Descrição de chapéu aborto

Aliada de Damares que comparou aborto a infanticídio assume cargo na Secretaria da Mulher de SP

Teresinha Neves disse ser contra procedimento mesmo em caso de estupro; gestão Tarcísio afirma que 'legislação será cumprida'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Aliada da senadora eleita e ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos-DF), Teresinha de Almeida Ramos Neves foi nomeada para o cargo de secretária executiva da Secretaria de Políticas para a Mulher do Governo de São Paulo na gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos). A nomeação foi publicada nesta sexta (20) no Diário Oficial do Estado.

Teresinha foi assessora especial da pasta comanda por Damares no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, vai trabalhar em São Paulo com a secretária Sonaira Fernandes (Republicanos).

Em 2012, Teresinha mantinha um blog onde costumava falar sobre religião, combate à pedofilia e fim do direito ao aborto, entre outros assuntos. Sobre a interrupção da gravidez, disse ser contra mesmo em casos de estupro. O aborto é legal no Brasil em três situações: estupro, risco à vida da mãe e anencefalia do feto.

Procurada, a gestão Tarcísio informou que a nomeação de Teresinha é técnica e que "a legislação referente ao aborto será cumprida".

Teresinha Neves foi nomeada para o cargo de secretaria executiva da Secretaria de Políticas Para a Mulher do governo do Tarcísio de Freitas
Militante antiaborto, Teresinha Neves foi nomeada secretária executiva da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo de São Paulo - Reprodução/Instagram

Teresinha escreveu, por exemplo, que mesmo que o feto seja "resultado de estupro, a vida [se] sobrepõe". "Há vida desde a concepção, portanto, aborto é infanticídio. Não ao aborto! Sim à vida!", publicou. "Imaginem se todos que, a princípio, não têm condições financeiras para criar seus filhos optassem por matá-los, como se fazia antigamente", acrescentou.

No perfil do blog —que não é mais atualizado desde 2012, mas segue ativo—, ela se descreve como "amante de bons livros, eclética por natureza, sonhadora por decisão e conquistadora pela graça de Deus".

Afirma, ainda, que é apaixonada pela vida e que não se cansa de agradecer pelos obstáculos que lhe permitem crescer. "Amo os amigos e busco a conquista dos possíveis inimigos. Não me agrado da inércia (estagnação, inatividade, apatia, preguiça) nem da indolência (distância, frieza, desleixo, negligência), mas prezo pela excelência e pela dinâmica da vida."

Em sua conta no Twitter, Teresinha se apresenta como consultora política, palestrante, profissional do direito e da ciência política, além de conservadora, ativista em defesa da vida e da família e contra a corrupção.

A nomeação foi assinada pelo vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD). O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) está em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial.

Em nota enviada à reportagem, o Governo de São Paulo afirma ainda que "a Secretaria de Políticas para a Mulher, criada pelo governador Tarcísio de Freitas, tem como principal objetivo fortalecer e ampliar as políticas públicas que assegurem a plenitude dos direitos das mulheres".

A gestão também ressalta que Teresinha Neves "é bacharel em ciências jurídicas, com especialização em direito constitucional, administrativo e gestão governamental, e já atuou como diretora do departamento de promoção da dignidade da mulher no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos."

Militante antiaborto, a secretária Sonaira Fernandes disse recentemente que se sente honrada com as comparações que têm sido feitas entre ela e Damares Alves. A ex-ministra chegou a atuar para impedir que uma criança de 10 anos, vítima de estupro, realizasse um aborto legal e virou alvo de investigação por isso —o caso foi arquivado em dezembro.

Nesta semana, Sonaira ainda criticou a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de retirar o Brasil da Declaração do Consenso de Genebra, espécie de aliança contra o aborto e em defesa da família baseada em casais heterossexuais. Pelo Twitter, a secretária da Mulher de São Paulo ela escreveu que a decisão representa um "retrocesso".

O governo Lula anunciou, ainda, outra mudança na política de aborto legal, revogando uma medida do governo Bolsonaro.

Em 2020, o Ministério da Saúde determinou que hospitais deveriam avisar às autoridades policiais caso fossem procurados por mulheres vítimas de estupro interessadas em realizar o procedimento. Nesta semana, a medida foi revogada pela ministra da Saúde do governo Lula, Nísia Trindade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.