Sensação de impunidade, dizem alunos da Unisa após reintegração de expulsos

Justiça Federal determinou retorno de estudantes flagrados em vídeo; universitários também apontam dano à imagem da instituição

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São Paulo

Após a decisão da Justiça Federal, 15 alunos do curso de medicina, que haviam sido expulsos da Unisa (Universidade Santo Amaro) por atos obscenos durante jogos universitários, foram readmitidos.

Os estudantes apareceram em vídeo correndo nus pela quadra durante uma partida feminina de vôlei contra o Centro Universitário São Camilo. O episódio ocorreu em abril, em São Carlos, interior de São Paulo, mas viralizou nas últimas semanas nas redes sociais.

A Folha tentou contato com estudantes por meio de três advogados, porém nenhum concordou em conceder entrevista. De forma geral, a defesa deles sustenta que eles foram obrigados a tirar a roupa no contexto de uma série de imposições e trotes praticados por veteranos contra calouros.

Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa), em São Paulo, causaram revolta nas redes sociais neste domingo após terem sido flagrados fazendo uma “masturbação coletiva”. O episódio ocorreu durante uma partida de vôlei feminino que fazia parte da Intermed, competição esportiva entre universidades realizada de 2 a 9 deste mês.
Alunos do curso de medicina da Unisa nus durante a competição em São Carlos (SP), em abril - @ale_campelo no X

Após recurso dos estudantes, a 6ª Vara da Justiça Federal entendeu que a expulsão violou o direito a ampla defesa e do contraditório, pois ocorreu sem que os envolvidos fossem ouvidos.

No dia seguinte à decisão, nos arredores da universidade, estudantes outros cursos afirmam que o retorno dos jovens passa uma sensação de impunidade e lamentaram a decisão judicial.

Jenifer Nascimento, 20, estuda odontologia e afirma que quando soube da expulsão dos estudantes se sentiu um pouco aliviada. "Agora com a decisão de eles retornarem, sinto que não adiantou nada", diz.

Uma amiga dela, que pediu para não se identificada, afirma que a sensação é de "impotência" e vê proteção aos alunos de medicina. Segundo ela, se o episódio tivesse ocorrido no curso dela, não teria havido retorno.

As amigas afirmam ainda que a universidade prioriza o curso de medicina em relação aos outros cursos devido o valor da mensalidade, que é superior a R$ 10 mil.

Outros alunos ouvidos pela Folha na semana passada também relataram que o curso de medicina é favorecido dentro do campus da Unisa e reclamaram que a graduação é a que tem as salas de aula mais bem equipadas, além de prioridade em relação a vagas no estacionamento.

Para Isabella Tindou, 18, que está no segundo semestre de odontologia, a imagem da universidade pode ser prejudicada após a polêmica e isso pode ser refletido nos próximos vestibulares.

"Acho que as pessoas vão ficar com medo de entrar aqui e vão achar que esse tipo de comportamento acontece toda hora", diz ela, que relata que o pai dela não está se sentindo confortável em deixá-la participar de uma festa que deve acontecer nas próximas semanas para recepcionar os calouros da universidade.

Sua colega Emislainy Gomes, 21, que estuda biomedicina, afirma que o retorno pode dar brecha para que esse tipo de atitude aconteça novamente. "Se aconteceu uma vez e passaram pano, isso pode vir acontecer novamente", diz.

Erick Ramos Oliveira, 21, está no terceiro ano do curso de publicidade. Apesar de manter pouco contato com os alunos da medicina, ele afirma que a faculdade é referência em cursos ligados à área da saúde.

Ele, que também concorda que a imagem da universidade pode ser afetada após este episódio, questiona como esses alunos vão se comportar no futuro. "São pessoas que vão trabalhar com a integridade física de pacientes. Se durante a faculdade agem desta forma, imagina quando forem exercer a profissão", diz.

Ao anunciar a expulsão dos alunos, a Unisa disse repudiar os atos e que aplicou a sanção mais severa prevista em seu regimento. "Considerando ainda a gravidade dos atos, a Unisa já levou o caso às autoridades públicas, contribuindo prontamente com as demais investigações e providências cabíveis", diz o texto assinado pelo reitor Eloi Francisco Rosa.

A Unisa definiu a atitude do grupo de alunos como "ato execrável" e destacou que os atos ocorreram fora de suas dependências.

Nesta terça (27), após a decisão, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, que representa a instituição, afirma que a faculdade tem feito um grande trabalho para evitar os trotes entre veteranos e calouros.

"[Há] problemas sérios. Não podemos negar. Precisamos fazer um grande pacto pelo fim dos trotes. A Unisa vai pautar este debate", disse Carvalho.

Em sua opinião, a Unisa tem feito um grande trabalho para evitar o clima de hostilidade, com o programa de Tolerância Zero contra o trote. "[Há] campanhas em todas as unidades. Com calouros, veteranos e família. Temos que enfrentar", afirma ele.

O advogado afirma que os recentes episódios devem reforçar as campanhas de trotes dessa natureza, que já existem desde 2017. "Estamos realizando diversas campanhas contra esses trotes que são discriminatórios, violentos, indignos, indesejáveis, reprováveis e tudo. Vamos fortalecer essas campanhas e vamos liderar o pacto nacional contra o trote violento."

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