Descrição de chapéu Obituário Givanilda Maria da Silva (1969 - 2024)

Mortes: Foi a primeira mestra de maracatu rural em Pernambuco

Mestra Gil viajou o país com sua nação de brincantes e cantava questões sociais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Juazeiro (BA)

Há 20 anos, o Maracatu Feminino Coração Nazareno sai pelas ruas de Nazaré da Mata (PE) durante o Carnaval. O grupo, único do estado formado apenas por mulheres, foi comandado durante mais de 15 folias por Givanilda Maria da Silva, a Mestra Gil.

Gil foi a primeira mestra de maracatu rural do estado, os também chamados de baque solto. Em 2005, passou a comandar o Coração Nazareno, criado em 2004 pela Associação das Mulheres de Nazaré da Mata (Amunam). A tradição secular era, até então, protagonizada por homens.

"A gente costuma dizer que o maracatu das mulheres é o símbolo da resistência na luta contra a discriminação e o preconceito, pela conquista de espaços nunca vistos antes nos maracatus rurais", afirma a coordenadora da Amunam, Eliane Rodrigues, 66.

Givanilda Maria da Silva (1969 - 2024)
Givanilda Maria da Silva (1969 - 2024) - Chico Ludermir/Secult-PE/Fundarpe

Gil começou como bandeirista, carregando o estandarte. Mas, em uma terça-feira de Carnaval, revelou seu dom ao ser ouvida cantar no banho pelas colegas. Logo, recebeu a missão de estudar para ser mestra. Aprendeu a guiar as evoluções do maracatu, como manda a tradição, com a bengala e o apito.

À frente do grupo, participou de dois CDs, em 2004 e 2009. Suas letras abordam temas sociais, como a igualdade de gênero, e ambientais. "Sou uma mulher guerreira, dominando uma nação com muita consideração. Eu domino esse brinquedo porque eu não tenho medo de cantar para o povão", diz uma das faixas.

A mestra sabia tocar todos os instrumentos de percussão e repassava às demais integrantes. Atenciosa, exigia que tudo saísse na mais perfeita ordem. "Ela era muito exigente com tudo que fazia. Era uma mestra que não só cantava e rimava", diz Rodrigues.

Entre festivais e carnavais, conheceu o país e ganhou prêmios. Era voz ativa na comunidade, morava perto da associação e estava sempre presente. Só se afastou algum tempo por problemas de saúde.

Givanilda nasceu e foi criada na capital dos maracatus, Nazaré da Mata. De família humilde, começou a trabalhar cedo. Ainda jovem, teve a primeira gravidez. A filha Jaqueline faleceu com pouco mais de um ano de idade. Depois, teve mais cinco filhos.

Trabalhou muito para sustentar a família. Foi doméstica, feirante, gari e auxiliar de serviços gerais.

Sempre foi inserida na cultura popular. Antes do Coração Nazareno, já tinha brincado em outros maracatus, mas todos comandados por homens.

Conheceu o mestre do Maracatu Rural Estrela de Ouro, Zé Duda, com quem viveu por 17 anos, até sua morte em 2023. Juntos, moraram na praia de Catuama, em Goiana (PE), e em Chã de Camará, Aliança (PE). Mas nunca deixou de visitar sua Nazaré da Mata.

Mestra Gil tratava um câncer que descobriu ano passado. "Ela estava muito ansiosa para o Carnaval. Mesmo internada, dizia que iria cantar", lembra o filho Daniel Paulo, 34.

Morreu no dia 16 de fevereiro, aos 54 anos. Deixa os filhos Danilo, Daniel, Deibson, Douglas e Mariana, além de quatro netos, Maria Sofia, Maria Lúcia, Geovana e Deibson Júnior.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.