Descrição de chapéu Cracolândia

Prefeito de São Paulo diz desconhecer pancadões na cracolândia

Ao ser questionado sobre reclamações de moradores, Ricardo Nunes disse que vai investigar e que policiamento é o maior da história na região

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São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta segunda-feira (30) desconhecer a existência de pancadões na cracolândia, como é chamada a concentração de usuários de droga na região central da capital paulista.

"Eu desconheço que tenha pancadão do crack. Deve ter alguma situação sobre barulho de algum comércio lá, que a gente vai estar fiscalizando", afirmou Nunes, ao ser questionado sobre reclamação de moradores.

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Dependentes químicos em fluxo noturno na avenida Duque de Caxias, no centro de São Paulo; moradores reclamam de que madrugada na região tem pancadão e feira da droga - Bruno Santos - 18.ago.22/Folhapress

O prefeito estava ao lado do governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição, durante vistoria técnica ao Museu do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. O tucano não se pronunciou, apesar de o prefeito paulistano dizer que o trabalho social e de polícia na cracolândia é uma ação conjunta entre estado e município.

No último dia 18, a reportagem da Folha acompanhou uma noite e o início da madrugada na região, após série de reclamações de moradores, que perguntavam em grupo de WhatsAPP a localização atual do fluxo —como é chamada a concentração de dependentes químicos—, além de relatos de barulho, brigas e venda e consumo de drogas na porta de seus imóveis.

Uma boa parte dos usuários estava concentrada na rua Helvétia, entre a avenida São João e a alameda Barão de Campinas. É nesse ponto que as autoridades tentam manter o fluxo desde maio, quando ele foi expulso da praça Princesa Isabel.

O grupo ocupava o lado direito da via, com cones o separando do trânsito de veículos. O barulho vindo das caixas de som e das conversas era alto.

Durante a madrugada, equipes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) tentam dispersar os grupos de usuários, que acabam migrando para outras ruas da região. É o caso, por exemplo, da alameda Barão de Piracicaba, uma das travessas da avenida Duque de Caxias, e das proximidades da praça Princesa Isabel.

Vídeos gravados pelos vizinhos mostraram diversos episódios de barulho na alameda Barão de Piracicaba, que é rodeada por prédios.

"Moro nos andares mais baixos e o barulho é insuportável, dia e noite. Dia e noite são gritos, caixa de som, discussões, briga o tempo inteiro. Um inferno", disse a analista de sistema Maira Gomes, 32.

Ao ser questionado sobre as queixas nesta segunda-feira, Nunes falou sobre as ações da prefeitura e do governo estadual para combater a venda de drogas na região da cracolândia e de amparo e acolhimento aos usuários.

O prefeito afirmou que em 2016 eram 4.000 usuários de crack naquela região e que hoje, pela contagem feita diariamente pela administração municipal, são, em média, 820.

Sem dar números Nunes falou duas vezes que o contingente de policiais civis e militares, e de guardas-civis metropolitanos é o maior da história.

Ele disse ainda que há um processo contínuo de internações de pessoas que precisam, de prisão de traficantes e de reurbanização. O prefeito citou como exemplo a praça Princesa Isabel, que, segundo ele, era chamada de "praça do cachimbo".

Em maio, a Polícia Civil e a prefeitura realizaram uma megaoperação contra o tráfico de drogas na praça, que havia se tornado o novo endereço da cracolândia com a migração do fluxo de usuários em março.

Desde então, o fluxo passou a migrar, concentrando-se principalmente na rua Helvétia.

Ao citar investimentos em segurança, Nunes disse que não conseguia imaginar pessoas "naquele estado de dependência fazer pancadão". "Acho que a gente precisa reformular um pouco a nossa visão com relação a esse aspecto de violência no centro."

À Folha, o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional Centro, responsável pela Operação Caronte, que visa prender traficantes na cracolândia, disse que, com a dispersão do fluxo da praça Princesa Isabel, a formação de pequenos núcleos já era esperada, mas que nem de longe eles lembram o visto antes no local e no entorno da praça Júlio Prestes.

Afirmou ainda que a situação é monitorada 24 horas por dia e que prevê melhoras graduais em breve.

Em nota, após a reportagem confirmar as reclamações na cracolândia, a Polícia Militar afirmou que a perturbação do sossego e o porte de drogas são infrações penais de menor potencial ofensivo, e os autores são liberados imediatamente assim que assinam o termo de ocorrência.

A PM disse ainda que, desde janeiro foram efetuadas cerca de 400 prisões em flagrante e mais de 150 recapturas de criminosos foragidos na região.

Em nota nesta segunda-feira sobre as ações de segurança citadas pelo prefeito na região da cracolândia, a Prefeitura de São Paulo disse que as ações da Guarda Civil Metropolitana visam também proteger a população e garantir a segurança dos agentes públicos durante a execução dos serviços municipais de saúde, assistência social e limpeza urbana. "Além de proteger as pessoas em situação de vulnerabilidade que circulam por esses locais."

No texto, a gestão Nunes também lista os serviços prestados a dependentes químicos. Diz, por exemplo, que a Política Municipal sobre Álcool e outras Drogas oferece vagas para atendimento humanizado em saúde e assistência social em diversos equipamentos na cidade.

A nota ainda cita números de atendimentos em toda a cidade a dependentes químicos. Afirma que o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas 4 realizou de 1º de janeiro a 31 de julho 21.787 atendimentos referentes a 3.849 pacientes, por exemplo.

Os números correspondem a atendimento médico e multiprofissional (enfermagem, clínica médica, psiquiatria, psicologia, terapia ocupacional, serviço social, educação física, nutrição e farmácia), grupos e oficinas terapêuticas, atendimento familiar, ações de redução de danos, atenção à crise e ações no território, dentre outras.

Entre outros números, de todas as regiões, afirma que as equipes do programa Redenção na Rua realizaram no período 23.982 abordagens, 3.787 atendimentos médicos, 1.946 encaminhamentos para rede de saúde e 1.006 encaminhamentos para o Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (SIAT) 2 - Acolhimento Temporário.

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