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'Ozempic natural' tem composto benéfico, mas sem comprovação para emagrecer

Produto é feito a base de berberina, substância usada para casos de diarreia e outras queixas gastrointestinais

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Dani Blum
The New York Times

A demanda por Ozempic –antidiabético injetável que passou a ser procurado para perda de peso—continua a aumentar, e pessoas em redes sociais vêm fazendo postagens sobre alternativas ao produto. Algumas elogiam outros medicamentos antidiabéticos, como o Mounjaro. Algumas promovem o chamado Ozempic genérico de farmácias de manipulação. E algumas alardeiam o que dizem ser uma opção mais barata, que já está disponível em farmácias e online: o chamado "Ozempic natural", mais conhecido como berberina.

A berberina é um composto químico extraído de plantas como Hydrastis canadensis e Berberis e frequentemente vendido como suplemento, geralmente em cápsulas contendo pó de cor dourada. O composto é usado na Ásia há pelo menos 2.000 anos, e médicos o utilizam há muito tempo para tratar a diarreia e outras queixas gastrintestinais. Mais recentemente, pesquisadores vêm encarando a berberina como potencialmente útil no tratamento de condições como hipertensão e resistência insulínica.

Capsules with vitamins in a plastic container on slate stone, ma
'Ozempic natural' não tem comprovação para emagrecimento - Oleksandr/Adobe Stock

Mas a berberina é muito diferente da semaglutida, o ingrediente ativo do Ozempic. Especialistas dizem que, embora a berberina exerça efeito metabólicos comprovados sobre o corpo, ainda não se sabe se ela pode de fato induzir a perda de peso. Alguns estudos limitados indicaram que ela pode exercer um papel na perda de peso, e as comparações com o Ozempic possivelmente derivam disso, mas não há dados de alta qualidade obtidos em ensaios clínicos grandes.

"Trata-se de um composto muito bom e que tem algumas evidências boas a seu favor", diz Melinda Ring, especialista em medicina integrativa na Northwestern Medicine. Mas, para ela, o entusiasmo online em torno dos efeitos de perda de peso da berberina são altamente exagerados.

"Não pense que você vai tomar berberina e que os quilos vão desaparecer, simplesmente", afirma.

Um conjunto crescente de pesquisas nos últimos 20 anos –algumas feitas em placas de Petri, outras com camundongos e ensaios pequenos, mas encorajadores, com humanos— sugerem que a berberina pode ajudar a reduzir o colesterol e regular a glicemia. Pesquisadores então estudaram se o composto pode ser útil para pacientes com diabetes, especialmente quando usado em conjunto com outros tratamentos.

A berberina também possui propriedades antimicrobianas, ou seja, ela pode ajudar a remover bactérias prejudiciais do intestino e melhorar a composição total do microbioma, diz Yufang Lin, especialista em medicina integrativa na Cleveland Clinic. Essas qualidades antimicrobianas podem ajudar a berberina a aliviar queixas gastrintestinais.

Mas quando se trata da perda de peso, os estudos com berberina são preliminares e incompletos.

Foram feitos muito poucos ensaios clínicos avaliando a perda de peso em humanos, pontua Craig Hopp, vice-diretor de divisão do Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa, e nenhum deles foi robusto. "Há um toque de plausibilidade", diz, destacando que os modelos animais indicaram que o suplemento pode provocar perda de peso –mas existe uma distância grande entre as evidências e o marketing.

Segundo Ring, a maioria das pessoas que tomam berberina toleram o suplemento bem, mas ele possui alguns efeitos colaterais documentados. As pessoas que o ingerem, mesmo nas doses padronizadas, podem apresentar náuseas ou vômito; sua pressão sanguínea pode subir e elas podem sentir formigamento nos pés e nas mãos, indica Pieter Cohen, professor da Harvard Medical School que estuda suplementos.

De acordo com Lin, a berberina também pode contribuir para provocar contrações uterinas em grávidas.

Mas, embora o suplemento propriamente dito não seja necessariamente perigoso, Cohen receia a possibilidade de os fabricantes acrescentarem outro ingrediente, como um estimulante, que poderia ser prejudicial.

Segundo Cohen, suplementos para a perda de peso estão entre os que têm mais chances de ser adulterados e potencialmente contaminados com substâncias proibidas. Dados do CDC (centros de controle e prevenção de doenças dos EUA) mostram que os fitoterápicos vendidos para perda de peso são o tipo de suplemento que mais frequentemente levam pessoas à emergência hospitalar, com pacientes muitas vezes se queixando de efeitos adversos como taquicardia ou dor no peito.

"Se o fabricante tenta incluir outra coisa, legal ou não, naquele comprimido, algo que leve a uma perda de peso observável, é então que você vai correr um risco", diz ele.

São especialmente preocupantes as possíveis interações da berberina com outros medicamentos. A berberina atua como "perpetradora", afirma Hopp. Ou seja, quando você toma determinados medicamentos ao lado da berberina, acaba com uma concentração mais alta dos medicamentos em seu sangue. Por exemplo, misturar berberina e metformina, medicamento usado no tratamento da diabetes tipo 2, pode ser especialmente perigoso, indica Hopp, porque pode fortalecer a ação da metformina, e a combinação pode provocar hipoglicemia.

"Se o paciente pensa ‘vou começar a tomar isto daqui também porque é uma substância natural e tem benefícios’, pode acabar tendo problemas sem saber", afirma Lin.

Tradução de Clara Allain

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