Descrição de chapéu Obituário Ari Cândido Fernandes (1951 - 2023)

Mortes: Foi correspondente de guerra e fez carreira no cinema

Ari Cândido Fernandes também lutou contra a ditadura e foi ativo no movimento negro

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São Paulo

Ari Cândido Fernandes foi um dos expoentes do movimento negro e deixou seu nome marcado nas artes, em especial no cinema e na fotografia. Nascido em Londrina (PR) em 25 de julho de 1951, era filho do comerciante João Cândido Fernandes e da doméstica Maria do Carmo de Jesus Fernandes.

Foi arrebatado pelo cinema ainda na adolescência, por meio do cineclubismo, onde assistia, discutia e analisava as produções. Levava filmes para serem projetados nos centros acadêmicos de Londrina e assim começou sua militância política.

Mudou-se para Brasília e começou a estudar cinema na UnB (Universidade de Brasília). Exibia filmes, distribuía panfletos e militava pelos ideais do Partido Comunista Brasileiro. Tornou-se uma pessoa visada pelos militares e foi salvo por um amigo, que o escondeu em Ouro Preto (MG) até que pudesse sair do Brasil.

Ari Cândido Fernandes (1951 - 2023)
Ari Cândido Fernandes (1951 - 2023) - Arquivo Pessoal

Foi, então, para o autoexílio na Suécia, onde conheceu integrantes dos Panteras Negras. Mudou-se para Paris em 1975 e formou-se em cinema pela Sorbonne Nouvelle.

Na capital francesa, fez seu primeiro filme, o curta "Martinho da Vila, Paris 1977", em que registrou o olhar do cantor Martinho da Vila naquela cidade. "Por que a Eritreia?" (1979), "O Rito de Ismael Ivo" (2003), "O Moleque" (2005), "Pacaembu — Terras Alagadas" (2006) e "Jardim Beleléu" (2009) estão entre os seus curtas premiados.

Como fotojornalista, cobriu a guerra civil na Eritreia, na fronteira com Sudão e Etiópia, e conflitos armados no Irã e no antigo Saara Espanhol, atual Saara Ocidental.

Em 1980, voltou ao Brasil e radicou-se em São Paulo. Deu aulas em diversas universidades e foi um dos membros destacados do MNU (Movimento Negro Unificado).

"Apesar de ter sofrido um apagamento pelo racismo do nosso país, a gente conseguiu homenageá-lo de forma singela em algumas ocasiões recentemente. Ele se manteve ativo e atuante até o fim", diz José Adão Oliveira, um dos fundadores do MNU.

Para Oliveira, a generosidade era um traço marcante de Fernandes.

"Era um cara que tinha um olhar diferenciado, um comprometimento com a arte e um afeto muito grande pelas pessoas. Se fazia presente, partilhava o que tinha e era muito humilde", conta.

"Ele fazia documentários que ajudavam a dar visibilidade para várias pessoas negras. Participou do MNU e usou sua experiência para oportunizar vários artistas, editais, no período em que foi assessor da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, na redemocratização", conta.

Fernandes morreu no último dia 19 de agosto, em São Paulo, após falência de múltiplos órgãos. Deixou um filho, uma irmã e uma sobrinha, além de amigos e admiradores.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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