Advogado de Ronnie Lessa diz que deixará caso após delação e que família desconhece acordo

Segundo defensor, ex-PM considerava que falar sobre o responsável pela morte de Marielle Franco poderia colocar sua família em perigo

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Rio de Janeiro

O advogado Bruno Castro afirmou desconhecer a delação firmada por seu cliente, o ex-policial militar Ronnie Lessa, no caso que investiga o mandante da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Apontado como assassino da parlamentar, o preso escolheu outro advogado para representá-lo nesta nova fase das investigações.

Castro afirmou que deixará a defesa do cliente assim que for informado sobre o acordo de delação. "Por ideologia jurídica não atuamos para delatores", disse.

PM reformado Ronnie Lessa
O ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado como assassino da vereadora Marielle Franco - Reprodução

Lessa está preso desde março de 2019 e passou a negociar uma colaboração premiada no fim do ano passado. O caso está no STJ (Superior Tribunal Federal), e a delação ainda não foi homologada. Para isso, é preciso que os investigadores comprovem o que foi dito pelo ex-PM no acordo.

Marielle e Anderson foram mortos em 14 de março de 2018 ao terem o carro atingido por tiros enquanto passavam pelo Estácio, bairro do centro do Rio de Janeiro. Junto com Lessa, também foi preso o ex-PM Élcio de Queiroz, apontado como o motorista do veículo utilizado no crime.

Quando Queiroz firmou seu acordo de colaboração, no ano passado, ele trocou de advogado sem comunicar sua defesa original. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público apontaram que o então advogado de Queiroz, Henrique Santanna, era pago por Lessa.

Ao saber da delação, Santanna deixou oficialmente a defesa de Élcio, que foi assumida pela advogada Ana Paula Cordeiro.

Na ocasião, assim como Castro, Santanna também disse ter sido pego de surpresa. Ele também negou que fosse pago por Lessa, amigo há décadas de Queiroz.

À Folha, Castro disse que a família de Lessa não foi informada sobre o acordo de delação do ex-PM. O advogado afirmou que, durante o período em que representou o réu, o preso nunca mostrou interesse de fazer uma colaboração. No entanto, ele disse que sabia quem era responsável pela morte de Marielle, mas que, se falasse, sua família ficaria em perigo.

"A única coisa que ele me disse, há uns dois ou três anos, é que ele sabia quem tinha matado a Marielle. Mas afirmou que, se falasse, a família dele morreria", disse Castro. "Acho que ele nunca comentou [sobre o interesse de fazer a delação] por saber que meu escritório não faz esse tipo de acordo."

A preocupação com a família também foi uma questão para Queiroz quando firmou sua colaboração. Uma das contrapartidas pedidas por ele foi que seus parentes passassem a ter uma segurança reforçada.

Queiroz também foi transferido de presídio após a colaboração. Ele estava no presídio federal em Brasília e foi para o Complexo Penitenciário da Papuda, também no Distrito Federal.

O advogado de Lessa afirmou que prefere ainda não confirmar que houve a delação de seu cliente, pois ele próprio não foi informado oficialmente.

Lessa está no presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Castro afirmou que ainda não teve contato com o ex-PM desde que veio à tona que ele está colaborando com as investigações. Por ele estar em uma penitenciária de segurança máxima, as comunicações com o preso devem ser solicitadas à direção do presídio e há um prazo para que elas sejam deferidas. O advogado afirmou que ainda não fez o pedido.

"Acredito que ele tenha mais a explicar à família do que ao advogado", afirmou Castro.

As delações são uma aposta da Polícia Federal para solucionar o caso, já que muitas das provas se perderam ao longo dos quase seis anos de investigação.

A delação que Queiroz fez o caso avançar e possibilitou a prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, como uma das pessoas que participaram da campana para monitorar Marielle.

Após o depoimento do ex-PM, os investigadores chegaram a novas suspeitas de envolvimento de Domingos Brazão, conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio) –ele sempre negou qualquer ligação com o crime.

Segundo fontes a par da investigação ouvidas pela Folha, Suel chegou a ser sondado pela PF para firmar um acordo de delação no final de novembro do ano passado. Porém, as conversas não foram adiante, pois Lessa decidiu colaborar.

Procurada, a Polícia Federal informou que não comenta as investigações que estão em andamento.

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