Presidente da Enel deixa comando da empresa em meio a crise de apagão

Saída ocorre 20 dias após temporal que deixou milhões de clientes sem luz, mas estava definida desde outubro

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São Paulo

O presidente da concessionária de energia Enel, Nicola Cotugno, deixará a empresa. Ele estava à frente do braço nacional da companhia desde 2018. A informação foi publicada pela CNN Brasil nesta quinta-feira (23) e confirmada pela Folha.

A troca de comando ocorre 20 dias após um temporal que deixou 2,1 milhões de clientes da empresa, em 24 cidades da região metropolitana de São Paulo, sem energia —parte deles até por uma semana. Diante dos problemas, o prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), chegou a pedir o cancelamento do contrato com a Enel.

O presidente da Enel Nicola Cotugno, que deixou o cargo nesta quinta-feira (23)
O presidente da Enel Nicola Cotugno, que deixou o cargo nesta quinta-feira (23) - Mathilde Missioneiro 24.jan.20/Folhapress

A decisão, porém, é anterior. A reportagem teve acesso à ata de uma reunião da empresa do dia 26 de outubro deste ano. Na ocasião, Cotugno informou aos conselheiros que estava se desligando do grupo e que iria se aposentar.

"Para apoiar o processo de substituição e as recentes contingências, o executivo prorrogou a sua saída para 22 de novembro", diz a empresa por meio de nota. O novo presidente será Antonio Scala. Enquanto acontecem os trâmites administrativos necessários para sua nomeação, o presidente do Conselho de Administração, Guilherme Gomes Lencastre, assumirá a posição de forma interina.

"A Enel Brasil agradece a Nicola Cotugno por toda dedicação ao Grupo e seus colaboradores, além do destacado foco nos clientes e contribuição à sociedade", diz a concessionária.

Em entrevista à Folha após o apagão no início de novembro, Cotugno rebateu as críticas à demora da companhia na religação da energia argumentando que houve um evento extraordinário.

"Não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo", afirma. Ele diz que a resposta à emergência foi dificultada pela enorme quantidade de árvores que caiu, forçando a empresa a trocar postes e reconstituir quilômetros de rede.

Após a queda de energia do feriado de Finados, São Paulo voltou a registrar falta de energia no dia 15 de novembro e cerca 290 mil residência ficaram sem energia. Nesta ocasião, Cotugno voltou a comentar sobre o apagão de São Paulo, disse que foi mal interpretado e pediu desculpas.

"Não era a mensagem que eu queria passar. Eu, pessoalmente, e a empresa, fortemente, pedimos desculpas. Não usando vento, árvores como desculpas", disse Cotugno.

Procurado para comentar a troca, o prefeito Ricardo Nunes afastou a correlação entre a saída de Nicolas Cotugno e os apagões com as chuvas no começo de novembro.

"O evento aconteceu no dia 3 de novembro, no dia 4 eu estava na Enel e, naquele momento, o Nicola já me falou: 'Ricardo estou saindo e quero apresentar o novo presidente. [Ele disse] estou saindo porque estou indo para o setor privado, e não tem nenhuma relação com o evento do dia 3'. Já estava decidido, tinha até o substituto", afirmou Nunes.

Empresa dobrou lucro e reduziu funcionários

Como a Folha mostrou, a italiana Enel assumiu a concessão da distribuição de eletricidade na região metropolitana de São Paulo em 2018. Desde 2019, primeiro ano completo de operações, dobrou o lucro e reduziu em 35% o número de colaboradores.

No Brasil, a Enel lidera o ranking das maiores distribuidoras de energia, com concessões em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Ceará.

A líder no segmento de distribuição de eletricidade do país ocupa posições ruins no ranking de qualidade do atendimento elaborado anualmente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Em 2022, a Enel São Paulo ficou na 19ª colocação entre as 29 distribuidoras de energia com mais de 400 mil consumidores no país. A Enel Rio de Janeiro e a Enel Ceará dividiram a 23ª colocação com a Cemig.

A distribuidora paulista, porém, tem mostrado evolução nos indicadores de frequência e duração de interrupções desde 2019. Em nota, a empresa destacou que investiu R$ 6,7 bilhões entre 2018 e 2022, maior marca da história da empresa.

A média de mais de R$ 1,3 bilhão por ano é superior aos cerca de R$ 800 mil investidos anualmente nos cinco anos antes da compra da distribuidora, diz a companhia.

Cotugno deixa a concessionária em meio a duas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito), uma na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e na Câmara Municipal da capital.

A da Alesp foi instaurada em maio deste ano e, no dia 16, colheu depoimento do executivo. Ele pediu desculpas e disse que foi mal interpretado em sua entrevista à Folha. Também tentou explicar sobre a redução de funcionários desde quando assumiu a concessão da distribuição de eletricidade na região metropolitana de São Paulo em 2018.

"O volume da força de trabalho [nas ruas] não se reduziu, houve um equilíbrio entre interno e externo. Não é uma força de trabalho menor. No mesmo período, a gente investiu em tecnologia para obter resultado melhor", afirmou o então presidente da empresa no dia.

Durante o depoimento de Cotugno, a Alesp sofreu com, pelo menos, duas quedas de energia com duração de poucos segundos.

Além das CPIs, a empresa é alvo de ações na Justiça. No dia 10, a juíza Laís Helena Bresser Lang, da 2ª Vara da Fazenda Pública, acatou um pedido da prefeitura e mandou a Enel apresentar dentro de cinco dias um plano de contingência para o fornecimento de energia elétrica na capital, além de medidas para evitar problemas em dias de chuva.

Nesta semana, o executivo havia sido convidado a participar de debate na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados sobre a interrupção no fornecimento de energia em São Paulo, mas alegou outro compromisso para não comparecer. O convite foi realizado no dia 11.

Quem é o novo presidente

O novo presidente, Antonio Scala, entrou na Enel em 2009 e trabalhou em diversas áreas, no início na Itália, e depois na América do Sul.

Formado em Administração de Empresas em 2002 em Roma, Scala atuou como Sócio Júnior na McKinsey & Company com foco nas áreas de energia, gás e finanças corporativas.

Desde outubro de 2020, ele é responsável pela Enel Green Power na América do Sul.

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