Em pouco menos de dois meses à frente do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski já contabiliza ao menos dois ineditismos.
O primeiro deles foi a fuga de dois presos da Penitenciária Federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte, logo nos primeiros dias de fevereiro e de sua gestão por indicação do presidente Lula (PT).
O segundo se deu nesta terça-feira (19) com o inédito "anúncio oficial" de uma homologação de acordo de colaboração premiada.
O ministro reuniu a imprensa para contar que fora avisado pelo seu ex-colega de STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, da validação do acordo da Polícia Federal com Ronnie Lessa, preso sob acusação de ser o executor do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Sobre Mossoró, Lewandowski não pode ser diretamente cobrado pela primeira fuga da história do sistema federal. A situação no presídio, como se descobriu ao longo desses dias após a fuga, era precária desde as outras gestões.
Mas o anúncio da homologação da delação, sim, é algo exclusivo da atual gestão.
Em tese, trata-se apenas de uma movimentação processual em uma investigação, pelo que se sabe, sigilosa.
A convocação da imprensa e o uso do anúncio como sendo do governo se dá um dia após a reunião ministerial de Lula com seus ministros, entre eles Lewandowski, e da divulgação de pesquisas que mostram a segurança como uns dos motivos da queda de avaliação de Lula.
No encontro, o ministro minimizou as críticas ao governo federal em relação à segurança pública e empurrou a responsabilidade principal pelo setor para os estados e municípios.
Cabe aos estados boa parte da segurança, por meio das polícias militares e civis, mas também são sabidos o impacto do tema na avaliação do governo federal e a necessidade de envidar esforços para contribuir no combate à criminalidade.
O argumento de que problemas na segurança recaem sobre a esfera federal é lembrado por apoiadores de Lula que defendiam um nome mais ligado à área para o ministério ou a divisão da pasta em duas.
Como mostrou a Folha em outra análise logo após a escolha de Lewandowski para o cargo, Lula optou por reforçar a relação com o STF e deixou, em um primeiro momento, a segurança de lado ao escolher o ex-ministro para a Justiça.
Como também foi dito, as eleições municipais serão o primeiro termômetro para o governo sobre como o tema da segurança deve pesar nas urnas. As pesquisas recentes parecem ter acendido um alerta no governo sobre a necessidade de pautas positivas na área para contrapor o bolsonarismo.
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