma irmã de 14 anos—, afirma que o segurança abriu a porta de vidro, que estava fechada por causa do ar-condicionado, e pediu para o menino sair. Imediatamente, conta, ela pegou o celular, começou a filmar e passou a discutir com o homem.

No vídeo, que teve trecho publicado por ela em suas redes sociais, a mãe questiona várias vezes os motivos de o filho não poder entrar na loja. "Você falou para esse menino que ele não pode estar pedindo", diz, na gravação, para o segurança. Nas imagens, o funcionário afirma que, segundo regras do condomínio, pessoas não podem ficar pedindo.

Segundo a mãe, seu filho chegou a dizer que aquilo era racismo. O segurança, afirma ela, negou, dizendo que ele também era negro. A jornalista conta que pediu o nome do funcionário e o contato da empresa, que é terceirizada pelo condomínio, mas ele se negou a informar e foi embora.

A funcionária da doceria foi solidária à família, ofereceu café à mãe e brigadeiro para a criança, que conseguiram se acalmar.

Em nota, o centro comercial Instant Center, que tem mais de dez empreendimentos, disse lamentar o ocorrido, que "repudia qualquer tipo de discriminação, preconceito e violência e preza pelo respeito mútuo" e que "acionou as equipes internas, bem como a empresa de segurança terceirizada, para seguir com medidas cabíveis e necessárias".

Procurada no início da tarde deste sábado (26), uma atendente da empresa de segurança afirmou que os responsáveis já haviam ido embora e voltam na segunda-feira. A reportagem mandou um email para uma representante do RH, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A mãe planeja ir à Justiça. A ideia é que, com isso, consiga fazer com que todas as empresas de segurança tenham cursos contra racismo.

Leia a íntegra da nota do centro comercial

Lamentamos profundamente o que ocorreu em nosso empreendimento no dia 25 de março.

Declaramos que a Instant Center repudia qualquer tipo de discriminação, preconceito e violência e preza pelo respeito mútuo.

Reforçamos que nossa empresa possui valores que enalteçam o respeito, o relacionamento, a segurança e a qualidade no atendimento a todos.

Diante de todos os fatos, a diretoria da empresa apurou detalhadamente o caso e acionou as equipes internas, bem como a empresa de segurança terceirizada para seguir com medidas cabíveis e necessárias.

Seguimos atentos aos acontecimentos e reiteramos nosso compromisso em prosseguir e garantir o respeito e a igualdade em todas as nossas condutas internas e externas.

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