A maior parte dos indígenas brasileiros vive fora de territórios demarcados, aponta dados do Censo 2022 divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta segunda-feira (7).
Segundo o levantamento, 1.071.469 indígenas estão nessas condições, o que equivale a 63,27% do total. Dentro dos territórios indígenas existem 622.066 pessoas, ou seja, 36,73%.
Para a pesquisa, o instituto considerou como terras indígenas aquelas declaradas, homologadas ou regularizadas até a data de 31 de julho de 2022. Com este critério, o Censo encontrou 573 terras indígenas, conforme dados da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
O levantamento anterior do IBGE, feito há 13 anos, apresentava a proporção inversa, com a maior parte dos indígenas dentro dos territórios demarcados.
No Censo 2010, foram identificadas 505 terras indígenas reconhecidas. Os dados mostravam que 517,4 mil indígenas residiam em territórios indígenas, o que significava 57,7% do total da população desse grupo.
Ainda em relação a 2010, o número de pessoas indígenas em terras indígenas apresentou um crescimento de 20,23% no levantamento deste ano. Essa comparação, porém, tem algumas limitações, pois foram feitas mudanças metodológicas entre os dois levantamentos.
O instituto trabalhou com três conceitos de localidades indígenas. O primeiro é o das terras indígenas oficialmente delimitadas pela Funai. Os outros dois envolvem os agrupamentos indígenas e as outras localidades indígenas. Ambos são identificados pelo próprio IBGE, e não pela Funai, como no caso das terras oficialmente delimitadas.
No Censo 2022, o IBGE fez a seguinte pergunta em todo o território brasileiro: "a sua cor ou raça é?". As opções de resposta eram branca, preta, amarela, parda ou indígena.
Se uma pessoa estivesse dentro de uma localidade indígena (terra, agrupamento ou outra localidade) e não se declarasse indígena no quesito cor ou raça, o recenseador abria uma segunda questão: "você se considera indígena?".
Em 2010, o IBGE também fez a primeira pergunta sobre cor ou raça em todo o território nacional, incluindo as possibilidades de resposta branca, preta, amarela, parda ou indígena.
A diferença é que, em 2010, a segunda questão –"você se considera indígena?"– só era aberta para brancos, pretos, amarelos e pardos se eles estivessem nas terras indígenas oficialmente delimitadas, e não em todas as localidades indígenas, como é o caso de 2022.
"Quando a gente muda a metodologia, e passa a abrir a segunda pergunta fora das terras, nas localidades mapeadas, a gente dá oportunidade a um número maior de pessoas indígenas de compreender melhor o quesito da autodeclaração. É uma das diferenças", disse Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
De acordo com ela, o instituto também buscou aprimorar as técnicas de abordagem do Censo 2022 com o objetivo de minimizar as recusas.
O levantamento mostrou também que 689,2 mil pessoas vivem em terras indígenas no Brasil, sendo que 90,26% delas se declararam indígenas —9,74%, o equivalente a 67,1 mil pessoas, são não indígenas, portanto.
Grande parte dessa população (49,12%) está concentrada no Norte, região na qual as terras indígenas tinham 338,5 mil habitantes (93,49% deles eram indígenas).
Ainda levando em conta apenas a população indígena em terras indígenas, três estados se destacam com a maior presença das pessoas deste grupo social.
Amazonas (149.047), Roraima (71.412), Mato Grosso do Sul (68.534). As três unidades da federação juntas somam 46,46% da população em terras indígena.
A Terra Indígena Yanomami é a maior do Brasil, com 27.152 pessoas. Ela ocupa um território que abarca partes dos estados de Amazonas e Roraima.
A forma usada no Censo para contar quem é indígena é a autodeclaração. Ou seja, quem se define dessa maneira dentro ou fora das localidades.
O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, o equivalente a 0,83% da população total no país (203,1 milhões).
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