Devido a paralisia infantil, Claudete Batista Marcos, 52, sempre se locomoveu em uma cadeira de rodas. Mas foi graças ao marido, Wagner Saulo Barbosa, que usava muletas por causa de uma fratura na coluna, é que ela aprendeu a viver de cabeça erguida e cheia de orgulho por aí.
Barbosa tinha cerca de 18 anos de idade quando sofreu uma queda que o impossibilitou de caminhar sem o apoio. Na época, era funcionário de uma loja de roupas.
Morador de Itaquera, na zona leste de São Paulo, em meados da década de 1990, ele foi levado por uma conhecida para participar de um evento em um centro de convivência para pessoas com deficiência na Barra Funda, zona oeste. E lá trocou olhares com a jovem que seria sua futura esposa.
"Um ficou encarando o outro até que ele se aproximou", afirma Claudete. Nascia ali muito mais que um romance, mas a cumplicidade que uniria o casal para sempre.
Pouco depois os dois se casaram, e Barbosa se mudou com a mulher para a casa da sogra, no Imirim, zona norte, até serem sorteados para um apartamento da CDHU (companhia de habitação) na região da família dela. "Ele vivia de aposentadoria e fomos construindo tudo aos poucos", diz Claudete.
"Minha mãe me deu a vida, mas quem me ensinou a ver o mundo, a andar na rua, foi ele", completa ela, sobre os 28 anos de casamento.
Fã da banda de heavy metal Metallica, Barbosa influenciou os gostos musicais da companheira, e começaram a frequentar juntos bares de rock.
Barbosa se tornou bastante caseiro depois de ter sido diagnosticado com esquizofrenia, há dez anos.
Além de ouvir música, tinha como hábito assistir aos jogos do São Paulo na televisão e estava ansioso pela Copa do Mundo deste ano, no Qatar.
Por causa da doença, foi aconselhado pelos médicos a adotar um animal de estimação para ajudar na saúde mental. Foi assim que a poodle Pity entrou na vida do casal.
No último dia 19 de outubro, a cachorrinha chorava no lado vazio de Barbosa na cama. De alguma forma ela sabia que o tutor não dormiria mais ali, onde ela se espremeu no meio do casal ao longo de oito anos de vida.
Foi naquele dia que Wagner Saulo Barbosa morreu aos 53 anos, por complicações de uma hepatite C. Ele deixa a mulher, a poodle Pity e o desejo de viver sem barreiras.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.