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Combater a fome e nutrir a empatia

Dados revelam que o coronavírus expôs, se alimentou e aumentou as desigualdades de renda, gênero e raça já existentes no país; é preciso agir

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Luiza Serpa

Diretora do Instituto Phi, organização social que faz assessoria de filantropia para indivíduos e empresas

De um lado, mais da metade dos 211 milhões dos brasileiros e brasileiras sem acesso pleno a alimentos, nos mais variados níveis de insegurança alimentar. Dos quais 18,8 milhões, ou 15%, estão efetivamente passando fome, segundo estudo da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB).

Do outro, 65 bilionários brasileiros que, em 2020, quase dobraram a fortuna acumulada, atingindo a marca de US$ 127,1 bilhões (R$ 1,2 trilhão), de acordo com levantamento da revista Forbes. Desses, 20 ingressaram na lista de bilionários em dólares justamente durante a pandemia de Covid-19.

Os dados revelam que o coronavírus expôs, se alimentou e aumentou as desigualdades de renda, gênero e raça já existentes no país, deixando ainda mais claro que o atual modelo econômico só tem funcionado para um pequeno grupo de pessoas.

Segundo projeção da FGV Social, quase 27 milhões de pessoas no Brasil estão na miséria, vivendo com menos de R$ 246 ao mês, neste começo de ano. É mais que a população da Austrália.

Comércios fechados, economia paralisada e explosão do desemprego não abalaram a saúde financeira dos multimilionários —pelo contrário. Por outro lado, as medidas de proteção social tomadas até agora permanecem insuficientes e muitas pessoas em extrema pobreza sequer conseguiram acessar o auxílio emergencial oferecido pelo governo federal. O pior da pobreza, infelizmente, ainda está por vir.

Um outro estudo, este da Oxfam, revela dados estarrecedores, como o fato de que as 1.000 pessoas mais ricas do mundo levaram apenas nove meses para recuperar todas as perdas que tiveram por causa da pandemia; enquanto as pessoas mais pobres do planeta levarão no mínimo 14 anos para conseguir repor as perdas devido ao impacto econômico da Covid-19.

Não podemos mais viver à beira desse abismo. Se não é agora a hora de as pessoas mais ricas e das grandes empresas nutrirem a empatia e se posicionarem em questões contemporâneas importantes, como a redução das desigualdades, quando será?

Doar, neste momento, é um ato político. É acreditar que a transformação é possível e participar ativamente da construção de um Brasil melhor.

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