Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, aponta Censo 2022

Indígenas representam 0,8% dos habitantes, e população deste grupo é 88,8% maior que a contada em 2010, apesar da dificuldade de comparação

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Rio de Janeiro

O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, o equivalente a 0,83% da população total (203,1 milhões). A conclusão é do Censo Demográfico 2022, que teve novos dados divulgados nesta segunda-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número de indígenas referente a 2022 é 88,8% maior do que o contado no recenseamento anterior (896,9 mil), em 2010. Os dados, porém, não são totalmente comparáveis.

Indígenas participam de cerimônia na Terra Indígena Waimiri Atroari, em Presidente Figueiredo (AM), para discutir impactos do marco temporal - Lalo de Almeida - 1º.set.2022/Folhapress

Conforme o IBGE, não é possível afirmar que a população indígena quase dobrou em 12 anos apenas em razão de fatores demográficos. Parte dessa limitação está associada a uma mudança na metodologia dos questionários.

Além disso, o instituto também reconhece uma possível subenumeração na contagem de 2010, o que o órgão tentou evitar em 2022 por meio de um refinamento nas técnicas de abordagem aos indígenas.

"Você não pode atribuir o número a um crescimento exclusivamente demográfico", disse Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.

"Não é que nasceu muita gente indígena e morreu pouca. É uma variação com limites de comparabilidade", reforçou.

Segundo ela, o comportamento demográfico dos indígenas só poderá ser avaliado com maior precisão após a divulgação de dados complementares do Censo, incluindo os de idade, nascimentos e óbitos.

O número exato da população indígena, conforme o Censo 2022, foi de 1.693.535 pessoas. Trata-se de um contingente encontrado pelo IBGE tanto dentro quanto fora das localidades indígenas.

O levantamento divide as localidades indígenas em três categorias: terras indígenas oficialmente delimitadas, agrupamentos indígenas e outras localidades.

A forma usada no Censo para contar quem é indígena é a autodeclaração. Ou seja, quem se define dessa maneira dentro ou fora das localidades.

No Censo 2022, o IBGE fez a seguinte pergunta em todo o território brasileiro: "a sua cor ou raça é?". As opções de resposta eram branca, preta, amarela, parda ou indígena.

Se uma pessoa estivesse dentro de uma localidade indígena (terra, agrupamento ou outra localidade) e não se declarasse indígena no quesito cor ou raça, o recenseador abria uma segunda questão: "você se considera indígena?".

Em 2010, o IBGE também fez a primeira pergunta sobre cor ou raça em todo o território nacional, incluindo as possibilidades de resposta branca, preta, amarela, parda ou indígena.

A diferença é que, em 2010, a segunda questão –"você se considera indígena?"– só era aberta para brancos, pretos, amarelos e pardos se eles estivessem nas terras indígenas oficialmente delimitadas, e não em todas as localidades indígenas, como é o caso de 2022.

Segundo especialistas e representantes de entidades ouvidos pelo IBGE, esse fator pode ter gerado uma subenumeração na contagem anterior.

"Quando a gente muda a metodologia, e passa a abrir a segunda pergunta fora da terras, nas localidades mapeadas, a gente dá oportunidade a um número maior de pessoas indígenas de compreender melhor o quesito da autodeclaração. É uma das diferenças", disse Antunes.

Do total de indígenas no Brasil, 72,42% declararam cor ou raça indígena em 2022. A parcela restante, de 27,58%, relatou que se considerava indígena. Essa segunda porcentagem havia sido menor em 2010 (8,8%).

De acordo com Antunes, o IBGE também buscou aprimorar as técnicas de abordagem do Censo 2022 com o objetivo de minimizar as recusas.

O processo envolveu o apoio de guias comunitários, intérpretes e reuniões com lideranças indígenas para sensibilizar as localidades sobre a importância da contagem.

"Outra questão sobre a subenumeração que se colocou para o IBGE tinha a ver com as recusas pelo fato de a abordagem em 2010 não seguir a metodologia de procurar a liderança, de ter o apoio de guias, de forma padronizada", afirmou Antunes.

O Censo 2022 aponta que mais da metade da população indígena está localizada na Amazônia Legal. A região abrigava 867,9 mil indígenas, o equivalente a 51,2% do total no país (quase 1,7 milhão).

A Amazônia Legal é composta por 772 municípios de estados das regiões Norte, Nordeste (Maranhão) e Centro-Oeste (Mato Grosso).

Entre as grandes regiões do país, o destaque fica com o Norte. A população indígena local é a maior do país: quase 753,4 mil pessoas. Equivale a 44,48% do total.

O Nordeste vem em seguida, contabilizando 528,8 mil indígenas –ou 31,22% do total. Centro-Oeste (199,9 mil ou 11,8%), Sudeste (123,4 mil ou 7,28%) e Sul (88,1 mil ou 5,2%) completam a lista.

Amazonas e Bahia concentram 42,5% dos indígenas

No recorte por estados, o Amazonas tem a maior população indígena em termos absolutos: 490,9 mil pessoas. A Bahia, a segunda (229,1 mil).

Os dois estados, juntos, concentram 42,5% da população indígena brasileira. Sergipe (4.708) e Distrito Federal (5.813), por outro lado, têm os menores contingentes entre as unidades da federação.

Em termos proporcionais, o principal destaque vai para Roraima. Segundo o Censo 2022, 15,29% da população total do estado era indígena. Isso equivale a 97,3 mil pessoas em um universo de 636,3 mil.

No ranking proporcional, o Amazonas aparece em segundo (12,45%). O Rio de Janeiro teve o menor percentual de indígenas (0,11%), pouco abaixo de São Paulo (0,12%).

Indígenas estão em 4.832 municípios

O Censo 2022 localizou indígenas em 4.832 municípios brasileiros. O grupo aumentou na comparação com 2010, quando era de 4.480 cidades.

Manaus é o município com a maior população indígena em termos absolutos no Brasil. Em 2022, o recenseamento contabilizou 71,7 mil pessoas com essa característica na capital amazonense.

Outros dois municípios do mesmo estado aparecem na sequência. São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, mostrou a segunda maior população indígena do Brasil (48,3 mil). Tabatinga, a terceira (34,5 mil).

Indígenas são quase 97% da população em município de RR

Quando a análise é feita em termos proporcionais, há mudanças na lista. Uiramutã, em Roraima (a 314 km de Boa Vista), tem 96,6% de sua população formada por indígenas.

É o maior percentual entre os municípios brasileiros. De um total de 13,8 mil pessoas residentes em Uiramutã, 13,3 mil se autodeclararam indígenas.

Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, tem o segundo maior percentual: 96,17%. Outros dois municípios no Brasil, ambos amazonenses, também registraram proporções acima de 90%. São os casos de São Gabriel da Cachoeira, com 93,17%, e Amaturá, com 91,95%.

Terra Indígena Yanomami é a mais populosa

O Censo contabilizou 573 terras indígenas oficialmente delimitadas no país até 31 de julho de 2022. Essa é a data de referência da contagem populacional.

Segundo o recenseamento, menos da metade dos indígenas do país (36,73% ou 622,1 mil) vivia nas terras com algum tipo de delimitação formal.

A mais populosa é a Terra Indígena Yanomami, nos estados de Amazonas e Roraima. O IBGE contabilizou quase 27,2 mil indígenas nesse território, que amarga uma crise humanitária intensificada nos últimos anos.

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