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Ensino a distância personaliza aprendizado e poupa tempo para convívio

Escolas já usam ferramentas online para completar carga horária e conteúdo regular

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Luciana Alvarez
São Paulo

Enquanto a reforma que chancela a educação a distância no ensino médio não é regulamentada, escolas já fazem uso de metodologias e ferramentas da modalidade. 

É o chamado ensino híbrido: sem perder o contato pessoal com colegas e professores, adolescentes têm acesso a materiais e atividades em ambientes virtuais. Há experiências que contemplam provas, recuperação, lição de casa e projetos.

Aluna do segundo ano do ensino médio no colégio Fecap, pela primeira vez em anos Beatriz Favacho, 16, se diz satisfeita com seu desempenho em matemática. O professor que a ajuda a compreender a matéria está a mais de 8.000 quilômetros dela, no Canadá.

“Na plataforma, eu pauso a explicação para anotar no caderno, posso voltar e assistir de novo. Todos os exercícios já têm a correção e, em caso de dúvida, dá para fazer video-chamada com o professor.”

A estudante Beatriz Favacho, 16, na escola Fecap, em São Paulo
A estudante Beatriz Favacho, 16, na escola Fecap, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Além da educação regular, no qual faz as aulas do currículo brasileiro, Beatriz cursa um programa de ensino médio canadense parcialmente a distância. Quando terminar os estudos aqui, deve passar um semestre em Toronto para completar os créditos e obter o diploma do outro país. 

A adolescente avalia que o formato a distância consegue ser mais personalizado que o modelo presencial. 

“Na sala de aula o professor também tira dúvidas, mas de forma mais geral, porque tem que pensar no coletivo”, afirma. Em compensação, o modelo a distância exige mais autodisciplina.

“Duas vezes por semana temos tutoria à tarde na Fecap, mas a maior parte do curso faço mesmo em casa, aos finais de semana”, diz. 

Na maior parte das escolas que adotam o ensino híbrido, as plataformas online são uma nova forma de passar lição de casa ou deixar conteúdos extra à disposição dos alunos.

No colégio Bandeirantes, docentes gravam breves videoaulas, de cinco minutos, para ajudar no aprendizado depois de encontros presenciais.

“Às vezes, o aluno vem ao plantão de dúvidas só por um exercício específico. A ideia é disponibilizar na plataforma vídeos com a resolução, como ele veria presencialmente”, diz Emerson Bento, diretor de tecnologia educacional.

A biblioteca de vídeos tem hoje 118 aulas, mas as gravações continuam sendo feitas.

Embora também tenham acesso a conteúdos extra em uma plataforma online, no colégio Emece, uma vez por ano, os estudantes do ensino médio precisam obrigatoriamente estudar a distância e de forma colaborativa.

“Fazemos uma simulação da conferência da ONU, e os comitês estudam cem por cento em EaD. Cada comitê tem um coordenador. Apenas os debates são presenciais”, descreve Angelica Larcher, coordenadora do ensino médio. A atividade, obrigatória, vale nota. 

Em alguns casos, o uso de ambientes virtuais de aprendizagem começa desde a etapa fundamental, como no Dante Alighieri, onde as crianças de sete anos já acessam materiais online. 

“Faz parte da cultura escolar e está muito além de um repositório digital. A plataforma é utilizada com foco na personalização do ensino, na análise dos relatórios da performance dos alunos e, em casa, para realização de tarefas e estudo”, diz Verônica Cannatá, coordenadora de tecnologia educacional.

No Dante, o modelo misto foi implantado por extrema necessidade. Em 2009, ano da pandemia de gripe A, o colégio foi forçado a suspender as aulas presenciais por dez dias.

Para os adolescentes, embora o uso da tecnologia seja natural, às vezes é necessário um processo de adaptação a propostas diferentes.

 “Em uma aula de história, ao longo do ano, a gente teve que escrever textos coletivos na plataforma online. No começo, ficamos um pouco perdidos, mas com o tempo conseguimos nos organizar. Foi um jeito interessante de estudar”, diz Pedro Franco, 17, aluno do terceiro ano do ensino médio da escola Móbile, em São Paulo.

Para Franco, o bom uso do meio virtual se reflete nas aulas presenciais. “Tive uma professora de biologia que passava a lição de casa 100% na plataforma. Quando chegava o dia de aula, ela sabia o que a turma tinha errado e acertado, era mais produtivo”. 

Um ponto negativo é a evidência de que adolescentes, em geral, não têm maturidade nem organização para estudar por longos períodos online.

O colégio Santa Maria tenta construir essa nova competência com atividades curtas e rotineiras. O professor de química, Maurício, passou a publicar diariamente alguns exercícios. “São listas com dificuldade crescente, mas algo para ser resolvido em dez minutos por vez”, diz ele, que afirma ter a adesão de 90% dos alunos.

“O melhor resultado é vê-los achando química legal porque superaram uma dificuldade. Isso cria um comprometimento do adolescente com o aprendizado dele”, afirma.

Betina Von Staa, coordenadora do censo da Associação Brasileira de Educação a Distância, ressalta que é preciso diferenciar “despejo de conteúdo” de educação: “A escola não pode se esquecer das interações dos jovens com os professores e entre eles. A tecnologia não substitui o olho no olho —nem as brigas”, afirma. 

Ela defende o uso de EaD no ensino médio como forma de liberar tempo para mais convivência. “É um luxo ter todos juntos em sala. Se faz sentido o professor gravar uma breve explanação ou passar lista de exercícios numa plataforma para liberar tempo em sala, então ótimo”, afirma.

No colégio Arquidiocesano, muitos professores optam por fazer algumas provas online como forma de ganhar tempo em sala. “Eles combinam com os alunos, a prova fica no ar durante uma hora pela plataforma. A gente evita fraudes porque cada aluno tem acesso apenas por um IP, e identifica nos relatórios se houver distorção”, diz Welington Souza, coordenador. 

O EaD serve ainda como ferramenta de recuperação paralela, conta Sueli Cain, diretora do Mater Dei. “Imagine que o professor faça uma avaliação e 20% dos alunos não consigam responder às questões. Ele não vai revisar o assunto com toda a turma, mas pode passar atividade extra para quem teve dificuldade. É uma recuperação a distância e paralela”, explica. 

Iniciativas concretas de aplicação de recursos de educação a distância no ensino presencial ainda são exceção, avalia Alini Del Magro, diretora dos cursos online do Instituto Singularidades. “Existe uma resistência, muitas vezes por não saber fazer. A cultura do EaD ainda precisa ser muito discutida. Devemos sempre nos perguntar: o que vai agregar na vida do adolescente? Tem que ter significado.”

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