Descrição de chapéu Enem

Porta do Enem tem de abraço voluntário a cerveja para rir de atrasados

Estudantes fazem provas de linguagens, ciências humanas e redação neste domingo

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São Paulo, Campinas e Belo Horizonte

Na porta dos locais de prova do Enem, cuja primeira etapa acontece neste domingo (4), dois grupos antagônicos se encontram: de um lado, voluntários encorajam e até abraçam os estudantes para acalmá-los; do outro, um público estende cadeiras de praia e leva bebida alcoólica para rir de quem chega atrasado.

Neste domingo, os candidatos farão provas de linguagens, ciências humanas e redação. O exame dura 5h30. No próximo domingo (11), as provas serão de química, física e biologia.

O estudante Renan Marques, 19, percorreu 20 km de Diadema (Grande SP) até a Uninove da Barra Funda (zona oeste da capital) só para assistir a quem chega atrasado e perde a chance de fazer a prova. Ele também trouxe um isopor com bebidas alcoólicas. "Vim para dar umas risadas e dar uma cerveja para quem se atrasar. Também não é o fim do mundo", diz.

Julio Cesar Silva, levou até cadeiras de praia para o local. Morador da Penha, chegou às 11h para não perder o "evento". Estudante da Uninove, ele nunca participou do Enem. "A pessoa tem um ano para se preparar. Se chega atrasada, não merece participar da prova", ele ri.

"É a seleção natural do mundo. Se a pessoa não consegue nem chegar a tempo para a prova, ela não vai conseguir nada nessa vida", diz Eduardo Artigas, 28.

Aluno atrasado junto com grupo de jovens que esperavam estudantes que perderam a hora no Enem
Aluno atrasado (centro) se une a grupo de jovens que esperavam estudantes que perderam a hora no Enem - Eduardo Anizelli/Folhapress

Luis Fernando de Castro, estudante de 21 anos, chegou faltando 8 minutos para o início da prova. Conseguiu entrar no prédio, mas ao chegar na sala, percebeu que tinha esquecido seus documentos. Mostrou a carteirinha de estudante, mas os fiscais lhe disseram que era necessário o RG. Ao sair, diz que o problema maior é a bronca que vai levar da mãe.

"Era ela quem queria que eu fizesse. Eu nem estudei, então estou suave", conta ele, com uma cerveja na mão, doada por um dos espectadores.

Em Campinas (SP) e na capital, jovens do grupo religioso Aliança Bíblica Universitária, chegaram cedo para oferecer “abraços grátis” aos vestibulandos.

“É um momento em que as pessoas estão precisando de um acolhimento. Nós já passamos por isso e queremos dar o apoio que nós não recebemos”, diz Mariana Camata, 18, aluna do Mackenzie, que foi à Unip da capital para acompanhar a prova. 

Thalia Figueiredo, 21, diz que muitos chegam à prova nervosos e gostam de receber orações e palavras de conforto. Além disso, o grupo tem um canal no Youtube em que divulgam informações sobre cursos e a vida universitária. Eles levaram cartazes de incentivo e apoio, com dizeres como "Mantenha a calma", "Vai dar tudo certo, confie" e "Tô preparada para arrasar".

Em Belo Horizonte, membros de um grupo de jovens católicos, Natalia Izis, 21, e Mariane Fernandes, 19, foram até a PUC para distribuir abraços e mensagens de boa prova em papeizinhos vermelhos em formato de coração. "É um momento de aflição, então a presença de Deus acalma", diz Izis com os olhos marejados.

Antes do início da prova, conversaram, rezaram e distribuíram abraços com o objetivo de acalmar os estudantes. "A ideia é interceder pelo sonho deles. Eles chegam nervosos, desmotivados, não acreditam no seu potencial", diz Janaína Mendonça, 25.

A missão chamada "Jesus no Enem" é uma iniciativa da Renovação Carismática Católica. Segundo os voluntários, o abraço faz com que os estudantes se sintam acolhidos. "Um deles disse que a mãe lhe tinha dito que anjos acalmariam seu coração", contou Everton Vieira, 32. 

Em São Paulo, ​Ingrid Natali, 23 anos, foi a um dos locais de prova torcer para que ninguém se atrasasse. Em 2014, ela prestou o exame e chegou faltando apenas 5 minutos para os portões fecharem. "Eu moro na Brasilândia. O ônibus atrasou, teve acidente no caminho, deu tudo errado. Graças a Deus consegui fazer a prova, fiz faculdade e me formei. Eu venho ver os atrasados, mas torço para que consigam entrar, porque já passei por isso", relata. 

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