Descrição de chapéu Obituário Benedito Luiz Amauro (1946 - 2023)

Mortes: Lumumba foi mestre dos tambores e dos saberes afro-brasileiros

Benedito Luiz Amauro era músico, poeta, babalorixá e ativista do interior de São Paulo

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São Paulo

Benedito Luiz Amauro, homem preto retinto com barba e cabelos brancos e alguns dreads atrás da cabeça, ensina seu discípulo, Zé Coêio, um jovem branco, sobre memória e tradição quilombola. Na cena do curta "Mestre Lumumba - Terra, Cultura e Liberdade", da Fábrica de Cultura, o mestre inverte a lógica colonial e fala sobre resistência negra.

Esse é um retrato do que foi a vida do mestre Lumumba, que morreu no dia 8 de abril na cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba. Ele foi luthier (especializado na construção de tambores africanos), poeta, cantor, ativista e propagandista da cultura afro-brasileira.

O mestre, que era natural de Campinas (SP), foi criado em um lar matriarcal e cresceu em meio ao samba. Lazinha, sua mãe, foi porta-bandeira 13 vezes campeã do Carnaval de Campinas pela escola Estrela D’Alva. Lumumba era ninado pelos componentes da agremiação enquanto ela ensaiava.

Benedito Luiz Amauro (1946 - 2023)
Benedito Luiz Amauro (1946 - 2023) - Diego Nogaroto

O multiartista, no início dos anos 1970, formou o Grupo Teatro Evolução e tornou-se referência na produção de arte negra. Ele utilizava suas criações artísticas como manifesto antirracista, em busca de expandir o movimento negro no país, e teve papel importante na fundação do MNU (Movimento Negro Unificado).

"Se em 500 e tantos anos eles não ganharam, não conseguiram nos exterminar, nem com doença, com fome, tomando terra, dando tiro, porrada, eu quero acreditar que nos próximos 2000 anos eles não vão conseguir", afirmou Lumumba em registro de 2020 no YouTube.

Em meados da década de 1980, o músico fez uma passagem importante pela banda Arembepe, que chegara a São Paulo vinda da Bahia, e foi uma das pioneiras a introduzir o reggae no Brasil. Logo a carreira solo de Lumumba ganhou reconhecimento e ele se tornou um dos grandes expoentes desse estilo.

Em São Luiz do Paraitinga (SP), local onde viveu por mais de 40 anos, Lumumba era mestre de congada, reconhecido pelo seu comprometimento com a preservação da memória negra cultural de São Paulo.

"Ele me deu o título de mestre de congada, ele foi meu parceiro na vida, nos sonhos. Eu não tenho a pretensão de ser seu sucessor, mas vou dar continuidade ao seu legado", disse Quintino Brotero de Assis Neto (mestre Quintino), amigo de de Lumumba por mais de 30 anos.

O artista foi internado com insuficiência renal no dia 15 de fevereiro deste ano no Hospital Municipal Universitário de Taubaté. Ele permaneceu hospitalizado até sofrer uma parada cardíaca de 39 minutos no dia 6 de março e ficou na UTI. No último sábado (8), morreu por falência múltiplos órgãos.

O mestre deixou quatro filhos e uma esposa. Ao lado de sua companheira, ialorixá Nadya Sant’Anna, ele era babalorixá do Ilê Asè Omò Ayé, terreiro de candomblé situado na zona rural de São Luiz do Paraitinga (SP).


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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