Governo Tarcísio planeja internatos rurais para pessoas em situação de rua

Projeto anunciado como uma cooperação com a Unesco não tem respaldo da agência da ONU e é alvo de pedido de explicações de dois deputados

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São Paulo

O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) estuda a criação de escolas rurais em regime de internato para pessoas em situação de rua do interior paulista.

A proposta consta de edital lançado no início do mês pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo que anuncia uma comissão para a contratação de consultor técnico para "apoiar o planejamento do Projeto Escolas Rurais para moradores em situação de rua". O valor do contrato, de cinco meses, é de R$ 212 mil.

O projeto é tratado como inovador pela pasta liderada pelo empresário Renato Feder, que recentemente recuou de outra iniciativa apresentada como inovadora, mas questionada pelo Ministério Público de São Paulo.

Dois homens sentados no chão comem marmitas
Moradores de rua comem marmitas doadas por voluntários na praça da Sé, no centro de São Paulo - Zanone Fraissat - 1º.jan.2020/Folhapress

A secretaria havia anunciado que abriria mão de livros fornecidos pelo MEC (Ministério da Educação) para usar apenas material didático digital produzido em São Paulo. Depois de críticas e da abertura de um inquérito pela Promotoria, a gestão Tarcísio recuou da medida.

Segundo a Secretaria da Educação, a proposta de escolas rurais é parte do trabalho de desenvolvimento de "programas educacionais que possam auxiliar a população em situação de vulnerabilidade". E, para isso, teve início o processo de contratação de um consultor que vai estudar alternativas de acesso à educação para esta população.

A ideia é apresentada como parte de um projeto da Unesco, o braço das Organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura.

A agência da ONU tem um acordo de cooperação técnica com a secretaria paulista desde julho de 2019 para a realização de diagnósticos e a identificação e consolidação de boas práticas pedagógicas, curriculares e de gestão, entre outros temas do campo educacional.

Procurada, a representação da Unesco no Brasil afirmou que "não participa da implementação nem do planejamento do referido programa". Declarou que recebeu a solicitação de contratação de consultoria para diagnóstico e levantamento de dados sobre a situação educacional dessa população, mas ela "não foi viabilizada" porque "esse programa não está contemplado no projeto entre a Seduc-SP e a Unesco".

Na última semana, dois deputados estaduais registraram requerimentos à pasta de Renato Feder de informações sobre o projeto.

Para justificar seu pedido de explicações à secretaria, a deputada petista Professora Bebel argumentou que "políticas higienistas mostram a opção de determinados governantes por retirar das vistas da sociedade as evidências das desigualdades sociais" e relacionou a esta categoria de política a proposta de escolas rurais para pessoas em situação de rua.

Já o pedido do deputado Maurici (PT) pediu explicações sobre os motivos de os internatos serem implementados em área rural, e não urbana, onde está a maior parte da população de rua. O deputado também questionou qual seria a "justificativa jurídica para o descolamento e o confinamento compulsórios de cidadãos em instituições isoladas dos centros urbanos".

"Precisamos saber o que exatamente é esse projeto. Parece a criação de guetos, e não a busca de soluções para essa população", explica Maurici.

"Este governo tem se caracterizado por anunciar coisas e, depois, voltar atrás", diz ele, citando o caso do deslocamento da cracolândia para o Bom Retiro, anunciado por Tarcísio, e o abandono do livro didático digital. "Ou o governo não tem rumo, ou tem uma política deliberada de anunciar projetos para medir a reação da sociedade e, depois, se for o caso, recuar."

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