Descrição de chapéu Obituário Luiz Fernando Batista Franklin de Matos (1950 - 2024)

Mortes: Professor de filosofia explorou humor na teoria e na prática

Luiz Fernando Batista Franklin de Matos deu aulas na USP e se destacou na área da estética

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São Paulo

Luiz Fernando Batista Franklin de Matos soube como poucos explorar o humor na teoria e na prática.

Em sua carreira como professor de filosofia da USP, conduziu diversas pesquisas acadêmicas sobre o riso na época do iluminismo; em sua relação com amigos e colegas, distribuiu apelidos impecáveis e disparou comentários espirituosos sobre os mais variados temas.

"Ele tinha um humor muito fino, muito rápido", diz Maria das Graças de Souza, professora de filosofia da USP e amiga de Franklin de Matos desde a década de 1970. "Ele era um contador de histórias engraçadas, alguém com quem você tinha o prazer da conversação. E ria muito", relembra.

O professor Luiz Fernando Batista Franklin de Matos
Luiz Fernando Batista Franklin de Matos (1950 - 2024) - Arquivo pessoal

Conhecido como Fanto, às vezes chamado de Sócrates, Franklin de Matos formou-se em filosofia na USP em 1972 e passou a dar aulas na universidade dois anos depois. Ao mesmo tempo, começou os estudos na pós-graduação, com um mestrado sobre Dom Quixote que se transformaria em doutorado, defendido em 1979 sob a orientação inicial de Gilda de Mello e Souza e, depois, de Otília Beatriz Fiori Arantes.

Na década seguinte, seu interesse se voltou para a filosofia e a literatura do século 18, com foco na estética teatral de Denis Diderot.

De acordo com Márcio Suzuki, colega de departamento na USP, veio daí uma das contribuições mais originais de Franklin de Matos, ao "perceber a correlação da figura do filósofo com a do comediante no pensamento diderotiano".

Em nota, Suzuki também enalteceu o papel decisivo de Franklin de Matos na consolidação dos estudos de estética no Brasil e no fortalecimento das reflexões sobre o iluminismo.

"A articulação entre filosofia e literatura que soube construir em seus escritos é seu legado inequívoco", escreveu Suzuki, que ressaltou o ensaísmo refinado do colega e comparou sua prosa filosófica com a de mestres como Bento Prado Jr. e Rubens Rodrigues Torres Filho.

A clareza e a elegância dos textos eram preocupações constantes de Franklin de Matos, e não só como autor. Durante vários anos, ele foi editor do Jornal de Resenhas, um convênio da Folha com a editora Discurso Editorial e a USP —mais tarde, outras universidades se somaram à iniciativa.

Criado em 1995 já com a participação do professor, o encarte circulou com essa parceria até 2004, em edições mensais (atualmente, ele é veiculado online de maneira independente). Seu intuito sempre foi o de ultrapassar os muros da academia, oferecendo resenhas aprofundadas e rigorosas, mas com uma escrita acessível para um público mais amplo.

"Apuramos essa ideia desde o princípio, mas no começo não foi fácil. Individualmente, vamos buscando e aprendendo o ponto de equilíbrio", disse Franklin de Matos em 2001.

Entre seus livros se destacam "O Filósofo e o Comediante Ensaios sobre Literatura e Filosofia na Ilustração" (ed. UFMG, 2001) e "A Cadeia Secreta – Diderot e O Romance Filosófico" (Cosac & Naify, 2004). Em breve, será lançada mais uma obra, "A Invenção do Leitor", pela editora 34.

Vítima de uma doença degenerativa que o debilitou progressivamente, Franklin de Matos morreu no dia 7 de julho, aos 70 anos. Deixa a esposa, Yanet Aguilera, e as filhas Maia e Maria.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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