'Atendi a 35 mil pacientes em quatro anos e meio', diz médico do dr.consulta

Bruno Reis é o diretor médico da rede de clínicas fundada por Thomaz Srougi, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2019

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São Paulo

Desde que se formou em medicina, Bruno Reis tinha em mente que podia ajudar a melhorar a sociedade com seu trabalho. Na pequena São José do Barreiro (a cerca de 273 km de São Paulo), ao mesmo tempo em que atuava no consultório, atendia a população, sempre que podia, no que chamava de projeto social particular.

Mas, quanto mais trabalhava, mais o médico se frustrava ao ver que não conseguia dar escala ao atendimento e que não tinha tanta estrutura para melhorar a saúde dos pacientes.

E só foi conseguir isso após vir para São Paulo e ser convidado por Thomaz Srougi, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2019, para uma pizzada, em 2011. Nesse evento, com mais médicos, ouviu o administrador paulistano falar de um projeto de uma clínica popular, que ofereceria serviços médicos de alta qualidade a preços módicos.

 

“Daquele jantar, eu me lembro que no final eu fui procurar o Thomaz. Senti ali que tudo o que sonhei poderia estar próximo de ser concretizado”, diz ele.

E foi. Tanto assim que participou ativamente da criação da primeira unidade do dr.consulta, em 2011, em Heliópolis, na zona sul da capital paulista. “Vi subir cada tijolinho, a inauguração, a recepção da comunidade. Foi algo muito especial.”

Especial também, segundo ele, foi ver o crescimento da rede de clínicas, ao mesmo tempo em que atendia a mais e mais pacientes. “Cheguei a atender 35 mil pacientes em quatro anos e meio”, diz ele, que hoje é diretor médico do dr.consulta, que conta com uma rede de 59 clínicas, instaladas em São Paulo, Santos, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

A seguir, relembra sua trajetória dentro do dr.consulta.

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Eu fui o primeiro médico do dr.consulta. Comecei em 2011 em Heliópolis, onde eu fazia clínica médica. Abraçava todas outras especialidades, atendia pediatria, ginecologia, fazia quase um programa de saúde da família.

Conheci o Thomaz [Srougi, CEO do dr.consulta] quase um mês antes de inaugurar a clínica, quando ele me contou um pouco do projeto. Eu fui conversar com ele no final de um evento que tinha por volta de 40 médicos. Eu fiquei encantado.

Fui entender um pouco melhor o quão escalável era esse projeto. Fiz algumas perguntas e o que mais me chamou a atenção foi a visão dele para cinco, dez anos. Tudo o que eu perguntava ele trazia muito rápido.

Naquele momento, eu fazia algo social no interior de São Paulo, em São José do Barreiro, mas não tinha escalabilidade no processo, não tinha tecnologia.

Então, quando eu conheci o Thomaz, eu pude enxergar um pouco do quanto aquilo poderia mudar o cenário da saúde no Brasil. De fazer benfeito, de tirar um pouco da burocracia do processo.

Quando conheci a clínica, ela estava em construção, o tijolinho ainda estava sendo colocado.

O primeiro impacto foi pensar em dois lados. Um era que a iniciativa seria muito legal. Que a gente poderia ajudar muito naquela região. Estaríamos próximos das pessoas que precisavam de ajuda.

O outro lado era o da preocupação com a segurança como um todo. Mas eu sempre falo que isso foi quebrado logo no primeiro dia que pisei na clínica. Tivemos uma grande recepção. Prepararam um bolo. Você via que era uma comunidade mesmo. O gelo foi logo quebrado.

Eu ia trabalhar feliz da vida. Acabei conhecendo  famílias inteiras. Comecei atendendo algumas pessoas bem próximas da clínica, e o atendimento foi crescendo com o boca a boca.

A gente atendia a uma pessoa e, depois de uma semana, vinha toda a família do Nordeste.

Via que tinha muito o que agregar para aquela população. Trabalhar lá trouxe um sentimento de gratidão para mim. Conseguiria atender a muito mais gente, com um impacto social.

Não havia um fácil acesso à clínica [de Heliópolis] e começamos a ter alguns problemas de segurança. A gente resolveu, até pela acessibilidade dos pacientes, estar mais próximo do metrô [em 2013, o dr.consulta saiu de Heliópolis e se instalou no Sacomã para atender àquela região].

Com essa mudança, não deixamos de atender àquela comunidade e poderíamos escalar mais. Havia pacientes da zona leste, da zona sul que pediam que gente pudesse estar mais próximo, mais acessível para eles.

Eu tenho uma história que me marcou nesses oito anos de dr.consulta. Em Heliópolis, uma paciente nos procurou dizendo que fazia praticamente três semanas que estava pulando de pronto-socorro em pronto-socorro, mas que ninguém resolvia o problema dela. Não conseguia, muitas vezes, nem o primeiro contato com o médico.

Ela marcou uma consulta comigo, fiz o atendimento e pedi exames. Só que a paciente tinha dificuldades para ir até o consultório. Sentia dores nas pernas e mal-estar.

Quando recebi os exames, vi que ela precisava fazer tratamento com insulina. O diagnóstico era de diabetes tipo 2.

Peguei o meu carro e fui até a casa dela. Ao abrir a porta, e ela me reconheceu e falou: “Ah, você é o médico do dr.consulta”. Falei que tinha recebido os exames e que queria conversar um pouco. Expliquei o porquê da visita e a paciente ficou superfeliz.

Passou uma semana, ela trouxe toda vizinhança inteira e todos os parentes dela para o dr.consulta. Ela continuou fazendo o acompanhamento comigo por praticamente três anos até quando eu saí [daquela função].

Eu fiquei atendendo por cerca de quatro anos e meio. Atendi por volta de 35 mil pacientes. Cheguei atender em 18 clínicas em São Paulo até que depois eu vim para a parte de gestão, como chefe de especialidades clínicas.

Hoje, estou como diretor médico assistencial, cuidando da área clínica, cirúrgica e exames. Cuido da área de inteligência de escala médica, execução de protocolos clínicos, relacionamento médico e excelência médica.

Agilidade, acessibilidade, poder de escala, com o paciente conseguindo encontrar tudo praticamente para o mesmo dia em relação a consultas e exames, são as eficiências maiores do dr.consulta.

Somos uma lacuna deixada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e pelos planos de saúde. Um modelo de gestão muito forte, que não tem burocracia. Estamos muito focado no que é o melhor desfecho clínico para o paciente.

Dividimos São Paulo em diversas microrregiões assistenciais, com todos os serviços dentro de uma cadeia assistencial.  Na microrregional zona sul, por exemplo, o paciente encontra todas as especialidades médicas por lá. Pode realizar todos os exames tendo um deslocamento menor.

A gente não visa somente a produtividade, nem somente o lado financeiro. Mas, sim, o impacto social, tirar as pessoas das filas do SUS, das filas do plano de saúde, dar acesso, ter qualidade no atendimento, criar grupos de médicos vinculados a protocolos.

Enfim, um projeto que pensa realmente na saúde dos pacientes, no trabalho dos médicos e no sistema como um todo.

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