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As oportunidades e os desafios dos bônus demográficos com os novos números do Censo 2022

É mais fácil acompanhar a navegação de longo prazo da demografia do que da economia

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José Eustáquio Diniz Alves

Demógrafo e pesquisador aposentado do IBGE. Foi professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do instituto.

A demografia e a economia são dois campos profundamente relacionados. Mas enquanto a dinâmica econômica oscila e muda de direção velozmente, como nas manobras de um jet ski, a dinâmica demográfica está mais próxima da constância e da estabilidade observadas na rota de um transatlântico. É mais fácil e preciso acompanhar a navegação de longo prazo da demografia do que da economia.

Nesse sentido, a queda do ritmo de crescimento da população não representa qualquer surpresa para os demógrafos. Mas o número de 203 milhões de brasileiros, indicado pelo Censo 2022, trouxe um certo espanto e os cientistas sociais do país terão que se debruçar sobre os novos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para compreender a precisão e a assertividade dos dados.

Recenseadores do IBGE trabalham na região de Moema, em São Paulo - Ronny Santos - 15.abr.2023/Folhapress

Indubitavelmente, os números absolutos são importantes, mas, havendo imprecisões, eles podem ser corrigidos por modelagem estatística ou por outras informações provenientes de registros administrativos. Em breve, poderemos avaliar os números relativos e os dados do Censo 2022 servirão para atualizar a amostra das demais pesquisas domiciliares do IBGE. Mas cabe alertar que seria simplismo considerar que o total populacional do Censo signifique que o Brasil terá uma renda per capita maior e uma taxa de desemprego menor. A conta é mais complexa.

O que é líquido e certo é a continuidade da transição demográfica –redução das taxas de mortalidade e natalidade– e a mudança da estrutura etária brasileira. Esses fenômenos criam oportunidades e desafios.

A primeira grande oportunidade é a redução do percentual de crianças e jovens, que traz benefícios inquestionáveis. Famílias menores permitem que os pais troquem o investimento na quantidade para o investimento na saúde e educação dos filhos, aumentando o gasto per capita por criança. Jovens mais saudáveis e mais escolarizados possuem maiores direitos de cidadania e contribuem para as famílias e para o país.

A segunda grande oportunidade é a troca da oferta ilimitada de mão de obra pelo bônus demográfico. A janela de oportunidade criada pela transição da estrutura etária aumenta a oferta de trabalho de forma temporária. Assim o país tem um período específico para dar um grande salto no desenvolvimento econômico e social.

Os dados do Censo 2022 mostram que o fim do primeiro bônus está mais próximo, mas o país ainda tem um grande desemprego aberto, uma grande quantidade de pessoas subocupadas e um imenso contingente de trabalhadores na informalidade. Portanto, o desafio não é aumentar a população, mas colocar em prática o Pleno Emprego e o Trabalho Decente, famosa e urgente bandeira da OIT.

Por outro lado, o grande desafio advém do processo de envelhecimento populacional, que é uma consequência inevitável da transição demográfica. A percentagem de pessoas com 60 anos e mais de idade vai ultrapassar 40% da população total nas últimas décadas do século 21. Haverá menos pessoas em idade considerada de trabalhar e mais pessoas em idade de se aposentar. Este processo é inevitável e universal.

A solução para este desafio está no segundo bônus demográfico (bônus da produtividade) e no terceiro bônus demográfico (bônus da longevidade). A redução do volume de trabalhadores pode ser compensada por trabalhadores mais produtivos que produzem mais com menos. O aumento do volume de idosos pode ser benéfico se contarmos com o envelhecimento saudável e ativo, pois o grande contingente de pessoas da terceira idade deve ser encarado como um ativo, e não com um passivo.

Os primeiros dados do Censo demográfico de 2022 já estão dando muito o que falar. Mas o grosso das informações ainda será divulgado nos próximos meses. O Brasil teve um Censo muito atribulado. O IBGE fez o melhor possível diante das circunstâncias e é com este Censo que conheceremos o perfil demográfico, social e econômico do país. Políticas públicas mais eficientes e decisões eficazes de investimento da iniciativa privada dependem de uma boa análise dos dados do recém-finalizado recenseamento brasileiro.

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