Descrição de chapéu Caso Marielle

Delegado da PF descartou disputa política entre Brazão e Marielle

Declaração de Milton Neves foi dada em 2022 após investigação sobre tentativa de obstrução da investigação do homicídio

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Rio de Janeiro

Um delegado da Polícia Federal que participou da investigação sobre a obstrução à apuração da morte de Marielle Franco (PSOL) afirmou à Justiça não ter identificado uma disputa política entre a vereadora e Domingos Brazão, conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio de Janeiro, agora apontado como mandante do crime.

A declaração foi dada em depoimento em dezembro de 2022 no curso do processo em que um ex-policial militar e uma advogada foram condenados pela tentativa de atrapalhar as investigações do homicídio.

Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido), foram acusados em maio pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de serem os mandantes do crime após investigação da PF. A denúncia tem como base a delação do ex-PM Ronnie Lessa, que confessou ter realizado os disparos contra a vereadora e seu motorista Anderson Gomes. Como a Folha mostrou, a PF não encontrou provas de corroboração no caso. Os irmãos negam envolvimento no crime.

O conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio de Janeiro Domingos Brazão desembarca do avião da Polícia Federal em Brasília logo após ser preso sob acusação de mandar matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) - Pedro Ladeira - 24.mar.24/Folhapress

O conselheiro foi um dos alvos da chamada "investigação da investigação" realizada pela PF entre 2018 e 2019. Ela tinha como objetivo apurar as motivações das declarações supostamente falsas do ex-PM Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, que atribuiu o crime ao miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, e ao então vereador Marcello Siciliano.

Uma das suspeitas na ocasião era de que o objetivo de Ferreirinha era desviar o foco dos reais executores e mandantes do crime. Contudo, o inquérito foi encerrado em 2019 indicando que o ex-PM havia prestado o falso testemunho para se proteger de um possível atentado de Orlando Curicica.

"Ficou bem nítido para a gente que não tinha nenhum mandante para o surgimento dessa testemunha. Foi uma coisa pontual da situação do próprio Rodrigo Ferreira e foi estruturada com participação direta da ex-namorada Camila [Nogueira, advogada também condenada]", afirmou o delegado da PF Leandro Almada em depoimento à Justiça em 2022.

O delegado Milton Neves, que participou da apuração, também afirmou que não foi possível identificar um conflito entre Brazão e Marielle.

"Uma das linhas de investigação tentada foi no sentido de verificar a existência de vínculo entre o Rodrigo e o conselheiro do TCE, Domingos Brazão. Mas, no final, essa relação acabou sendo descartada", disse ele.

"Foi feita análise, inclusive incluindo a Marielle nessa disputa política. Analisamos o mapa político para ver a distribuição dos votos, para ver se tinha alguma área de confronto, principalmente entre Marielle e Marcelo Siciliano ou Domingos Brazão e Marielle para tentar achar uma motivação política e disputa territorial, disputa de votos e acabou sendo verificado que ficou bem dispersos os votos e vimos que não tinha muita disputa", disse Neves.

O inquérito foi encerrado tendo como indiciados apenas Ferreirinha e Camila. Apesar disso, o relatório serviu como base para uma denúncia oferecida contra Brazão pela então procuradora-geral Raquel Dodge. A acusação acabou rejeitada pela Justiça do Rio de Janeiro.

Cinco anos depois daquela investigação, a PF afirma que os irmãos Brazão decidiram matar a vereadora para impedir que ela prejudicasse os interesses da família em práticas de grilagem de terras e para dissuadir outros integrantes do PSOL a adotar a mesma postura.

O conflito seria, segundo a PF, o ápice de desavenças entre os Brazão e integrantes do PSOL desde 2008, quando o conselheiro teve o nome citado no relatório da CPI das Milícias.

Os conflitos eram conhecidos durante a "investigação da investigação". Eles ganharam peso na apuração da PF após Ronnie Lessa apontar em sua delação, fechada no ano passado, que esses foram os motivos do crime.

Como a Folha mostrou em março, a delação também fez a PF alterar a interpretação sobre mensagens trocadas por Ferreirinha com o policial Marco Antônio de Barros Pinto, o Marquinhos DH.

O agente foi indiciado em março sob suspeita de usar o ex-PM para atrapalhar as investigações do caso Marielle com base nas mensagens. Em 2019, a corporação entendeu não haver crime nos diálogos.

O delegado Leandro Almada assina os relatórios finalizados em 2019 e este ano.

A PF no Rio de Janeiro afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o relatório final de 2019 apontou irregularidades de Marquinho DH. Disse que o contexto voltou a ser analisado quando a corporação entrou oficialmente na apuração do homicídio.

A corporação também declarou que à época da primeira investigação não tinha conhecimento do envolvimento dos delegados Rivaldo Barbosa e Giniton Lages na suposta obstrução da apuração do assassinato. A informação consta da delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do crime.

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