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Extrema direita domina debate sobre trans no Facebook, diz estudo

FGV e entidade internacional analisaram publicações de janeiro de 2019 a abril deste ano

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São Paulo

Grupos de extrema direita vêm protagonizando debate no Facebook, rede da Meta, sobre a população trans brasileira nos últimos quatro anos. A conclusão é de análise realizada por FGV (Fundação Getulio Vargas) e Democracy Reporting International, organização fomentadora de pesquisas a respeito de cidadania em todo o mundo.

Entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de abril deste ano, foram computadas 4.100 publicações com citação à transexualidade. Dos 10 grupos mais engajados no tema, 9 se opunham a pautas da comunidade LGBTQIA+. Ideologia de gênero, banheiros unissex e linguagem neutra foram os temas mais citados e, por consequência, atacados.

Logo do Facebook com a bandeira de arco-íris ao fundo em Dublin, na Irlanda - Clodagh Kilcoyne - 14.out.2020/ Reuters

As publicações, recorrentemente, também exaltam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e figuras que nele orbitam, caso da ex-ministra e hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

No período observado, concentravam maior número de postagens sobre a população trans os grupos bolsonaristas "SOLDADO DE AÇO RESISTÊNCIA PATRIÓTICA" (60), "OLAVO DE CARVALHO" (49), "BOLSONARO O MELHOR PRESIDENTE" (39) , "Aliança pelo Brasil 22" (37), "DIREITA RACIONAL" (35) e "FORÇABRASIL" (34), além do não declaradamente alinhado "Edita Pra Mim".

O último teria por finalidade atuar colaborativamente na edição de imagens, mas se sobressai na propagação da narrativa homotransfóbica, com 143 publicações do tipo.

Em muitos casos, mensagens idênticas foram encontradas em diferentes páginas. Segundo relatório, isso sugere a ocorrência de bots (robôs) engajados em disseminar conteúdos de ódio e desinformação em massa.

No grupo do Facebook "Edita Pra Mim", mensagem veiculada em setembro de 2021 ataca a chamada ideologia de gênero - Reprodução

Os alvos identificados não são apenas pessoas trans. Políticos de esquerda são citados com frequência, em tentativas de criticá-los pela defesa de pautas LGBT+.

Casos veiculados na mídia nacional estimulam a profusão de conteúdo ofensivo, mostra ainda a pesquisa. Foi o ocorrido, por exemplo, após exibição de reportagem do "Fantástico" em que o médico Drauzio Varella apresentava a situação de mulheres trans e travestis em presídios masculinos brasileiros, em 2020.

Suzy, uma das entrevistadas, recebeu abraço do médico ao revelar estar há sete anos sem visitas. Após a notícia de que a mulher foi condenada por estupro e morte de criança. Os grupos se aproveitaram da situação para associar a população trans à pedofilia.

Outro padrão de discurso para atacar o grupo, conforme a pesquisa, é a religiosidade. Parte dos textos analisados apresenta relatos de pessoas afirmando ser ex-travestis, ex-drags ou ex-homossexuais "curados por Deus".

Ligia Fabris, professora da FGV e uma das coordenadoras do levantamento, afirma que, apesar de o resultado não ter sido surpreendente, foi importante dimensionar o quão hegemônico é o discurso de intolerância.

"É cada vez mais fácil constatar que os debates recentes sobre gênero e, especialmente, sobre pessoas trans, têm sido dominados pela extrema direita. Mais ainda na internet. Eles utilizam esses temas para instigar seu eleitorado", diz.

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