Dono de hotel na Barra do Sahy critica falta de aviso de tempestade

Empresário também reclama de desorganização na distribuição de mantimentos para desabrigados

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São Paulo

"Não é possível que não exista um sistema de avisos para a população de São Sebastião no caso de chuvas tão fortes. Essa é a nossa maior indignação. Só vi um alerta sobre a tempestade por volta de 5h [de domingo] no Instagram da administração pública, quando a tragédia já tinha acontecido."

O desabafo é de Frederic de Oliveira Gave, um dos sócios do Casa Hotel Sahy, localizado na Barra do Sahy, a área mais afetada pelas chuvas que atingiram o litoral norte de São Paulo no sábado (18) e no domingo (19).

Gave diz não ter recebido alertas oficiais sobre a tempestade. Ele lembra que os barqueiros da Barra do Sahy comentaram no dia anterior que um temporal estava prestes a acontecer. "Não poderíamos imaginar que seria essa catástrofe."

Destruição na Vila do Sahy, em São Sebastião (SP), após temporal do fim de semana; ao menos 49 morreram, e dezenas estão desaparecidos - Bruno Santos/Folhapress

A Defesa Civil estadual afirmou que enviou 14 alertas de mensagem de texto (SMS) para mais de 34 mil celulares cadastrados na região do litoral norte.

"Além disso, foram publicados conteúdos nas redes sociais da Defesa Civil e do Governo do Estado de São Paulo com informações sobre o volume de chuvas estimados para o período, bem como as medidas de segurança que poderiam ser adotadas pela população em áreas de risco. Tais publicações tiveram um alcance de mais de 730 mil pessoas. Com o apoio da imprensa, os representantes da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil concederam uma série de entrevistas a jornais, portais de notícias, programas de rádio e TV com abrangência local e nacional", disse, em nota.

O órgão não informou, porém, o horário em que cada alerta foi enviado.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Sebastião para saber sobre os avisos a respeito da tempestade, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

"Deixei minha casa no meio da madrugada de domingo, por volta das 3h. Eram muitas corredeiras e o barro alcançava minha cintura", lembra Gave.

Dois dias depois, ele voltou à sua residência, localizada na Barra do Sahy assim como o seu hotel. "As portas foram destruídas, há muitas fendas nas paredes e tem lama até no teto. E houve alguns saques, o que tem acontecido muito por aqui."

O número de mortes chegou a 49 em decorrência das chuvas históricas que atingiram a região no último final de semana, sendo 48 em São Sebastião e uma em Ubatuba. O total foi atualizado na manhã desta quarta-feira (22) pela Defesa Civil.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta quarta que policiais da tropa de choque foram acionados para evitar saques na região.

Carro destruído na Barra do Sahy em meio às chuvas do último fim de semana - Leitor

O Casa Hotel Sahy, que tem Gave entre os sócios, acabou de ser inaugurado. Começou a funcionar em sistema de "soft open" em novembro do ano passado e passou a receber o público efetivamente um mês depois.

O desastre levou Gave e seus sócios a transformar o novo espaço, que não foi danificado pelo temporal, num ponto de acolhimento. Há cerca de 30 pessoas dormindo no hotel, entre eles a família de Gave, os funcionários e seus parentes e outras pessoas próximas.

O empresário critica a desorganização na assistência aos desabrigados.

"Os mantimentos estão chegando, mas a distribuição tem sido feita principalmente pelos próprios moradores. Ainda há muita desorientação", afirma.

Voluntários recebem doações que chegam de barco na praia da Barra do Sahy, em São Sebastião (SP), nesta quarta-feira (22) - Bruno Santos/Folhapress

José Diogo Rocha Reis, garçom do hotel, lembra a aflição que viveu na madrugada de domingo.

Àquela altura, ele não estava em casa nem no hotel —trabalhava em um restaurante— e só conseguiu falar com a esposa uma vez ao longo da noite do sábado e da madrugada do domingo. Ela estava com Theo, filho de 8 meses do casal, na Vila do Sahy, onde a família vive.

"Pouco depois das 5h, fui até minha casa e eles não estavam. Fui até minha sogra e nada. Só encontrei eles na casa de uma amiga da minha mulher", diz o garçom, aliviado.

Ao redor, as cenas da tragédia já se mostravam. "Ao deixar a casa dessa amiga, vimos uma senhorinha com um bebê morto nos braços, chorando desesperadamente."

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