Saiba quem são os suspeitos de envolvimento na morte de Marielle Franco

Ao longo de cinco anos, investigações já apontaram para participação de policias militares e contraventores

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Rio de Janeiro

O desdobramentos recentes das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes jogaram luz a novos personagens envolvidos na trama —que vão desde policiais a contraventores.

Marielle e Anderson foram mortos a tiros em 14 de março de 2018 no Estácio, centro do Rio, após o carro em que estavam ser alvejado. Um ano após o crime, o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz foram presos. O primeiro foi acusado de ser o autor dos disparos, enquanto o segundo, de dirigir o veículo usado no assassinato.

Na imagem, um menino e uma menina aparecem de costas colocando flores ao pé da estátua de Marielle Franco
Crianças prestam homenagem à vereadora Marielle Franco, morta em 14 de março de 2018. Jovens colocam flores em estátua da parlamentar, no centro do Rio - Eduardo Anizelli/Folhapress

Cinco anos depois das mortes, o caso teve uma reviravolta com o acordo de colaboração de Élcio e a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, suspeito de ter planejado o assassinato da vereadora.

Desde o início das investigações, as autoridades já apontaram diversos suspeitos de envolvimento no crime. Entre eles, contraventores como Bernardo Bello e Rogério Andrade. Veja quem são.

Ronnie Lessa

Na época do crime, Ronnie era sargento reformado da Polícia Militar. Ele só foi expulso da corporação em fevereiro deste ano, após quase quatro anos preso e duas condenações na Justiça —uma por tráfico internacional de armas e outra por ocultação e destruição de provas na investigação da morte da vereadora.

O policial reformado deixou a ativa da corporação após ser alvo de um atentado a bomba que lhe custou uma das pernas, em 2009. Antes de ser aposentado por invalidez, Ronnie fez parte do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do 9º BPM, que abrange bairros da zona norte do Rio, Oswaldo Cruz. Ele também foi adido da Polícia Civil na Drae (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos).

Após sua aposentadoria, Ronnie passou a ser apontado como integrante de uma quadrilha de matadores de aluguel. Segundo investigações do Ministério Público, o ex-sargento também fazia parte da milícia de Oswaldo Cruz e teria relação com o jogo do bicho, com pontos na região do Quebra-Mar da Barra da Tijuca, na zona oeste.

Élcio de Queiroz

Élcio foi expulso da corporação em 2016 após ser acusado de envolvimento com o tráfico de drogas, milícias e exploração de jogos ilegais. Por esse mesmo motivo, ele já havia sido preso em 2011.

De acordo com as investigações da época, Élcio fazia parte de um esquema envolvendo policiais civis e militares que vazavam operações para criminosos. Na época, ele era lotado no 16ºBPM, batalhão responsável por Olaria, Vigário Geral, Cordovil e outros bairros da zona norte.

Élcio e Ronnie são amigos há 30 anos. Eles foram do Batalhão de Choque na mesma época, embora não fossem da mesma equipe. O policial reformado, acusado de ser o atirador na morte de Marielle, é padrinho do filho do ex-PM.

Maxwell Simões Corrêa

Preso em 24 de julho, o ex-bombeiro é suspeito de ter participado do planejamento do assassinato da vereadora e de ter atuado para esconder as provas do crime. De acordo com a delação de Élcio, Maxwell, conhecido como Suel, fez campanas para vigiar a movimentação de Marielle. Ele também teria participado, de acordo com o ex-PM, da primeira tentativa de matar a parlamentar, no final de 2017.

Maxwell foi expulso do Corpo de Bombeiros do Rio em maio de 2022. Na ocasião, ele já estava preso por ter sido condenado por atrapalhar as investigações sobre a morte de Marielle —sua prisão foi convertida em domiciliar pela Justiça do Rio em janeiro.

Em 2022, Maxwell teve uma nova ordem de prisão emitida contra ele por suspeita de envolvimento com o grupo do contraventor Rogério Andrade. Além disso, o ex-bombeiro é suspeito de, junto com Ronnie, comandar um esquema de exploração de ligações ilegais de internet e TV a cabo na região do morro Jorge Turco, em Coelho Neto, zona norte.

Edimilson da Silva de Oliveira

Na delação de Élcio, Edmilson, conhecido como Macalé, é apontado como quem teria chamado Ronnie para matar Marielle. Ele era policial militar reformado e foi morto a tiros em novembro de 2021, caso que é visto como uma possível execução.

Macalé foi citado na CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio, que investigou a atuação de grupos criminosos do tipo no estado, em 2008. Segundo o relatório final da comissão, ele fazia parte da milícia de Oswaldo Cruz, que, segundo o documento, tinha influência política do então deputado estadual Domingos Brazão —hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio.

O policial reformado também já foi apontado como segurança do bicheiro Bernardo Bello. Macalé também já foi investigado por dois homicídios, um em 2002 e outro em 2012. O primeiro, o inquérito foi arquivado, enquanto no segundo o PM foi absolvido da acusação.

Bernardo Bello

Ex-presidente da Unidos de Vila Isabel, Bello já fez parte da família Garcia, do contraventor Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004. No entanto, rompeu com o clã e travou uma disputa interna para assumir os pontos de jogo do bicho da família.

Ex-genro de Maninho, Bello é suspeito de ter mandado matar o irmão do patriarca da família, Alcebíades Paes Garcia, o Bid, em 2020. Ele também acusado da tentativa de assassinato de Shanna Haurroche Garcia, sua ex-cunhada.

Segundo Élcio, em sua delação, Bello foi quem deu o celular usado por Ronnie no momento do assassinato de Marielle. O bicheiro também teria se encontrado com o policial reformado, Maxwell e Macalé em algumas ocasiões antes do crime, segundo o delator.

Bello está foragido desde o ano passado e responde também a acusação de ter mandado matar um advogado em Niterói, em maio de 2022.

José Carlos Roque Barboza

Apontado como chefe da segurança de Bello, José Carlos Roque Barboza, segundo a delação de Élcio, teria fornecido o carro usado para matar Marielle. Ele também teria intermediado os primeiros encontros de Ronnie com o bicheiro.

Roque é policial militar reformado e é suspeito de estar envolvido, junto com Bello, na tentativa de homicídio contra Shanna Garcia. O PM e o bicheiro também já foram sócios um do outro na empresa de segurança Os Barboza’s Vigilância e Segurança Ltda —os dois dividem o mesmo sobrenome.

A empresa foi encerrada voluntariamente em dezembro de 2019, meses depois de ter sido aberta, em maio. O capital social dela era de R$ 350 mil. Roque também foi sócio da empresa Fawkes Segurança Privada, cujo nome na época também era Barboza Vigilância e Segurança.

Em nota, a Fawkes informou que os atuais sócios da empresa compraram todas as aliquotas dos antigos proprietários e não possuem qualquer vínculo com Roque.

Rogério Andrade

O Ministério Público do Rio já apontou, em maio de 2022, que uma das linhas de investigação é de que o bicheiro Rogério Andrade pode ter sido o mandante da morte de Marielle. Segundo promotores, essa suspeita se dá pela relação entre o contraventor e Ronnie. Os dois são suspeitos de tentar expandir os pontos de jogo do bicho pela Barra da Tijuca.

Rogério é sobrinho de Castor de Andrade, um dos bicheiros mais notórios da história do Rio e que morreu de ataque cardíaco em 1997. Ele herdou os pontos do tio após travar uma disputa com os primos, Paulinho Andrade e Fernando Iggnácio, ambos assassinados em 1998 e 2020, respectivamente. Segundo o Ministério Público, Rogério é suspeito pela morte de ambos. Ele, porém, chegou a ser julgado pelo homicídio de Paulinho, mas foi absolvido.

Hoje, o bicheiro está preso em prisão domiciliar no âmbito da operação em que Ronnie e Maxwell também foram alvos. Segundo a investigação, Rogério aparecer como chefe da organização criminosa que mantém seu domínio na exploração de jogos do azar através de corrupção, lavagem de dinheiro e homicídios.

Rogério e Bello são rivais e disputam espaço para a expansão das áreas que controlam.

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