Descrição de chapéu Todas violência

Mulher de Delegado Da Cunha registra queixa e diz ter sido agredida por ele até desmaiar

OUTRO LADO: Delegado ainda não se manifestou sobre acusações de Betina Grusiecki; em caso anterior com ex-mulher, policial negou violência doméstica

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São Paulo

"Vou encher de tiros sua cabeça. Vou te matar e matar sua mãe."

Foi com essas palavras que, segundo a nutricionista Betina Raísa Grusiecki Marques, 28, terminou a violência doméstica sofrida por ela no último sábado (14) que incluiu, além das ameaças de morte e de xingamentos, agressões físicas que a levaram a perder a consciência e a desmaiar.

O agressor, conforme boletim registrado na Polícia Civil de São Paulo, é o companheiro com quem ela vive há três anos, o deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), conhecido como Delegado Da Cunha, uma das celebridades da polícia nas redes sociais com mais de 3,6 milhões de seguidores.

De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), o caso foi registrado como lesão corporal, injúria, ameaça e violência doméstica.

Esta é segunda vez que o delegado é suspeito de violência doméstica. Em 2016, a então mulher do policial também registrou boletim de ocorrência relatando ameaças (leia mais abaixo).

O deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), conhecido como Delegado da Cunha, cuja mulher registrou boletim de ocorrência contra ele por violência doméstica - Reprodução Youtube/Da Cunha

Procurado desde a manhã desta terça (17) para comentar a nova suspeita de violência contra uma companheira, o policial não respondeu as mensagens enviadas no celular e em três endereços de email.

A reportagem também tentou contato por celular e email com a vítima, mas não obteve resposta.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado por Betina na Delegacia da Mulher de Santos, Da Cunha, que completava 46 anos no último sábado, consumiu bebida alcoólica e passou a discutir e atacá-la com xingamentos, dizendo que ela era uma "putinha, não serve para nada, lixo".

Em meio às agressões verbais, o policial teria passado a bater a cabeça de Betina contra a parede e apertado o pescoço dela com força, a ponto de fazê-la desmaiar. "Ao reacordar [sic], ele veio novamente em sua direção e a vítima jogou um secador de cabelo na cabeça dele. Neste interregno, ele bateu sua cabeça novamente na parede", diz trecho do documento ao qual a Folha teve acesso.

Foi nessa sequência que Da Cunha teria ameaçado Betina e a mãe dela de morte. Ainda segundo o registro oficial, o policial também teria quebrado os óculos dela e, por fim, atirado cloro em todas as roupas da mulher, para estragar os tecidos.

Na última segunda (16), segundo o registro, o delegado Da Cunha também foi ouvido pela polícia, quando apresentou a versão dele em "termo próprio". "O declarante deseja registrar que tem ciência da decisão que deferiu as medidas protetivas de urgência, e que, com o fim de evitar novos conflitos, se mudou definitivamente para São Paulo, e que está disposto a ressarcir eventuais danos materiais causados, com relação a artigos de vestuário de Betina", diz trecho do documento policial.

O delegado, que responde a pelo menos dois processos demissórios sob acusação de xingar colegas e forjar prisões, teve devolvidos a arma e os distintivos em julho passado pela cúpula da Polícia Civil. Na ocasião, ele agradeceu o delegado-geral Artur Dian, o secretário da Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) pela decisão.

Em dezembro de 2016, a advogada Camila Rezende da Cunha também procurou a polícia para tentar, segundo ela, colocar fim a um histórico de violência doméstica. A decisão foi tomada, ela diz, após o marido ameaçá-la em um restaurante, na frente do filho que à época tinha três anos.

"Olha bem no meu olho. Se você pedir para eu falar baixo mais uma vez eu vou dar um tiro no meio da sua testa", teria dito ele, conforme registrado na policia.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado por Camila, aquela não teria sido a primeira vez que era ameaçada por ele, e por isso ela solicitava medidas protetivas urgentes. Ainda segundo o documento, ela disse temer por sua integridade física porque o marido teria feito novas ameaças durante a madrugada.

Procurada pela Folha em 2021, Camila negou que tivesse sofrido violência física ou psicológica do hoje ex-marido e disse que se arrependia de ter registrado o boletim de ocorrência contra ele. Da Cunha também negou à época que tivesse praticado violência contra a ex-mulher.

De acordo com um processo judicial que tramitou em São Paulo, porém, no dia 11 de setembro de 2014, moradores do bairro de Aparecida, em Santos, presenciaram Da Cunha agredindo Camila no meio da rua e, na briga, o viram disparar uma arma de fogo.

Delegado Da Cunha mostra a arma
O delegado da Polícia Civil de SP, Carlos Alberto da Cunha, comemora nas redes sociais a recuperação da arma - Reprodução

Uma das testemunhas, moradora do bairro, disse ter ouvido gritos pouco depois das 23h e resolveu olhar pela janela. Conforme ela testemunhou, Da Cunha agredia a vítima "com vários socos, sem a mulher reagir". Durante as agressões, ainda segundo a testemunha, o agressor xingava a mulher de vagabunda, puta e prostituta. "Entra no carro que vou te matar", teria dito o policial.

Outra testemunha disse à Justiça ter presenciado Da Cunha dar socos em Camila. Segundo seu relato, ouviu um disparo de arma de fogo ao se afastar do local.

Policiais foram acionados para atender a ocorrência, e Da Cunha foi detido e encaminhado à Corregedoria. Teve a arma e o veículo apreendidos e respondeu a processo judicial pelo disparo de arma de fogo em via pública. Ele alegou que o disparo foi acidental, que teria ocorrido quando bateu a arma sobre o teto do carro na discussão com Camila. O argumento prevaleceu na Justiça, e o delegado foi absolvido.

Questionada sobre a possibilidade de rever a decisão que devolveu a arma a Da Cunha, a SSP respondeu que apenas a Justiça pode deliberar sobre a questão.

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