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Gordura abdominal aumenta risco de demência mesmo em pessoas com peso normal

Alimentação balanceada aliada com exercícios físicos é a única forma efetiva de se livrar dela

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Jane E. Brody
The New York Times

Se você não tem vontade de fazer nada para proteger a saúde, pense pelo menos em tirar uma medida honesta da sua cintura. Fique de pé, expire (não vale encolher a barriga!) e, com uma fita métrica, meça sua circunferência de 2,5 a 5 cm acima dos ossos do quadril.

O resultado tem implicações muito maiores do que qualquer preocupação que você tenha a respeito da aparência e do caimento das roupas. Em geral, se a cintura mede mais de 89 cm para mulheres e 1 m para os homens, há grandes chances de você estar armazenando uma quantidade perigosa de gordura abdominal.

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Vadym/Adobe Stock

A adiposidade subcutânea, aquela que toma a forma dos famosos "pneuzinhos" ou se esconde sob a pele das coxas, nádegas ou parte superior dos braços, pode ser um problema estético, mas é inofensiva.

Já a da barriga, mais profunda – visceral, que se acumula em volta dos órgãos abdominais – é ativa metabolicamente e está intrinsecamente ligada a uma série de riscos de problemas graves, incluindo doenças cardíacas, câncer e demência.

A pessoa não precisa ter sobrepeso ou ser obesa para correr esse risco se tiver excesso de gordura no abdome; quem tem peso normal também pode acumular quantidades perigosas de tecido adiposo sob a parede abdominal.

Além disso, esse não é o tipo de gordura de que pode se livrar apenas tonificando os músculos, com malhação. O emagrecimento com uma dieta saudável e exercícios como caminhada e musculação são as únicas maneiras infalíveis de se livrar dela.

Até a meia-idade, os homens geralmente possuem uma porcentagem maior de gordura visceral do que as mulheres, mas o padrão geralmente se inverte quando elas passam pela menopausa.

Poucas parecem escapar do aumento da cintura nesse período porque a gordura do corpo se redistribui, e a visceral acaba se depositando na barriga.

E as células de gordura visceral são muito importantes para nosso bem-estar. Ao contrário das de gordura subcutânea, elas formam basicamente um órgão endócrino que secreta hormônios e várias outras substâncias químicas ligadas a doenças que, em geral, afligem os mais velhos.

Em uma pesquisa feita com enfermeiras durante 16 anos, os pesquisadores descobriram que uma dessas substâncias, a chamada proteína transportadora de retinol 4 (RBP4), aumenta o risco do surgimento de doenças coronárias.

Esse perigo provavelmente resulta dos efeitos prejudiciais dessa proteína sobre a resistência à insulina, a precursora da diabete tipo 2, e do desenvolvimento da síndrome metabólica, um complexo de fatores de risco para o coração.

O Estudo com Um Milhão de Mulheres, realizado no Reino Unido, demonstrou uma ligação direta entre as doenças cardíacas e o aumento da circunferência da cintura ao longo de um período de 20 anos. Mesmo quando outros fatores de risco coronários foram levados em conta, as chances de se desenvolver males do coração eram o dobro entre as mulheres com as cinturas mais largas: cada 2,5 cm a mais aumentava o risco em 10%.

O perigo de câncer também aumenta com o acúmulo de gordura na cintura: as chances de desenvolver câncer colorretal quase dobraram entre as mulheres na pós-menopausa que acumularam adiposidade visceral, segundo uma pesquisa coreana. O de câncer de mama também aumentou.

Em um estudo com mais de três mil mulheres na pré e na pós-menopausa em Mumbai, na Índia, as que tinham a cintura e o quadril mais ou menos do mesmo tamanho possuíam de três a quatro vezes mais riscos de ter um diagnóstico de câncer de mama do que as com peso normal.

Um estudo holandês publicado em 2017 relacionou tanto o total de gordura corporal como a abdominal a um risco maior de câncer de mama. Quando as mulheres do estudo perderam peso – cerca de 5,5 kgs em média – as mudanças nos biomarcadores como o estrogênio, a leptina e as proteínas inflamatórias indicaram uma redução desse risco.

Considerando-se que dois terços das norte-americanas estão acima do peso ou são obesas, emagrecer pode muito bem ser a melhor arma para reduzir a alta incidência de câncer de mama nos EUA.

Talvez o mais importante no que diz respeito ao custo para os indivíduos, as famílias e o sistema de saúde seja a ligação entre a obesidade abdominal e o risco de desenvolver demência décadas depois.

Um estudo com 6.583 membros da organização Kaiser Permanente, no norte da Califórnia, acompanhados por uma média de 36 anos, descobriu que aqueles com maior obesidade abdominal na meia-idade tinham quase três vezes mais chances de desenvolver demência três décadas depois do que os com menos gordura na cintura.

Ter um abdome maior aumentou o risco de demência nas mulheres mesmo que elas sempre tenham tido peso normal e não apresentassem outros riscos para a saúde relacionados com demência, como doenças cardíacas, acidentes vasculares e diabete.

Entre outros problemas médicos ligados à gordura abdominal estão a resistência à insulina e o risco da diabete tipo 2, comprometimento da função pulmonar e enxaqueca. Até mesmo o risco de asma aumenta com o excesso de peso e especialmente com a obesidade abdominal, segundo um estudo com 88 mil professores da Califórnia.

No geral, de acordo com as descobertas de um estudo com mais de 350 mil europeus de ambos os sexos publicado no New England Journal of Medicine, ter uma cintura mais ampla pode quase dobrar o risco de morte prematura, mesmo se o peso da pessoa for normal.

Todas essas informações geram uma dúvida: qual é a melhor maneira de se livrar da gordura abdominal e, mais importante ainda, como evitar seu acúmulo na cintura?

É bem provável que você já tenha visto na internet anúncios miraculosos para acabar com ela. Antes de jogar dinheiro fora, saiba que não existe nenhuma pílula ou poção cientificamente conhecida para dissolvê-la. É preciso esforço para obter resultados, o que significa evitar ou limitar drasticamente o consumo de certas substâncias, controlar a ingestão calórica geral e fazer exercícios que queimem calorias.

Talvez o pior agressor seja o açúcar, em todos os formatos, especialmente a frutose, que constitui metade da sacarose e 55% do xarope de milho.

Uma das melhores maneiras de diminuir sua ingestão é parando de tomar refrigerante e outras bebidas adoçadas, entre elas os sucos de fruta, e limitando a ingestão de álcool, que pode suprimir a queima de gordura e somar calorias nutricionalmente vazias. Evitar carboidratos refinados como pão e arroz brancos também ajuda.

Certifique-se de que sua dieta contém quantidades adequadas de proteína e fibras, incluindo vegetais, feijões, ervilhas e grãos integrais.

Durma o suficiente, pelo menos sete horas por noite. Em um estudo com 68 mil mulheres acompanhadas por 16 anos, aquelas que dormiam menos de cinco horas tinham 30% mais chances de engordar cerca de 15 kgs.

Por fim, movimente-se mais. Um grande estudo nacional mostrou que o ganho de peso e a obesidade abdominal estão mais ligados à falta de atividade do que à ingestão de calorias.

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