Descrição de chapéu Folhajus

Promotoria apura suposta omissão de diretor de escola em SP em caso de injúria racial

OUTRO LADO: Colégio da zona oeste refuta omissão e diz que sempre busca 'solução por meio de conversa'

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São Paulo

O Ministério Público de São Paulo investiga uma denúncia de que o diretor de uma escola tradicional da capital paulista, o Colégio São Domingos, teria sido omisso em casos de injúrias raciais feitas por alunos contra colegas.

A investigação, mantida em sigilo, é conduzida pelo promotor João Paulo Faustinoni. O colégio, que fica na zona oeste, nega as acusações. O caso foi revelado pelo site Ponte Jornalismo.

O São Domingos surgiu a partir de uma articulação da sociedade civil em 1959, que criou a entidade jurídica Associação Cultural São Paulo, mantenedora do colégio. De origem católica, ele é procurado por famílias que buscam uma educação progressista.

A psicóloga Adriana Castilho disse ter sido avisada por um professor de que sua filha de dez anos, que é negra, teria sido vítima de injúrias raciais por três vezes.

Colégio São Domingos é acusado de omissão em casos de injúria racial; escola nega
Colégio São Domingos é acusado de omissão em casos de injúria racial; escola nega - Reprodução/Facebook

No primeiro episódio, a menina teria sido alvo de comentários sobre o cabelo dela. Em um segundo momento, durante uma atividade da turma em que foi abordado o racismo na Europa, ela diz ter ouvido de outro garoto que estaria "ferrada" se morasse lá.

O último teria ocorrido em 24 de outubro. Em uma conversa a respeito de homens que ofereciam dinheiro para comprar mulheres no Oriente Médio, um colega teria dito que a garota nunca passaria por isso devido a suas características físicas.

A psicóloga afirma ter relatado os casos para um integrante do NER (Núcleo de Equidade Racial), formado em 2020 por pais e alunos que se organizaram para cobrar ações antirracistas da direção.

No dia seguinte, ela e uma amiga, também mãe de uma aluna, seguiram até a escola a fim de conversar com a direção, mas não foram recebidas. Porém, segundo Castilho, o diretor Silvio Barini Pinto disse que não faria a reunião porque ela estava acompanhada.

Diante da situação, ela procurou o Ministério Público para denunciar o que considera uma omissão do colégio.

Depois disso, Barini Pinto encaminhou um email para os pais dos alunos no qual afirma ser alvo de denúncias que transbordam os limites da escola. Disse ainda que o caso envolve pessoas que estão em fase de formação e que a escola tratou a situação com mediações, acolhimentos e esclarecimentos, além de ter conduzido conversas com os familiares dos envolvidos.

De acordo com o diretor, Castilho pediu a expulsão do garoto de dez anos que teria ofendido sua filha —a mãe nega. "Contrapusemos a ela nosso modo de educar e esclarecemos sobre nosso projeto (...). Nada disso a demoveu de sua reação inicial", escreveu ele.

A psicóloga afirmou que o email a expôs para toda a comunidade escolar. "Ele produziu mais mentiras, me desqualifica e me coloca em posição de linchamento", disse ela.

A advogada da escola, Claudia Schwerz, afirmou por meio de nota que a instituição não foi omissa e que "o colégio tem amplas políticas antirracistas implementadas". Segundo ela, o diretor estava passando por uma cirurgia e não poderia ser contatado.

"O colégio sempre busca a solução consensual mediante diálogo e rodas de conversa entre todos os envolvidos, além de ações pertinentes voltadas para a transformação do conflito com base nos valores defendidos pelo colégio que inclui a pauta antirracista", afirmou a advogada.

Após o caso, a Associação Cultural São Paulo enviou um email ao colégio no qual afirma repudiar qualquer atitude racista e que está "trabalhando no sentido de ouvir todas as partes envolvidas para apurar o ocorrido e formulando diretrizes colaborativas junto com a direção do colégio, para aprimorar o projeto pedagógico contra todas e quaisquer formas de discriminações".

Procurada, a associação não respondeu até a publicação desta reportagem.

Pais de ex-alunos afirmaram que esse não teria sido o primeiro caso do tipo na escola. De acordo com a advogada Cleude de Jesus, mãe de uma ex-aluna e ex-integrante do NER, o diretor se negou em 2020 a implementar uma educação antirracista proposta pelo núcleo.

A advogada disse que sua filha teria sido vítima de injúrias raciais e, depois que a direção não aceitou a proposta do NER, decidiu tirá-la da escola. "Os professores sempre foram atenciosos, mas não podiam avançar porque o diretor negava", afirmou.

Em nota, a escola negou ter sido omissa. "Ao contrário. O trabalho educativo e de formação desenvolvido pelo CSD [Colégio São Domingos] é longo e exige perseverança na temática e na busca consistente de concretização dos valores defendidos. É o que tem sido feito, permanentemente."

O colégio acrescentou que não criou obstáculos para o debate sobre o tema e disse reconhecer a existência do racismo estrutural e que atua em todas áreas pedagógicas para combatê-lo.

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