A prisão humanizada é tudo na minha vida, diz ex-detento na abertura do Fiis

Talk show com empreendedores sociais e beneficiários da Rede Folha abriu o festival nesta sexta

Everton Lopes Batista
Poços de Caldas (MG)

Quando foi levado para uma prisão humanizada do modelo Apac (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), na qual os detentos estudam, trabalham e tomam conta da segurança e manutenção do prédio, Cleubert Oliveira diz que seu principal objetivo era fugir.

Quase duas décadas depois, o ex-detento já cumpriu a pena, conseguiu um diploma universitário e se sente privilegiado por ter passado por uma prisão como essa.

“Aos 16 anos, eu já estava completamente envolvido com a criminalidade, não sabia nem ler e escrever. Foi só na Apac que comecei a me dar conta disso“, disse o bacharel em direito no talk show de abertura da primeira edição Fiis (Festival de Inovação e Impacto Social), realizado em Poços de Caldas (MG) na noite desta sexta-feira (2).

“Hoje, realizei meu sonho, que era me formar na faculdade, e cuido dos meus três filhos. Tudo que eu tenho na minha vida é graças à Apac”, completou.

Para Valdeci Ferreira, que lidera a Fbac (Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados), órgão que dissemina o método Apac no Brasil, o modelo não é perfeito, mas é uma alternativa para a sociedade brasileira.

“Há fugas e outros problemas, mas não temos rebeliões e mesmo as fugas são muito reduzidas se compararmos com o sistema penitenciário tradicional”, afirmou Ferreira, vencedor do Prêmio Empreendedor Social em 2017. A premiação é realizada pela Folha, em parceria com a Fundação Schwab, há 14 anos no Brasil.

“Nosso grande desafio está, na verdade, do lado de fora das prisões por causa do preconceito. Muitos pensam que prender vai resolver o problema, mas se esquecem de que o detento vai voltar para a sociedade ainda mais violento”, disse.

A primeira sessão do festival, apresentada pela jornalista da Folha Teté Ribeiro, reuniu representantes de instituições que promovem ações sociais e beneficiários para uma conversa sobre os impactos do voluntariado.

Para Lanna Eloisa Oliveira de Jesus, beneficiária da Turma do Bem, fundada por Fábio Bibancos, vencedor do prêmio em 2006, a transformação dentária trouxe melhorias que foram além de sua saúde. “Passei a sorrir e a conversar sem ter vergonha. Fiz um curso de auxiliar de dentista, já estagiei e agora quero ser uma dentista também”, disse.

No entanto, é necessário que as instituições que promovem ações sociais através de voluntários se profissionalizem ainda mais para que se sejam sustentáveis e vejam suas iniciativas chegar mais longe, de acordo com Merula Steagall, mentora da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e vencedora Prêmio Empreendedor Social 2013, organização que oferece suporte para pacientes onco-hematológicos

“Temos de nos profissionalizar se quisermos nos consolidar como atores importantes na economia e na sociedade”, afirmou. Segundo Marcelo Alonso, da Lunedi, o evento vai dar a oportunidade para que as trocas de experiências entre os participantes sirvam para melhorar o setor.

“Precisamos tornar o tema da sustentabilidade mais divertido, aproximar do interesse das pessoas, e aqui, neste festival, vamos encontrar uma resposta para este desafio”, afirmou na abertura do evento.

Ainda na abertura, Leonardo Ganzarolli, conselheiro da Turma do Bem, acrescentou que a realização do festival em um ano complexo e tumultuado torna o evento um espaço de esperança, capaz de promover a continuidade de trabalhos sociais relevantes que já são realizados há tempos.

Festival

O Fiis acontece entre os dias 2 e 7 de novembro no Palace Cassino, em Poços de Caldas (MG). O evento agrega o encontro anual da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, formada por cem líderes, o Congresso Sorriso do Bem, da Turma do Bem, correalizadora desta edição, e o Fórum Melhores Práticas para Saúde no Terceiro Setor, da Aliança Latina.

Na programação, temas como o futuro dos negócios sociais e das ONGs, captação, mobilização e conexão, inovação e novo significado do voluntariado serão discutidos durante masterclasses, workshops e painéis que contarão com a participação de empreendedores, investidores e empresas que atuam por impacto positivo.

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