Descrição de chapéu Obituário Alcyr Mesquita Cavalcanti (1936 - 2024)

Mortes: Filósofo, antropólogo e jornalista, fotografou até o fim da vida

Alcyr Cavalcanti marcou a imprensa carioca e realizou no fim da vida o sonho de conhecer Paris

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Alcyr Mesquita Cavalcanti dormia com a câmera fotográfica ao lado da cama. Era um hábito que o mantinha sempre pronto para usá-la a qualquer momento, seja para fotografar a paisagem na janela ao amanhecer ou sair com a máquina a tiracolo se o telefone tocasse com alguma notícia inesperada.

Acordava e lia os jornais. Seu café da manhã não estava completo se não comentasse com a família o estado de coisas do mundo, trazido à sua mesa pelo noticiário.

Durante décadas, viveu em busca do "momento único, o instante definitivo que não se repetirá", em suas próprias palavras. Registrou milhares desses momentos a serviço de jornais e revistas. Começou em 1971 em O Fluminense e passou por veículos como Jornal do Brasil, Última Hora, O Globo e O Dia, entre outros.

Um homem calvo, com cabelo e bigode grisalhos, está ao lado de um parapeito de madeira ao ar livre, segurando uma câmera. Ele usa um casaco escuro, e há um rio ao fundo. Há uma ponte visível atrás dele e o céu está nublado.
Alcyr Mesquita Cavalcanti (1936 - 2024) - Cláudia Cavalcanti

Nasceu e cresceu no bairro Praça da Bandeira, na zona norte do Rio de Janeiro. Era um dos seis filhos de um militar da Força Área Brasileira e de uma dona de casa. Dois de seus irmãos seguiram a carreira do pai, e ele guardava com carinho, numa grande moldura, a foto de um deles, que morreu num acidente aéreo.

Cavalcanti chegou ao jornalismo por meio de sua paixão pelo cinema. Na década de 1960, fez um curso de direção cinematográfica no MAM (Museu de Arte Moderna), onde aprendeu a fotografar. Logo começou a trabalhar nos jornais cariocas. Antes disso, estudava odontologia.

Com sua câmera, retratou a vida na capital fluminense. Um ensaio fotográfico sobre a violência urbana lhe rendeu o prêmio Kodak-Fenaj de 1988. No mesmo ano, morou por dez dias na Rocinha para registrar o cotidiano da favela. É dele também uma das imagens mais emblemáticas da campanha Diretas Já, em 1984, de milhares de pessoas reunidas na Cinelândia, no centro do Rio.

A história da foto "A Queda no Maracanã", que captou o instante após o desabamento da grade de proteção de uma arquibancada durante um Flamengo e Botafogo, demonstra a destreza de Cavalcanti. Há a imagem de um torcedor com parte do corpo apoiado na estrutura de concreto e as pernas para baixo, que não caiu por pouco.

Para fotografá-la, foi necessário reagir em poucos segundos, ajustando o enquadramento, o foco e a luminosidade. Três pessoas morreram e mais de 80 ficaram feridas, a maior tragédia na história do estádio.

Mestre em antropologia e graduado em filosofia, deu aulas de história e foi uma figura importante em entidades de classe no Rio, presidindo a Associação Brasileira dos Repórteres Fotográficos e integrando várias gestões da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).

Sonhava em conhecer Paris, o que realizou cerca de um mês antes de morrer. A capital da França vivia os preparativos para as Olimpíadas. Cavalcanti hospedou-se por cerca de dez dias na casa de um sobrinho, flanou pelas ruas e fotografou a Cidade Luz aos 87 anos.

"Dava para perceber na sua voz que estava muito feliz", conta a filha Cláudia.

Alcyr Cavalcanti morreu após um infarto no último dia 4 de agosto, aos 88 anos, deixando a mulher, Marlene, e as filhas Cláudia e Regina.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.