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Quer tornar uma atividade física mais tolerável? Tente alguma distração

Estudo com corredoras corroborou resultados de trabalhos que recomendam não focar no exercício para torná-lo mais fácil

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Gretchen Reynolds
The New York Times

Para tornar a corrida mais fácil, tente prestar atenção em qualquer coisa que não seja o seu corpo. É o que diz um estudo sobre as maneiras como nos concentramos enquanto nos movemos e que podem afetar nossa sensação.

O trabalho foi pequeno e envolveu corredoras iniciantes, mas os resultados sugerem que quanto mais atentamente as corredoras "escutam" seus corpos mais desgastante pode ser a corrida, tanto física quanto psicologicamente. Por outro lado, quanto mais as corredoras se distraem do que seus corpos estão fazendo ao colocar um pé na frente do outro, mais fácil parece a corrida e melhor é seu desempenho.

Foto recortada de uma jovem mulher incrível e forte fitness correndo ao ar livre pela rua.
Distrair-se durante a prática de exercícios físicos pode torná-la mais tolerável - Drobot Dean/Adobe Stock

Essas descobertas podem ser úteis para muitos corredores prestes a partir para uma maratona ou outra corrida. Os resultados também podem ter implicações para qualquer um que se pergunte como tornar os exercícios mais toleráveis.

O exercício nem sempre é uma diversão total, como a maioria de nós sabe por experiência. Pode ser fisicamente perturbador quando começamos a nos mover e nossos batimentos cardíacos e a respiração aceleram e os músculos começam a reclamar. Não está totalmente claro, entretanto, qual é a melhor forma de lidar com esses desconfortos para continuarmos motivados e, eventualmente, nos tornarmos melhores no esporte ou atividade preferidos.

Muitos treinadores e outras autoridades, incluindo parceiros de treino e amigos, dirão para você prestar atenção no que está acontecendo dentro de você e se concentrar na física do corpo, incluindo sua forma e técnica. Ouça a respiração enquanto se move, alguém pode ter dito, conte seus passos a cada minuto, ou pense no processo de levantar o joelho a cada passo.

Mas algumas pesquisas com atletas sugerem que prestar muita atenção no corpo e seus mecanismos pode ser a maneira errada de tornar o movimento mais fácil e melhorar no esporte. Em um estudo muito citado de 2003, por exemplo, bons jogadores de golfe jogaram melhor quando não pensaram em como acertar o buraco do que quando o fizeram, enquanto jogadores de futebol experientes driblam sem esforço através de cones quando suas mentes divagam, mas tendem a balançar a bola quando prestam atenção nos pés. (Novatos no futebol, entretanto, driblaram melhor quando pensavam no que estavam fazendo, talvez porque ainda não soubessem driblar.)

Esses resultados geralmente se alinham com uma teoria amplamente aceita na ciência do exercício, conhecida como hipótese de ação restrita. Ela sugere que nossos corpos sabem como se mover melhor do que nossas mentes conscientes. Quanto mais nos concentramos ou conscientemente dizemos ao corpo o que fazer, sugere a teoria, menos fluido e eficiente será nosso movimento.

Essa ideia foi corroborada por outros trabalhos que envolveram pessoas praticando diversas atividades. Em um estudo de 2017, por exemplo, 44 voluntários saltaram mais longe durante um salto longo em pé quando se concentraram em onde iriam pousar, em vez das técnicas corretas de salto.

Um estudo de 2011 sobre treinamento com pesos, 27 homens e mulheres ativaram mais os músculos do braço durante as roscas de bíceps –o que significa que o treino foi mais eficaz– quando não pensaram em como levantar o peso do que quando o fizeram. E em uma pesquisa de 2015 com remadores competitivos, 15 atletas remaram com mais eficiência quando deixaram suas mentes se concentrarem em quase qualquer coisa, menos como suas pernas se sentiam enquanto remavam.

Se uma dinâmica semelhante pode ocorrer em esportes de resistência, como corrida de longa distância, é praticamente desconhecido. Assim, para o estudo, publicado em 2021 no Journal of Motor Learning and Development, pesquisadores da Universidade do Tennessee em Knoxville (EUA) e da Universidade Shahid Beheshti em Teerã (Irã), decidiram ver se os corredores teriam um desempenho mais eficaz se fossem distraídos, em comparação com se estivessem sintonizados com o que acontecia em seus corpos.

Eles começaram recrutando cerca de uma dúzia de mulheres jovens. (A pesquisa ocorreu no Irã, onde estudos com voluntários de ambos os sexos são desencorajados, então nenhum corredor masculino participou.) As mulheres eram saudáveis, ativas e familiarizadas com a corrida, embora nenhuma corresse regularmente. Os pesquisadores as convidaram para seu laboratório para verificar a condição física de todas e a velocidade máxima de corrida na esteira.

Então, nas visitas subsequentes ao laboratório, as mulheres correram durante 6 minutos de cada vez, a cerca de 70% de sua velocidade máxima, enquanto os cientistas monitoravam seu consumo de oxigênio, a quantidade de lactato em suas correntes sanguíneas e seus sentimentos sobre a dificuldade de cada corrida.

Durante uma dessas sessões, as mulheres se fixaram intensamente nos músculos dos pés, como forma de voltar sua atenção para dentro. Em outra, elas contaram os passos, então seu foco, ainda no corpo, foi mais amplo e externo. Numa terceira corrida, elas contaram para trás de três em três, afastando a mente de seus corpos, mas não de suas cabeças. E, finalmente, numa quarta sessão, elas assistiram a um vídeo de uma partida de basquete, uma distração que desviou completamente sua atenção da corrida.

Quando os cientistas compararam as reações físicas e emocionais em cada corrida, descobriram que assistir a vídeos superava facilmente a atenção no corpo. As mulheres consumiram menos oxigênio e produziram menos lactato quando assistiram ao basquete e foram mais distraídas. Sua corrida foi menos desgastante fisiologicamente. Elas também disseram aos pesquisadores que quando assistiam aos vídeos se sentiam menos tensas. Por outro lado, a corrida parecia mais difícil quando prestavam atenção nos músculos, com as outras estratégias entremeadas.

Em essência, a pior estratégia para os corredores era "pensar em seus movimentos", diz Jared Porter, professor de movimento humano da Universidade do Tennessee, que supervisionou o estudo. Uma opção muito melhor era pensar em qualquer outra coisa.

Como é típico da ciência do exercício, esse trabalho foi pequeno e a hipótese de ação restrita permanece apenas uma teoria. Mas, como sugerem as descobertas atuais, é provável que as distrações tornem nossa corrida mais agradável e mais rápida, diz Porter.

Portanto, coloque fones de ouvido e ouça músicas ou podcasts (enquanto ainda monitora o tráfego humano e de veículos ao seu redor por segurança, é claro). Ouça o canto dos pássaros ou aprecie a paisagem enquanto corre ao ar livre, ou assista à televisão enquanto corre numa esteira.

"Ficamos surpresos com o quão significativos foram os efeitos" quando a mente das pessoas se afastou de seus corpos, pontua ele.

Sem dúvida, muitos fatores influenciam a eficácia de nosso desempenho num esporte e o quanto podemos aproveitar nossos treinos. Esse estudo analisou breves corridas de corredoras jovens e inexperientes. Ele não pode nos dizer se os resultados se aplicam igualmente a homens, idosos, corredores experientes ou pessoas em outros esportes de resistência, como ciclismo e natação.

"Mas não há nenhuma razão científica para pensar que não", aponta Porter.

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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