Descrição de chapéu transporte público São Paulo

Dona da 2ª maior frota de SP, empresa suspeita de ligação com PCC recebeu R$ 4,8 bi da prefeitura

Transwolff foi escolhida para operar sistema de transporte aquático e é a que mais tem veículos elétricos na cidade

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São Paulo

Envolvida na Operação Fim da Linha, a empresa Transwolff detém a segunda maior frota de ônibus de São Paulo, com 1.206 veículos (9% dos 13.289 ônibus da frota). A concessionária fica atrás apenas da Metrópole Paulista, que tem 1.443 ônibus (10,8%), de acordo com a SPTrans.

Dos 313 milhões de passageiros transportados na capital em janeiro e fevereiro deste ano —dados mais recentes—, a Transwolff foi responsável por atender 27 milhões (8,6%).

Sediada na zona sul, a empresa que tem 4.049 funcionários assumiu a dianteira no processo de substituir a frota de ônibus a diesel por veículos elétricos e também firmou compromisso com a Prefeitura de São Paulo para operar o "ônibus aquático", transporte hidroviário na represa Billings. A parceria para operar o sistema aquático foi feita por meio de um aditivo, sem licitação.

Sistema de carregamentos de ônibus elétricos da empresa Transwolff, na zona sul de São Paulo, com energia de fonte eólica - Zanone Fraissat/Folhapress

Tanto o transporte aquático como a troca de ônibus a diesel pelos elétricos são apostas do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para seus planos de reeleição.

A empresa nasceu como uma cooperativa de vans, a CooperPam, com 1.200 cooperados na década de 2000. Em 2015, passou a se chamar Transwolff.

De acordo com o Ministério Público, dirigentes da cooperativa chegaram a ameaçar os cooperados para transferir o controle da CooperPam para a Transwolff —ou TW, na época.

A reportagem ouviu um desses cooperados. Sob condição de anonimato por medo de represálias, ele disse que foi expulso com a chegada da Transwolff e que perdeu dois micro-ônibus que lhe garantiam o sustento. Sentindo-se lesado, contou ter comemorado o resultado da Operação Fim da Linha.

Desde fevereiro de 2015, a Transwolff recebeu R$ 4,8 bilhões da prefeitura a título de remuneração, o que inclui subsídios e tarifas pagas em dinheiro e com o Bilhete Único. Foram R$ 2 bilhões somente na atual gestão, a de Bruno Covas (1980-2021) e Nunes —de janeiro de 2021 a fevereiro deste ano, dados mais recente da SPTrans.

De acordo com o portal da Receita Federal, a Transwolff detém um capital social de R$ 30,8 milhões.

Em meio à investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que durou cinco anos, a Transwolff expandiu a frota de ônibus elétricos com a compra de 78 desses veículos, que em média custam R$ 2,5 milhões cada um. Outras seis empresas, juntas, conseguiram adquirir no máximo 40 modelos.

Nesta terça (9) foram presos Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, apontado como dono da empresa, e o diretor Robson Flares Lopes Pontes, por decisão judicial.

DISTRIBUIÇÃO DA FROTA ELÉTRICA

  • Transwolff

    78

  • Transppass

    15

  • Ambiental

    10

  • Campo Belo

    7

  • MobiBrasil

    6

  • Gato Preto

    1

  • UPBus

    1

A Transwolff também foi escolhida pela prefeitura para operar o transporte hidroviário. A Justiça de São Paulo, no entanto, suspendeu a inauguração do sistema, que estava prevista para 27 de março. O Judiciário determinou que a gestão Nunes apresente mais estudos sobre o impacto ambiental do projeto.

Nesse modelo, a Traswolff deveria operar com dois barcos, com capacidade para 60 passageiros cada um. O percurso idealizado conecta os bairros Cantinho do Céu, na região do Grajaú, e Parque Mar Paulista, em Pedreira. O pagamento poderia ser feito com Bilhete Único, e a Transwolff receberia subsídios pela operação.

Pelo projeto, a prefeitura deverá desembolsar R$ 160,2 milhões, o que inclui a construção de estaleiro, terminais e atracadouros —a conta não considera a remuneração paga pela operação.

Para Rafael Drummond, planejador urbano e de transporte, a ascensão de uma empresa ligada ao crime organizado gera preocupação.

"São parcerias relevantes. Ela é a maior empresa do sistema de distribuição local, fez projetos-piloto para os ônibus elétricos a bateria e ganhou a operação do sistema aquático sem nunca ter tido qualquer experiência com a operação das embarcações adquiridas", afirmou.

Sistema de "ônibus aquático" teve lançamento suspenso pela Justiça em SP
Transwolff foi escolhida para operar o 'ônibus aquático' na represa Billings; lançamento foi suspenso em março pela Justiça devido a possível impacto ambiental - Divulgação/Prefeitura de São Paulo

Apesar de a Transwolff ser alvo da Operação Fim da Linha, a gestão Nunes afasta a possibilidade de prejuízos nos projetos de expansão da frota de ônibus elétricos e de transporte aquático.

Em nota enviada à Folha, a SPTrans afirmou que assumiu a gestão e a operação da Transwolff e que os contratos com fornecedores também serão mantidos. "A SPTrans segue trabalhando junto a todos os envolvidos na implantação da infraestrutura para a eletrificação da frota de ônibus da cidade", diz o órgão.

O prefeito ficou bastante desconfortável com a situação e, logo após a prisão dos dirigentes da empresa, nomeou Valdemar Gomes de Melo, diretor de planejamento de transporte da SPTrans, como interventor na Transwolff. Com isso, Nunes tem dito que a circulação dos ônibus não será afetada.

"Não haverá nenhuma paralisação no transporte público da cidade de São Paulo, em especial por essas duas empresas [Transwolff e UPBus] que hoje sofreram as investigações, os mandados e a intervenção", disse o prefeito, nesta terça.

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Transwolff nesta quarta, mas, por causa da intervenção, foi orientada a entrar em contato com a SPTrans.

No mês passado, a prefeitura já havia retirado seis linhas da Transwolff após um passageiro promover um quebra-quebra no terminal Varginha em protesto contra a demora para embarcar. As cenas foram gravadas, e no vídeo é possível ver que o homem é aplaudido por demais passageiros no local.

Notificada pela SPTrans, a empresa disse, na ocasião, que a operação não estava no "padrão Transwolff". O prefeito chegou a se desculpar pelo atraso.

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