Descrição de chapéu Obituário Ennio Frederico Brauns Filho (1953 - 2023)

Mortes: Repórter fotográfico, registrou 50 anos de movimentos sociais

Ennio Frederico Brauns Filho também imortalizou a história do Teatro Oficina com seus cliques

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São Paulo

O olhar inquieto de Ennio Frederico Brauns Filho viu quase meio século de história passar na frente de suas câmeras fotográficas.

Passaram —e foram registrados pelas lentes— o sindicalismo do início dos anos 1980 no ABC, o surgimento do PT, os movimentos de esquerda que desafiavam a ditadura militar, os protestos de junho de 2013 ou o colorido cada vez mais diverso das paradas LGBT+.

A indignação com as desigualdades e o cheiro das ruas semearam a visão política do repórter fotográfico Ennio Brauns antes mesmo de ele trocar o Rio de Janeiro, onde nasceu, por São Paulo, no fim da década de 1970.

O repórter fotográfico Ennio Frederico Brauns Filho segura uma câmera em frente ao rosto com uma estante de livros ao fundo
Ennio Frederico Brauns Filho (1953 - 2023) - Jesus Carlos/Divulgação

"Ele sempre gostou de perguntar e isso ajudou a moldar o pensamento crítico e questionador, que me orgulho de ter herdado", diz o produtor de audiovisual Ícaro Ferrari de Almeida Brauns, 25, caçula entre os três filhos que nasceram de casamentos diferentes, mas com o mesmo DNA na formação social e cultural do pai.

Foi nos ombros do fotógrafo, onde se sentou para, da altura de seus 3 ou 4 anos de idade na época, ver a multidão no centro de São Paulo gritar "Diretas Já", em 1984, que o ator e produtor Acauã Sol Oliveira Brauns, 43, o mais velho, lembra-se de ter sua consciência política lapidada.

No início dos anos 1990, Ennio partiu para a Itália, onde morou dois anos. Lá, os semblantes de rostos que sempre fizeram parte de seus negativos dividiram lugar com dois famosos ensaios urbanos transformados em exposições, um que retratou cúpulas de igrejas e outro sobre fios elétricos e seus emaranhados nas ruas.

Sua carreira também se misturou com a do Teatro Oficina, no centro de São Paulo, imortalizado por ele com imagens de inúmeras peças.

"Uma boa parte da minha relação com o teatro passa pelo Oficina. Aliás, foi fotografando teatro que entendi a necessidade do fotojornalismo", escreveu Brauns em seu site.

Depois de trabalhar em várias publicações jornalísticas, ultimamente o fotógrafo era colaborador da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, onde ajudou a produzir livros.

Ele também dirigiu, com Jonathan Constantino, o documentário "Que Povo é Esse?", sobre moradia popular.

Segundo o músico Rudá dos Santos Brauns, 40, um vinil do ex-Beatle George Harrison fez parte da infância dos três irmãos, a partir do gosto afinado do pai, que nos últimos tempos ouvia "O Velho Ateu", samba de Eduardo Gudin e Roberto Riberti, sobre um velho bêbado, cantor e poeta, de mãos desarmadas.

Ennio Frederico Brauns Filho morreu no último dia 24 de junho, aos 69 anos. Deixou os filhos Acauã, Rudá e Ícaro, a companheira Luzia Natália, os enteados Gabriel e Isabela e três netos —dois deles filhos de seu enteado.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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