Descrição de chapéu Rio de Janeiro violência

Delação de caso Marielle ocorreu após novas provas e visita da PF a presídio

Segundo investigadores, Élcio de Queiroz indicou disposição para falar do crime em conversa em maio, quando foi apresentado aos achados

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Brasília

O ex-policial militar Élcio de Queiroz decidiu aderir ao acordo de delação depois de uma visita de investigadores da Polícia Federal ao presídio federal de Porto Velho (RO), onde ele estava preso, em que tomou conhecimento das novas provas sobre sua participação e de Ronnie Lessa no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Marielle e Anderson foram assassinados a tiros no dia 14 de março de 2018. Eles voltavam de um evento na Lapa, e o carro onde estavam foi alvejado enquanto passavam pelo Estácio, também na região central do Rio. Um ano após a morte, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos.

Um dos depoimentos da delação de Élcio resultou na primeira fase da operação Élpis, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa. Ele foi apontado por Élcio como um dos que participaram da organização do crime e das tentativas de obstrução da investigação sobre o crime.

Homem algemado é escoltado em aeroporto
O ex-bombeiro Maxwell Simoes Corrêa, preso em operação nesta segunda (24) que apura a morte de Marielle Franco, chega a Brasília; ele deve ficar na Penitenciária Federal de Brasília, no complexo da Papuda - Gabriela Biló/Folhapress

O ex-PM optou pelo acordo em maio, quando integrantes da equipe de investigação fizeram uma visita ao presídio federal em Porto Velho (RO) e apresentaram novas provas coletas no inquérito aberto em fevereiro deste ano por ordem do ministro da Justiça, Flávio Dino.

Os investigadores da PF no Rio de Janeiro, além de avançar na produção de provas contra Queiroz e Lessa, mantinham contatos com o sistema de inteligência do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) para monitorar o comportamento do ex-PM.

Em maio, após reunir provas sobre consultas que Lessa havia feito em um banco de dados privado sobre informações de Marielle e da filha e de tomar o depoimento da esposa do atirador, que desmontou um de seus álibis, os investigadores foram até o Élcio.

De posse das informações, eles confrontaram o ex-PM sobre sua participação —até então, as provas colhidas eram consideradas frágeis.

Foi nessa conversa Porto Velho, segundo relatos de investigadores à Folha, que Élcio pela primeira vez indicou a disposição para colaborar com as investigações e entregar seus comparsas, entre eles o amigo de longa data Ronnie Lessa.

Após essa conversa, ele foi transferido para o presídio federal em Brasília. Foi na capital federal, a partir de junho, que ele prestou os depoimentos do acordo, entre eles o utilizado para prender Maxwell Côrrea,

Um dos principais pontos que o levaram a um acordo, segundos os investigadores, foi a confirmação feita a Queiroz de que Lessa teria feito pesquisas sobre Marielle nas vésperas do crime. Antes, o atirador teria garantido ao amigo que não havia deixado esse tipo de vestígio.

PM reformado Ronnie Lessa (esquerda), que teria efetuado disparos, e o ex-policial Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro utilizado no assassinato de Marielle Franco
PM reformado Ronnie Lessa (esquerda), que teria efetuado disparos, e o ex-policial Élcio Queiroz, acusado de dirigir o carro utilizado no assassinato de Marielle Franco - Reprodução

Segundo o relatório, Lessa pesquisou sobre Marielle e seus familiares, em 12 de março, no banco privado de dados cadastrais CCFácil. Ao cruzar os dados com o que as investigações anteriores haviam levantando de informações, a PF descobriu que a busca feita no Google por Ronnie, já revelada anos atrás, tinha relação com outra consulta feita na plataforma CCFácil.

"Em outras palavras, verifica-se que Ronnie Lessa pesquisou os CPFs de Marielle e de Luyara, às 16:39h do dia 12 de março de 2018, acessando os dados pessoais destas, inclusive o endereço, e quatro minutos depois, às 16:43h, pesquisou 'Rua do Bispo 227' no GoogleMaps, de modo a demonstrar que a consulta por este endereço não ocorreu de forma aleatória", diz a PF, sobre o endereço de Marielle encontrado no banco de dados.

Para confirmar que havia sido mesmo Ronnie o autor das consultas no banco de dados, a PF buscou a forma de pagamento utilizada e descobriu que um dos cartões de crédito utilizados foi apreendido na casa dele durante busca e apreensão do Ministério Público do Rio.

ESPOSA DE LESSA DESMONTOU ÁLIBI

Outro fator que impulsionou o acordo e serviu para que Élcio decidisse entregar o amigo foi o depoimento de Elaine Lessa, esposa de Ronnie.

O relato dela à PF colocou por terra um álibi de Lessa de que no horário do crime estaria com Élcio em sua casa vendo o jogo do Flamengo.

"Na noite daquele dia estava em casa, onde chegou com seu filho umas 18h30min. Que nesse momento ninguém estava em casa, nem Ronnie e tampouco Élcio. Que nem sabia que Élcio tinha ido até lá. Que de 18h30min até o dia seguinte permaneceu em casa. Que Ronnie chegou quando estava próximo de amanhecer pois pouco tempo depois acordou para levar seu filho Igor para escola", disse Elaine em depoimento.

Elaine Lessa também afirmou aos investigadores que tempos após o crime, quando foi informar a Ronnie de uma intimação feita pela Polícia Civil à época da apuração sobre o assassinato, o marido "pediu imediatamente para ir à portaria e pegar o registro de entrada do condomínio no dia 14 de março de 2018".

O pedido, registra o depoimento, se deu mesmo sem Ronnie saber qual era o tema do mandado de intimação que havia chegado na casa da mãe de Elaine Lessa.

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