Descrição de chapéu Obituário Julian Tadeusz Kawalec (1953 - 2024)

Mortes: De aluno do futuro papa João Paulo 2º a rei do pierogi em Curitiba

Conhecido como divulgador da culinária de seu país, Julian Tadeusz Kawalec também fez parte do Solidariedade, do líder polonês Lech Walesa

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São Paulo

Quando veio a Londrina com a mulher em 1981, sem qualquer objetivo migratório, o jornalista polonês Julian Tadeusz Kawalec não imaginava que seria nas décadas seguintes o rei do pierogi de Curitiba.

O pierogi que lhe fez fama na capital paranaense é massa cozida, geralmente recheada com ricota e servida com um molho. É um prato típico do leste europeu, uma espécie de ravioli grande. Sua barraca também é conhecida hoje pelo sonho polonês, recheado antes de ser frito. A receita é da esposa, Maria, que usa goiabada no lugar das geleias de cereja ou rosas, usadas no país de origem.

A sogra, Stefania, alertou Tadeu, como ficou conhecido no Brasil, a não retornar para o país, em virtude de uma lei marcial que havia sido decretada durante sua ausência. Ele trabalhava no jornal do Solidariedade, sindicato liderado por Lech Walesa que fazia oposição ao regime totalitário comunista. Walesa seria agraciado com o prêmio Nobel da Paz em 1983.

Um homem idoso está segurando um prato de comida que contém uma porção de massa com molho e um ramo de manjericão no topo. Ele está vestindo uma camisa branca e um suéter listrado preto e branco. Ao fundo, há uma imagem de um homem mais jovem, possivelmente um retrato ou uma fotografia.
Julian Tadeusz Kawalec (1953 - 2024) - Arquivo pessoal

Sem visto de permanência, Tadeu contou com a mobilização de integrantes da Igreja Católica, em especial do padre polonês Jorge Morkis, e de políticos para conseguir continuar no Brasil. O nascimento da primeira filha do casal, Joanna, acabou ajudando a evitar a expulsão.

No recomeço de suas vidas em um país estrangeiro, Tadeu foi trabalhar como cozinheiro na Volvo, enquanto Maria atuava como secretária na igreja São Vicente de Paulo, onde Morkis era o pároco. A forte presença polonesa na capital paranaense ajudou na adaptação.

O número de famílias de seu país virou um negócio, com a criação da barraca de pierogi, inicialmente no largo da Ordem, no centro da cidade. Seu comércio se tornou presença em diversas feiras gastronômicas da cidade, o que lhe garantiu até a participação em um programa da apresentadora Ana Maria Braga.

Tadeu só voltou a encontrar Walesa em 1995. Na ocasião, o líder sindical já havia se tornado presidente, e passou por Curitiba durante sua visita oficial ao Brasil. Mas o político não era a personalidade polonesa que mais marcou sua vida.

Filho de camponeses, Tadeu cursou a faculdade de teologia na Universidade Católica de Lublin. Lá, além de conhecer a jovem com quem se casou anos depois, ele foi aluno de teologia moral e ética social do professor Karol Wojtyla, que seria eleito o papa João Paulo 2º anos depois.

A partir de 2000, quando o então papa fez 80 anos, o dia 18 de maio passou a ser comemorado em sua barraca com um bolo com a metragem da idade do pontífice. Muito católico, fez um curso de diácono anos depois e ajudou a organizar o grupo Amigos de João Paulo 2º, que fazia tapetes para a procissão de Corpus Christi.

Julian Tadeusz Kawalec, ou Tadeu, morreu em 23 de junho, aos 71 anos, deixando a mulher, Maria, os filhos Joanna, Gabriela e Vitold, e uma paixão brasileira pelo Paraná Clube.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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