Concessionária do Vale do Anhangabaú é multada em R$ 1,7 milhão

Quiosques vazios, problemas de segurança e atraso para instalar bebedouros motivaram autuações

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São Paulo

O consórcio Viva o Vale, há mais de dois anos responsável pela gestão do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, foi multado em R$ 1,7 milhão pelo descumprimento de encargos previstos em contrato com a prefeitura.

O montante é a somatória de oito penalidades médias e graves aplicadas à concessionária no final de fevereiro pela gestão Ricardo Nunes (MDB).

Pessoas caminham no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo
Pessoas caminham no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo - Ronny Santos/Folhapress

Entre as entregas ainda pendentes estão a instalação de banheiros e bebedouros, a ativação dos quiosques de alimentação e a implementação de sistema de monitoramento eletrônico e guaritas de vigilância. A empresa diz que está recorrendo das multas junto ao poder público.

O Vale do Anhangabaú foi concedido à iniciativa privada em 2021, após longa reforma que custou R$ 105 milhões ao município. O contrato tem valor de R$ 55 milhões, incluindo despesas e investimentos.

Com duração de 10 anos, o acordo permite que a concessionária explore comercialmente o espaço –com a realização de shows, por exemplo. Como contrapartida, a empresa deve oferecer atividades gratuitas e implementar uma série de melhorias no local, tarefa que até hoje segue incompleta.

Os quiosques, que na teoria deveriam ser ocupados por cafés, lanchonetes e outros comércios, estão permanentemente vazios e ficam cercados por grades para evitar depredações. Alvos constantes de furtos, os banheiros anexos são insuficientes para o público que circula pelo local e vistos como inseguros pela própria gestão municipal.

Os 11 bebedouros que deveriam ser instalados na área do vale também não foram entregues. A empresa chegou a iniciar a construção de um banheiro de alvenaria, no qual colocaria os bebedouros, mas a obra foi embargada pela prefeitura e demolida depois de alguns meses. Segundo parecer da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, o local era inadequado e traria prejuízos à drenagem e circulação de pessoas no vale.

Ao aplicar as penalidades, a Secretaria Municipal de Subprefeituras também considerou insuficientes as ações de segurança promovidas pela atual gestora do vale –este é o principal problema do local segundo pesquisa com usuários.

De acordo com o último relatório de desempenho da concessão, referente a fevereiro, menos da metade das câmeras de monitoramento instaladas na área estavam funcionando.

A secretaria também considerou precários os postos de vigilância, compostos apenas por cadeira e guarda-sol. Recentemente, guaritas resistentes a diferentes condições climáticas foram montadas no local, conforme previsto no contrato.

Quando notificou a empresa pela primeira vez, em março de 2023, a administração municipal calculava multas no valor total de R$ 22,7 milhões –aproximadamente 41% do valor do contrato. Após analisar defesa da concessionária e pareceres de setores técnicos da prefeitura, a pasta aplicou oito multas pelo descumprimento das obrigações contratuais, com valores de R$ 87 mil a R$ 610 mil.

As duas mais graves são referentes a atrasos para a contratação de seguros de responsabilidade civil e riscos operacionais. A Viva o Vale demorou, respectivamente, dois e três meses além da ordem de início do contrato. Uma clausula prevê a cobertura por apólices durante toda a vigência da concessão.

Em sua defesa, a concessionária argumentou que o poder público estava desconsiderando as dificuldades enfrentadas para cumprimento dos encargos, citando falhas da própria prefeitura na revitalização do espaço. O documento ainda faz menção à Virada Cultura, evento que teria causado "prejuízos materiais e imateriais" à empresa.

Procurada, a Viva o Vale disse que "todas as questões mencionadas estão sendo tratadas diretamente com o poder concedente por meio dos devidos processos previstos em contrato, incluindo a apresentação de recursos competentes às multas mencionadas, que ainda tem partes pendentes de análise".

A concessionária não respondeu se tem previsão para solucionar os problemas ainda pendentes.

A prefeitura, por sua vez, disse em nota que mantém rigor na fiscalização do contrato e o amplo direito de defesa. Os recursos da empresa estão sendo analisados e a decisão será publicada no Diário Oficial.

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