Mina da Braskem desaba em Maceió

Problema foi localizado e não representa risco para a população, afirma prefeito; região já tinha sido evacuada

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Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo

A mina de número 18 da Braskem, em Maceió, sofreu um rompimento neste domingo (10), informou a prefeitura da cidade. Ainda não há detalhes sobre a dimensão dos danos.

A Defesa Civil Estadual confirmou que o local sofreu um desabamento.


O momento do rompimento


A área do rompimento foi sob a lagoa Mundaú, que tende a ficar altamente salinizada, com prejuízos para a fauna e a flora do local. O prefeito João Henrique Caldas (PL) disse, no início da noite, que o colapso na mina foi localizado e não representa risco para a população.

O teto da mina sofreu um rompimento por volta das 13h15, após semanas sob monitoramento após abalos sísmicos. A área afetada, no bairro do Mutange, já havia sido desocupada e, portanto, não houve vítimas.

"O rompimento foi concentrado, foi local", disse o prefeito em entrevista no início da noite. "As pessoas que estão em outras áreas [da cidade] podem ficar tranquilas."

Imagem divulgada pelo prefeito mostra o momento em que o rompimento ocorreu, causando grande movimentação no espelho d'água da lagoa. "A Defesa Civil de Maceió ressalta que a mina e todo o seu entorno estão desocupados e não há qualquer risco para as pessoas", disse ele, em uma rede social.

Momento do colapso na lagoa Mundaú, no bairro do Mutange
Momento do colapso na lagoa Mundaú, no bairro do Mutange; a prefeitura está avaliando os danos provocados pelo desabamento - Divulgação/ Defesa Civil

"A mina tem mais ou menos o tamanho de um campo de futebol. Essa seria a área atingida por esse rompimento", afirmou. O problema ocorreu em uma área submersa na lagoa do Mundaú. "Tem que ver como essa mina foi preenchida, foi ocupada e só depois vai ser possível ver como esse fenômeno se estabiliza", completou. A análise dos danos ambientais sobre a lagoa, disse, vai demandar estudos.

Na noite deste domingo, o prefeito se reuniria com representantes do governo do estado para debater o assunto. Em rede social, o governador Paulo Dantas (MDB) disse que "o evento aconteceu exatamente na área determinada, identificada pelos técnicos".

"Vamos acionar imediatamente a Braskem", afirmou. "Nós não vamos permitir, vamos estar juntos, unidos, para que a Braskem pague todo o seu passivo com o povo de Maceió e com o povo de Alagoas."

Em nota, a empresa afirmou que câmeras que monitoram o entorno da cavidade 18 registraram às 13h15 movimento atípico de água na lagoa, no trecho sobre esta cavidade. Movimento semelhante ocorreu por volta das 13h45.

"O sistema de monitoramento de solo captou a movimentação por meio de DGPS [aparelhos de alta precisão para detectar movimentações do solo]. As autoridades foram imediatamente comunicadas, e a Braskem segue colaborando com elas", diz o texto.

A situação tem ligação com o afundamento do solo que atinge cinco bairros da capital de Alagoas. O monitoramento da mina foi ampliado após cinco abalos sentidos no mês de novembro.

"Estamos monitorando minuto a minuto com os órgãos responsáveis os efeitos do colapso da mina 18, em Maceió. Já cobramos medidas técnicas eficazes, ações sociais e reparações financeiras para que Maceió e o povo atingido não sejam ainda mais prejudicados. Continuaremos em atenção", disse Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados

Em nota publicada na quinta (7), as coordenações municipal, estadual e nacional de Defesa Civil, apontaram que a área com risco de colapso teria diâmetro de 78 metros, três vezes o raio da mina 18 e similar ao comprimento de uma piscina olímpica e meia.

A área era usada pela Braskem para produzir sal-gema, mas as operações foram interrompidas em 2019, após os primeiros sinais de afundamento do solo. Desde então, a empresa vem trabalhando para preencher as cavidades de 35 minas no local.

A velocidade de afundamento da mina 18 se acelerou neste sábado, chegando a 0,54 cm por hora, apresentando um movimento de 13 cm em 24h, segundo boletim emitido pela Defesa Civil. O rebaixamento da cavidade de onde era extraído sal- gema já acumula 2,24 m.

O município está em estado de emergência por 180 dias desde o dia 29 de novembro, conforme determinação do prefeito.

'A novela terminou', diz primeiro a alertar sobre risco

Abel Galindo, professor de engenharia civil na UFAL (Universidade Federal de Alagoas), foi o primeiro profissional a alertar sobre a possibilidade de desabamento de uma das minas escavadas pela Braskem para extrair sal-gema em Maceió. Falava do assunto desde 2010. Sua previsão concretizou-se neste domingo (10).

"A novela terminou, e foi como eu disse. Parabéns aos envolvidos", declara Galindo à Folha.

O especialista sustenta uma teoria para o ocorrido. Ele explica que a distância entre as cavernas exploradas pela Braskem deveria ser de 100 metros. Isso, afirma, não foi observado. Com a aproximação entre furnas, elas corriam risco de fundição. Esta, se concretizada, deixaria as rochas daquela área —instáveis por sua morfologia— "moles".

"Agora, ela deve ser só um amontoado de rochas e água", avalia Galindo. Para ele, um estudo amplo deve ser conduzido com urgência a fim de medir os impactos na região.

Todos os grupos que acompanhavam aquela mina perderem seus equipamentos após o desabamento. Equipes, apoiadas pelo poder público, devem realizador voos sobre o local no início deste semana. Expedições a barco também são planejadas.

Renato Lima, docente de geologia na USP (Universidade de São Paulo), diz haver perigo de maior impacto no sistema natural ao longo dos próximos meses. "Com a infiltração de água na mina, pode haver saída de fluidos estranhos ao sistema, como salmouras em várias concentrações."

Isso, diz ele, deve afetar toda organização biológica e paisagem do espaço.

Relembre histórico do caso

Os primeiros relatos sobre os danos no solo em Maceió surgiram em meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. Na ocasião, o abalo fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e paredes de imóveis, atingindo cerca de 14,5 mil casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais. Outros bairros, como Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Farol também foram atingidos.

Ao todo, cerca de 20% do território da capital alagoana foi afetado, e cerca de 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Muitos animais também foram abandonados.

Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil, órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, concluiu que as atividades de mineração da Braskem em uma área de falha geológica causaram o problema.

Na época, a mineradora tinha em área urbana 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. Os poços estavam pressurizados e vedados, porém a instabilidade das crateras causou danos ao solo, que foram visíveis na superfície.

A exploração do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa pela Braskem um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico.

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