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'Você não tem noção do que significa essa ONG. É o que alimenta a gente'

Para dar de comer aos dois filhos e à avó, moradora de Osasco contou com a campanha Brasil sem Fome, finalista no Empreendedor Social 2021

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Gisele Vitória
São Paulo

Mariana Aparecida Lourenço, 33, mora na comunidade Munhoz Júnior, na cidade de Osasco (SP). Trabalha no Recomeçar, programa da prefeitura que é voltado a egressos.

Na pandemia, contou com a ONG Banco de Alimentos para dar de comer aos dois filhos, de 8 e 13 anos, à avó de 81 anos e ainda distribuir verduras e legumes na favela. O marido encontra-se desempregado. A família sobrevive hoje com renda de R$ 1.400, contando com Bolsa Família.

mulher negra de cabelos compridos na rua
Mariana Aparecida Lourenço, 33, contou com apoio da ONG Banco de Alimentos na pandemia - Arquivo pessoal

A iniciativa Brasil sem Fome, liderada por Luciana Quintão, foi finalista da edição 2021 do Prêmio Empreendedor Social do Ano em Resposta à Covid-19.

'Você tem algum legume em casa? Não tenho o que comer.' Assim uma vizinha bateu na porta de casa no começo de 2020. Respondi: 'Não tenho também'. Foi me dando uma angústia. Passar fome é uma dor. Já passei muitas dificuldades. Devido à pandemia, nossa situação era bastante precária.

Trabalhei no Ceagesp como ambulante, por 15 anos, e tenho amizade lá. Naquele dia, pusemos gasolina na perua de um vizinho e voltamos com 30 caixas de frutas e verduras que seriam descartadas.

Era uma felicidade chegar à comunidade e organizar as doações. O pastor conseguiu um ponto para a distribuição. Formei, então, três grupos no WhatsApp para não gerar aglomeração. Fiz isso por oito meses, até o carro quebrar. Ajudei a mim mesma e a minha família e a comunidade.

Minha casa tem um cômodo pequenininho e um banheiro. Foi reconstruída pelo meu marido, depois de desabar durante um temporal há quatro anos. Por conta do córrego que passa atrás, já acordamos com rato em cima da gente. Meu marido trabalhava como gari, mas perdeu o emprego. Hoje faz bicos.

A Banco de Alimentos ajuda muito a comunidade. É maravilhoso o trabalho deles. Conto com eles para completar minha renda. É o que alimenta a gente. Comecei a ser beneficiada na pandemia. A gente recebe a cesta básica e legumes uma vez por mês.

Felizmente, não pegamos Covid-19. Minha vida sempre foi difícil, de superações. Meu pai foi assassinado numa briga, quando eu tinha dois anos. Minha mãe se casou de novo. Éramos 10 irmãos. Meu padrasto batia na minha mãe e também na gente. Duas irmãs se envolveram com drogas. Viviam na rua. Uma morreu. ​

Minha avó me pegou para morar com ela. Isso me protegeu. Ela também apanhava do meu avô. Venho de uma geração de mulheres vítimas da violência. Hoje considero a minha vida satisfatória, mesmo com todas as dificuldades.

Acabei de passar em um concurso da prefeitura como servente em escola. Quero retomar meus estudos.

Farei supletivo para realizar o meu sonho de fazer uma faculdade e me tornar assistente social. Sempre sonhei com essa profissão, desde menina. Eu gosto de ajudar as pessoas.

Faço apelo para que as empresas ajudem a Banco de Alimentos. Você não tem noção do que significa essa ONG na comunidade. Quando o pessoal chega e fala que vai distribuir, dá gosto ver o sorriso e o brilho nos olhos das pessoas que passam dificuldade.

Só sente quem passa por isso. Desejo que a Banco de Alimentos se expanda para todas as comunidades.

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