Morto no último domingo (28) aos 60 anos em decorrência de um câncer no fígado, Ernesto Rodrigues (ou Netão, como era mais conhecido) foi um dos mais talentosos repórteres fotográficos de sua geração.
Contudo, o começo profissional apontara em outra direção. Ao sair do ensino médio, fora estudar direito em Piracicaba (SP). A tendência natural era seguir a profissão do pai, Tércio Rodrigues, um destacado advogado em Santa Bárbara D’Oeste (SP), sua terra natal.
Não chegou a terminar o curso. Em 1987, prestou vestibular para cursar jornalismo na Unesp de Bauru. Ali encontrou a vocação que determinaria os rumos de sua vida: o fotojornalismo. Com uma câmera Zenit na mão, fez os primeiros ensaios no trem que ligava Santa Bárbara a Bauru.
Ainda estudante, deu início à carreira no Diário de Bauru. Em 1991, se arriscou na capital. Tornou-se mais um dos "pescadores", o grupo de jovens que tentava uma chance na equipe de fotografia do extinto Diário Popular, comandada por João Habenchus, o Peixe.
Trabalhou novamente no Diário de Bauru e passou pela sucursal da Folha em Ribeirão Preto até chegar à Redação da Folha da Tarde. Participou ainda da criação do Agora.
Atuou pelo jornal O Estado de S. Paulo de 2002 a 2013 e novamente pelo Grupo Folha de 2013 a 2017. Notabilizou-se como grande fotógrafo esportivo. Pelo Estado de S. Paulo, cobriu a Copa de 2006.
Além de seu trabalho nas Redações, desenvolveu pesquisa fotográfica sobre os romeiros em Juazeiro do Norte (CE).
Netão também era um cozinheiro de mão cheia. Seu capeletti in brodo fazia frente a qualquer um. Adorava receber os amigos em casa e cozinhar ou mesmo armar uma churrasqueira, bebericar e bater um papo ouvindo música.
As habilidades culinárias não surgiram da noite para o dia. Mantinha a sete chaves seu maior tesouro: um fantástico livro de receitas da mãe, Aliciene Avelino.
Nos últimos anos, produzia e vendia hambúrgueres em Santa Bárbara D’Oeste.
Da mãe, que era professora de artes, também herdou o ouvido e o conhecimento musical. Eclético, ouvia desde Mozart até BaianaSystem. Gostava muito de jazz, blues e rock, estilos que recheavam sua coleção de discos. Também era fã do cinema de Jim Jarmusch.
Ao saber que seria pai, decidiu largar o tabagismo —em abril de 2008, nasceu a filha Sofia, a maior paixão de sua vida.
Sentia-se realizado quando passeava com sua Harley-Davidson. Seu mantra era: "gosto do vento no rosto e da liberdade do horizonte". Por trás da expressão sisuda, estava um cara brincalhão, dono de uma gargalhada inconfundível.
Bon-vivant, não dispensava um festerê. Mas, se o chamassem para ajudar a fazer uma mudança ou até encher uma laje, ele estaria lá. Tinha a qualidade de aglutinar pessoas e fazer amigos. O próximo dia 4 de agosto seria seu aniversário. Aposto que vai ter festa no céu.
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