Descrição de chapéu América Latina

Brasil reverte queda em IDH, mas perde duas posições em 2022

País ocupa 89º lugar entre 193 países em ranking da ONU de desenvolvimento humano no último ano da gestão Bolsonaro; recuperação fica abaixo do esperado

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São Paulo

O Brasil reverteu, em 2022, a queda em dois anos consecutivos do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU (Organização das Nações Unidas), mas não conseguiu atingir o nível de 2019, antes da pandemia de Covid-19, e perdeu duas posições no ranking.

Os dados foram divulgados pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) nesta quarta-feira (13). O índice de cada país é composto pela média de indicadores de expectativa de vida ao nascer, escolaridade e renda. Quanto mais próximo de 1, melhor o IDH.

pessoas dormem com cobertores e sobre colchonetes na rua, há um muro colorido ao fundo
Pessoas em situação de rua na região da Praça Marechal Deodoro, no centro de São Paulo - Zanone Fraissat - 6.set.2023/Folhapress

No levantamento relativo a 2022, último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), o Brasil atingiu índice 0,760, considerado alto, e ocupa a 89ª posição na lista de 193 nações. No primeiro ano da gestão, em 2019, o IDH havia passado de 0,764 (2018) para 0,766 —ou seja, a nota do país ao fim do mandato ficou pior do que era no início.

Em seguida, ainda sob comando de Bolsonaro e enfrentando a pandemia, foram duas quedas consecutivas: caiu de 0,766 em 2019 para 0,758 em 2020, alcançando 0,754 em 2021. O progresso brasileiro no último ano é visto como acentuado, embora tenha apresentado uma recuperação abaixo do esperado.

À frente do Brasil estão países como Cuba (0,764) e China (0,788), na categoria de desenvolvimento alto. Na categoria de IDH muito alto estão Argentina (0,849) e Bahamas (0,820), por exemplo.

Além de choques como a pandemia, guerras também provocam variações significativas no índice de desenvolvimento dos países. Há dois anos em guerra com a Rússia (0,821), a Ucrânia, por exemplo, caiu de 0,773 para 0,734, regredindo a um patamar de 20 anos atrás, e saiu da 77ª para a 100ª posição.

O Brasil perdeu posições para São Vicente e Granadinas, Equador e Maldivas. Com a queda da Ucrânia, no entanto, caiu duas posições no ranking e hoje está empatado com o Azerbaijão.

Não há informações sobre Coreia do Norte e Mônaco. Atualmente, o topo é da Suíça, com 0,967, e em último lugar está a Somália, que registrou 0,380.

Enquanto o impacto da pandemia representou a maior queda do IDH registrada desde o início da série, nos anos 1990, as maiores preocupações para o futuro, segundo o relatório, têm sido a polarização política, marcada pela divisão interna em países e o apoio a líderes que minam a democracia.

"Mais do que pessoas defendendo seu ponto de vista, o que é saudável para a democracia, vemos sociedades divididas em campos beligerantes. Isso envenena a cooperação doméstica e internacional. É uma tendência global desde 2011", afirmou Pedro Conceição, diretor do escritório da ONU responsável pela publicação.

A recuperação lenta e mesmo a trajetória do Brasil ao longo da série histórica mostram um problema do país com continuidade de políticas públicas, segundo Leandro Torelli, coordenador da pós-graduação em Teoria e Análise Econômica da da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

"Há uma total descontinuidade de políticas públicas onde a necessidade de longo prazo é fundamental, como em educação, saúde e assistência social. É onde precisamos de longo prazo para que os resultados nos mostrem de que maneiras devemos atacar os problemas."

COMO ESTÁ O PAÍS EM RELAÇÃO À AMÉRICA LATINA

Considerando América Latina e Caribe, o Chile se mantém como a nação com o IDH mais alto. O Brasil, que ocupava a 16ª posição, caiu para a 18ª. Entre outros países, ficou atrás de Argentina, Panamá, Costa Rica, México, Equador, Cuba e Peru —o país andino hoje ocupa a posição que o Brasil tinha no último ranking mundial do IDH.

O Brasil é visto como um ator importante para a região, tanto por vantagens naturais quanto pela capacidade política.

"É preciso lembrar da importância que tem o Brasil na presidência no G20, incorporando com muita força o tema social na discussão com os países do grupo. É uma forte ênfase na abordagem das desigualdades," afirmou Michelle Muschett, diretora regional do Pnud para a América Latina e o Caribe.

Ela também lembrou da vantagem e da responsabilidade que o Brasil tem para enfrentar questões de desenvolvimento sob a ótica das mudanças climáticas, já que 60% do território nacional é composto pela Amazônia Legal.

A região da América Latina e do Caribe, composta por 33 países, teve a maior queda, na comparação com outras regiões, entre 2020 e 2021. A recuperação em 2022, segundo o relatório, foi menor do que o esperado caso fosse mantida a tendência de crescimento de 2019.

Um dos dados que compõem o IDH, a expectativa de vida na região é 73,9 anos, superior à média mundial de 72 anos.

No Brasil, o dado havia chegado à marca mais baixa em 12 anos em 2021, com 72,8 anos. Já em 2022, a recuperação chegou a 73,43 anos.

No país, a média de anos em escolas teve pouco aumento, saindo de 8,12 em 2021 para 8,27. Já renda per capita anual passou de US$ 14.369,88 para US$ 14.615,89.

Segundo o relatório, os países latinos e caribenhos devem investir em proteção social. O objetivo é ampliar a resiliência contra crises ou a dificuldades políticas e sociais, como o avanço do crime organizado.

"Esse contexto global chega a uma América Latina e ao Caribe que têm desafios estruturais. São profundas desigualdades que afetam a região, a altíssima vulnerabilidade e um crescimento econômico muito mais volátil. Talvez isso explique por que América Latina e Caribe sejam mais vulneráveis a essas crises", afirmou Muschett, do Pnud.

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