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Festa para 40+ em São Paulo acaba mais cedo e tem DJ de bengala

No Bailindie da Saudade, com 7 anos de existência, pais e mães levam filhos para dançar rock dos anos 1990

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São Paulo

"Desmarquei uma cirurgia para ir no Bailindie", escreveu uma frequentadora no WhatsApp. "Melhor que botox", disse outra no Instagram. "Resultado: uma forte ressaca, joelhos gritando, hérnia de disco massacrada e vontade de fazer tudo de novo", anotou esse frequentador. "Depois de cada Bailindie, todos deveriam receber um Dorflex e um Salompas", sugeriu aquele.

São os frequentadores do Bailindie da Saudade, uma festa mensal em São Paulo que acaba de completar sete anos de idade, formatada para atender um público 40+, ou seja, acima dos 40 anos.

Os DJs Plinio e Dina, com sua camiseta de 'indie véia', na festa Bailindie - Claudio Silva/Divulgação

Isso significa que os encontros dessa turma começam e acabam cedo, não são lotados, possuem cadeiras para o público descansar a lombar e o ciático e não costumam ter filas para entrar, comprar bebida ou ir ao banheiro.

No caso do Bailindie da Saudade, pode-se até mesmo levar os filhos. Em outra festa semelhante, a Discolaje, o público senta em cadeiras de praia. Na Casa das Caldeiras, a festa Sonido, da DJ Vanessa Porto, começa às 18h e segue até 1h.

"É uma tendência", crava a DJ Nat Jako, ela mesma com 40 anos e que toca em diversos eventos "onde não se vê muita molecada". "A galera mais velha não quer mudar o estilo de vida. Eles têm mais condição de consumir e falta opção né?", diz Jako.

O fenômeno não se resume à capital paulistana. Nos últimos tempos, o Rio de Janeiro viu estrear festas semelhantes, com nomes bem sugestivos: Jovens Idosos e Terapia.

Na Discolaje, a galera pode curtir a festa sentada em cadeiras de praia - Allison Sales/Folhapress

Em São Paulo, talvez tudo tenha começado em 2017, com o fim do casamento de 15 anos da DJ Dina Mesmo. Ela estava com 40 e, ao sair para balada, ficou frustrada com as festas lotadas que só tinham molecada".

Saudosa das casas que frequentava nos anos 1990, antes do casamento, como a Torre do Doutor Zero ou a Funhouse, juntou-se ao colega Plinio Cesar Batista. Eles criaram o Bailindie da Saudade e publicaram um post sem grandes pretensões no Facebook.

"Esperávamos 50 pessoas e apareceram 500", surpreende-se, até hoje, Mesmo. "Começamos com festas mais noturnas, mas as pessoas que tinham filho reclamavam. Na volta da pandemia, começamos a fazer de dia, do meio-dia às 20h, e aí os pais começaram a trazer as crianças também."

A volta da pandemia, no final de 2021, reuniu quase mil pessoas no espaço aberto da cervejaria Tarantino, no Limão. "Percebemos que havia um desejo de eventos começando mais cedo", diz Dina.

Atualmente o Bailindie alterna a festa vespertina, das 16h à 1h, na Casa Rockambole —onde ficava o Centro Cultural Rio Verde, em Pinheiros—, com outra mais noturna, no Miquelina Pub, no centro.

E, se você acha exagero o pessoal comentando de desmarcar cirurgia ou tomar um analgésico de saideira, é porque ainda não viu o DJ Plinio, 55 em ação, colocando Pixies ou Weezer na vitrola apoiado em uma bengala.

Ele teve um AVC em setembro de 2022 e perdeu uma única edição do evento, a de outubro daquele ano. Desde então, está lá, "meio capengando", como ele diz, recebendo ajuda para subir na cabine, "às vezes de muletinha".

O DJ Plinio Cesar Batista, que teve um AVC, com sua muleta na festa Bailindie - Claudio Silva/Divulgação

Em Perdizes, no centro cultural Laje, a festa Discolaje acaba de fazer dois anos. Não tão cedo, ela começa às 18h e termina às 2h, no último sábado do mês.

"Comecei pensando em uma festa de vários estilos e épocas, mas, como os DJs residentes têm mais de 40, foi naturalmente para esse lado do indie dos anos 1990", diz DW Ribatski, que divide as picapes com o músico Tatá Aeroplano e com Dina Mesmo.

"Nosso público aqui costuma ir até 45 anos", conta Ribatski, que sempre posta um meme avisando que ali há muitos lugares para se sentar.

A ideia de eventos com maior conforto para a galera dos 40+ foi o mote para o perfil de Instagram Tem Cadeira?. Criado pelas publicitárias Rita Braga e Flávia Novelli, cariocas que moram há oito anos em São Paulo, o perfil traz, toda sexta-feira, uma lista de baladas que elas considerem amigáveis aos mais velhos.

Post do perfil Tem Cadeira?, no Instagram, das publicitárias Flávia Novelli (esq.) e Rita Braga - Divulgação

Mais novas que os 40+ (ambas tem 33 anos), isso não parece importar a quem quer sentar na balada. "Somos 30+ e estamos cansadas", dizem, rindo.

Curiosamente, às vezes o Tem Cadeira? indica locais que... não têm cadeira. "Pode ser que não tenha, mas aí vai ter um meio-fio para sentar e vários outros elementos positivos que justificam nossa escolha", explica Braga.

"Nossa seleção é feita com lugares a que nós iríamos, mas que também não têm tanta visibilidade na mídia. Buscamos fugir um pouco do hype", conta Novelli, que lista festas variadas, bares e rodas de samba.

Para esses paulistanos (e cariocas), o rock’n’roll (ou o samba) nunca vai morrer; no máximo, envelhecer.

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