Descrição de chapéu Censo 2022 indígenas

IBGE melhorou contagem de população indígena no Censo 2022, diz especialista

Para demógrafo, ampliação da cobertura e aumento da autodeclaração explicam alta de 88,8%

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Rio de Janeiro

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador aposentado do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), avalia que o Censo Demográfico 2022 "contou melhor" a população indígena do que os recenseamentos anteriores.

Conforme as novas estatísticas divulgadas nesta segunda-feira (7), o número de indígenas no Brasil chegou a quase 1,7 milhão. O resultado equivale a 0,83% da população total do país.

O contingente chamou atenção por ser 88,8% maior do que o registrado no recenseamento anterior, de 2010. À época, o IBGE contabilizou 896,9 mil indígenas –ou 0,47% do total de pessoas residentes no país.

Indígenas se reúnem na Terra Indígena Cachoeira Seca, em Altamira, no Pará - Lalo de Almeida - 21.mar.2022/Folhapress

Na avaliação de Alves, uma das referências brasileiras na área de demografia, a ampliação da cobertura em localidades indígenas explica parte do aumento no Censo 2022.

Ao mesmo tempo, ele também vê reflexos de ações afirmativas que teriam estimulado a autodeclaração dessa parcela da população como indígena.

"Houve um esforço do IBGE para aumentar a cobertura. O instituto teve contato com associações indígenas, com organizações. O IBGE contou melhor a população indígena desta vez", diz.

"Além desse esforço, existe uma situação que não é só relativa a indígenas, mas também a pretos e pardos. Envolve ações de valorização desses povos, de diversidade. Juntando os dois fatores, a gente explica o aumento", completa.

De acordo com o pesquisador, ainda não é possível analisar o comportamento demográfico dos indígenas. A limitação está associada ao fato de o Censo 2022 ainda não ter divulgado detalhes como os números de nascimentos e mortes.

Censo 2022 teve mudança nos questionários

O IBGE investiga os indígenas sistematicamente desde o Censo 1991. O que mudou de lá para cá é parte da metodologia.

O recenseamento é realizado tanto dentro quanto fora das localidades indígenas. O levantamento divide essas áreas em três categorias: terras oficialmente delimitadas, agrupamentos e outras localidades.

No Censo 2022, o IBGE fez a seguinte pergunta em todo o território brasileiro: "a sua cor ou raça é?". As opções de resposta eram as seguintes: branca, preta, amarela, parda ou indígena.

Se uma pessoa estivesse dentro de uma localidade indígena (terra, agrupamento ou outra localidade) e não se declarasse indígena no quesito cor ou raça, o recenseador abria uma segunda questão: "você se considera indígena?".

Em 2010, o IBGE também fez a primeira pergunta sobre cor ou raça em todo o território nacional, incluindo as possibilidades de resposta branca, preta, amarela, parda ou indígena.

A diferença é que, em 2010, a segunda questão –"você se considera indígena?"– só era aberta para brancos, pretos, amarelos e pardos se eles estivessem nas terras indígenas oficialmente delimitadas, e não em todas as localidades indígenas, como é o caso de 2022.

Segundo especialistas e representantes de entidades ouvidos pelo IBGE, esse fator pode ter gerado uma subenumeração na contagem anterior. O instituto indicou que a mudança em 2022 veio a partir dessas avaliações.

"Não se trata de uma explosão do número de indígenas. Ele sempre esteve ali, só não havia sido descoberto", afirma Almires Martins Machado, 55, que em 2021 se tornou o primeiro professor indígena contratado por meio de um concurso para esse público na UFPA (Universidade Federal do Pará). Ele atua no ICJ (Instituto de Ciências Jurídicas).

Para construir sua trajetória na área acadêmica, Machado deixou sua aldeia no município de Dourados (a 230 de Campo Grande), em Mato Grosso do Sul.

Na visão do professor, o Censo 2022 trouxe um retrato mais completo dos indígenas, ampliando a coleta das informações junto a essa camada da população. Ele também vê efeitos do avanço da autodeclaração.

"O Censo facilita a não pensar nas políticas públicas apenas sob o ar-condicionado dos escritórios. Agora temos dados. Se trabalhássemos com os de 2010, teríamos praticamente só a metade da população indígena".

Machado disse esperar que a pesquisa seja usada para balizar ações em áreas como saúde, educação e segurança.

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