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As prioridades de um negócio de impacto social

É preciso escolher quais batalhas enfrentar para empreender com propósito

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Marcus Nakagawa

Professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, autor premiado com o Jabuti 2019, palestrante e idealizador da Abraps e do Dias Mais Sustentáveis.

Em muitas aulas, workshops, palestras e conversas questiono as pessoas sobre quais são os desafios do nosso mundo. Algumas trazem as famosas “dores” pessoais, outras trazem problemas coletivos e alguns estímulos que têm lido ou assistido em filmes ou documentários.

Os grandes desafios do mundo são diversos, e quando trazemos para a realidade de um país, estado ou cidade, às vezes, continuam numerosos. Talvez o famoso “recorte” para o bairro ou território que estamos trabalhando possa trazer uma solução em forma de projeto-piloto, para depois buscar uma expansão.

Para isso, em 2015, vários países se uniram e chegaram aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Colocaram 169 metas para serem batidas em 2030 —um sonho coletivo como humanidade pensante num planeta finito.

Os países que fizeram os acordos e estão seguindo essa agenda para um efetivo desenvolvimento sustentável estão ano a ano verificando e acompanhando esses indicadores.

O Relatório LUZ 2021, que envolveu mais de 100 pesquisadores, peritos e profissionais de 60 organizações que atuam com tópicos da Agenda 2030 e os ODS, traz dados sobre o Brasil.

“A destruição de direitos sociais, ambientais e econômicos, além de direitos civis e políticos, arduamente construídos nas últimas décadas, fica patente nas 92 metas (54,4%) em retrocesso; 27 (16%) estagnadas; 21 (12,4%) ameaçadas; 13 (7,7%) em progresso insuficiente; e 15 (8,9%) que não dispõem de informação; (meta 8 não é aplicável ao Brasil e, por isso, não foi classificada). Este ano não há uma meta sequer com avanço satisfatório."

Com a pandemia de Covid-19, crise econômica, decisões governamentais, desmatamento, entre outros fatores, as metas não evoluíram.

E um dos pontos preocupantes é a falta de informação —algo que é apontado também como fraqueza nos negócios de impacto, principalmente no momento de avaliar o impacto social ou ambiental realizado. Para os empreendedores socioambientais, muitas vezes o que falta é a definição de prioridades, tanto na vida pessoal como na profissional.

Quem é empreendedor, seja no modelo tradicional ou no setor social, sabe como é difícil lidar com a separação da vida pessoal e a corporativa, muitas vezes tendo que abrir mão de horas com a família por horas de trabalho.

Há uma idealização de que empreender é ótimo, pois conseguimos fazer tudo aquilo que sempre quisemos. Não estamos “amarrados” em um emprego com um chefe.

Mas o que efetivamente você, empreendedor, deseja realizar? Qual é sua prioridade? O que você não vai fazer ou vai deixar de fazer?

É fundamental saber suas escolhas tanto na área profissional como na pessoal para, com isso, dar preferência e foco ao que é importante e chegar no objetivo definido. As tentações de desviar deste foco são várias, mas basta dizer não.

E assim também é na hora de escolher os desafios do mundo ou do território você atuará, ainda que estejam interligados. É neste momento que precisamos escolher qual batalha enfrentar primeiramente. Enfim, qual dos 17 ODS e das 169 metas atacar?

Na teoria é fácil falar. Na prática, podemos buscar exemplos como o do Edu Lyra, da ONG Gerando Falcões, destaque no Prêmio Empreendedor Social em 2020 por suas ações de mitigação da pandemia.

No projeto Favela 3D, ele tem clara a prioridade de vencer a pobreza. Em suas últimas publicações, o empreendedor social afirmou que quer erradicar a miséria antes da conquista do espaço por bilionários.

Para isso, escolheu um território no interior de São Paulo, em São José do Rio Preto, em parceria com outra empreendedora social, a Amanda Oliveira, fundadora do Instituto As Valquírias, ONG local da rede Gerando Falcões, para implementar o projeto.

Juntos, eles dizem que colocarão a pobreza da favela no museu. Projetos como este podem melhorar nossos índices nos ODS e, mais importante que isso, ser um projeto-piloto para outros locais do país.

Ainda que difíceis, as prioridades são fundamentais para qualquer empreendedor, principalmente para o de impacto, que quer fazer uma transformação social ou ambiental.

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