Cura para doença celíaca é distante, mas ciência investe em qualidade de vida

Medicamentos ainda podem demorar mais de dois anos para entrar no mercado

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Alice Callahan
The New York Times

A pesquisa científica fez algum progresso em direção à cura ou tratamento da doença celíaca?

Até cerca de 15 anos atrás, as empresas farmacêuticas demonstravam pouco interesse pelo desenvolvimento de medicamentos para a doença celíaca, disse Alessio Fasano, diretor do Centro de Pesquisa e Tratamento Celíaco do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston.

Na época, os pesquisadores sabiam que, para as pessoas com essa doença, consumir glúten –uma proteína encontrada em trigo, centeio e cevada– causava danos ao intestino delgado. Mas eles não entendiam como ou por que o glúten tinha esse efeito. E, segundo Fasano, parecia que já havia uma maneira simples de controlar a doença celíaca: adotar uma dieta sem glúten.

Um pote de medicamentos laranja cilindrico em cima de fatias de pão de forma. Fundo laranja claro
Quão perto estamos da cura para a doença celíaca? - Erick Helgas/The New York Times

Para o cerca de 1% das pessoas que têm essa condição autoimune, evitar o glúten é o único método para impedir os danos ao intestino delgado e aliviar os vários sintomas da doença, que podem incluir dor abdominal, diarreia, constipação, depressão, fadiga, dor de cabeça, erupções cutâneas com bolhas e anemia por deficiência de ferro.

Consumir quantidades minúsculas de glúten –apenas uma migalha de pão de uma tábua, por exemplo– pode reativar os sintomas e danos intestinais. E manter uma dieta rigorosa sem glúten em um mundo cheio de ingredientes ocultos que contêm a substância requer vigilância constante e faz com que comer fora, viajar e ir à escola seja arriscado e provoque ansiedade, disse Fasano.

Em uma pesquisa publicada em 2014, 341 pessoas com doença celíaca classificaram o esforço para gerenciar sua condição como pior do que aquelas que tinham refluxo ácido crônico ou pressão alta, e semelhante às que viviam com diabetes ou doença renal que exigia hemodiálise.

Apesar de tentar evitar o glúten, até 30% das pessoas com doença celíaca ainda apresentam sintomas, disse Elena Verdú, professora de gastroenterologia da Universidade McMaster, em Ontário (Canadá).

Os alimentos sem glúten também podem ser mais caros do que os que contêm glúten, e muitas pessoas não têm acesso ao apoio de um nutricionista para ajudá-las a planejar uma dieta equilibrada e sem glúten, disse Verdú.

À medida que ficou mais claro que manter uma dieta sem glúten não é simples nem satisfatório para muitos pacientes celíacos, os pesquisadores também fizeram avanços recentes na compreensão do funcionamento da doença. Agora entendemos "quase passo a passo o progresso do momento em que você digere o glúten até o ponto em que ele destrói seu intestino", disse Fasano. "Um mundo inteiro se abre em termos de novos tratamentos."

Existem 24 terapias potenciais em vários estágios de desenvolvimento, de acordo com a Fundação da Doença Celíaca. As que estão sendo testadas têm como alvo diferentes etapas no curso da doença, disse Fasano. Algumas são com enzimas destinadas a melhorar a digestão do glúten, dividindo-o em fragmentos menores e menos prejudiciais.

Outras abordagens tornam o revestimento do intestino delgado menos poroso, de modo que é mais difícil para o glúten parcialmente digerido penetrar no corpo. Outras ainda visam o sistema imunológico, para evitar que ele danifique o intestino em resposta ao glúten, disse Fasano.

Se provadas seguras e eficazes, essas terapias potenciais provavelmente não seriam curas para a doença celíaca, mas poderiam mitigar os efeitos de comer pequenas quantidades acidentalmente, disse Verdú.

Ainda assim, elas provavelmente estão pelo menos a alguns anos de serem aprovadas. "O projeto e a aprovação de medicamentos são um caminho realmente muito longo", disse Verdú, cuja clínica está participando de vários testes, mas não tem vínculos financeiros com os medicamentos.

Das terapias potenciais em desenvolvimento, a mais avançada –agora sendo testada em um estudo de Fase 3– é uma droga chamada larazotida, que diminui a porosidade do intestino delgado. Na melhor das hipóteses, a larazotida poderia ser aprovada e estar no mercado dentro de dois a três anos, disse Fasano, que participou do desenvolvimento do medicamento e tem interesse financeiro nele.

Mas, acrescentou, para cada cinco ou seis medicamentos testados na Fase 3, apenas um ou dois serão aprovados. Várias outras terapias potenciais estão agora em ensaios de Fase 2, o que pode significar de cinco a seis anos para entrar no mercado, disse Fasano.

O custo das terapias celíacas pode variar. Os tratamentos com larazotida e enzimas digestivas são relativamente baratos –"custam centavos para ser produzidos", disse Fasano–, mas os medicamentos direcionados à resposta imune ou inflamatória seriam mais caros.

Luiz Roberto M. Gonçalves

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