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Como transformar afazeres da rotina em atividade física

Usar a bicicleta para ir ao mercado, por exemplo, pode ser uma maneira de incluir exercício no cotidiano

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Andrew Leonard
The New York Times

Fiquei fisicamente destruído na primeira vez que voltei do supermercado para casa de bicicleta, carregando um reboque cheio de mantimentos. A viagem de 18 km de ida e volta me deixou com as pernas mortas, dor nas costas e uma leve suspeita de que tinha cometido um erro.

Um mês antes, minha minivan de 23 anos quebrou pela última vez. Em vez de substituí-la, decidi que uma nova realidade "sem carros" promoveria um estilo de vida mais saudável. Meus músculos doloridos questionaram a viabilidade desse plano.

Ilustração bicicleta
Deixar o carro de lado e ir ao mercado de bicicleta pode ser uma boa maneira de se exercitar - Ana Galvan/ The New York Times

Agora, três anos depois, sei que desistir do meu carro foi o primeiro passo para resolver uma luta que durava a vida toda: manter uma atividade física constante. O que começou como uma necessidade –eu não tinha carro, então precisava me locomover de bicicleta– se tornou uma estratégia: as tarefas são uma oportunidade para fazer exercícios.

Essa reformulação acabou sendo uma bonança motivacional. Comecei a procurar novos afazeres pelo simples exercício que eles proporcionariam. A necessidade de meias novas se tornou uma oportunidade de caminhar até a loja Target. A falta de grãos de pimenta de Sichuan me estimulou a pedalar os 7 km até o mercado chinês e voltar. Este ano, descobri que a biblioteca pública tinha um livro sobre uma tumba antiga que eu estava pesquisando, e meu primeiro pensamento foi: "Excelente, são 4.000 passos de ida e volta!"

Faça chuva ou faça sol, tornei-me uma máquina de realizar tarefas. Meu humor melhorou, minhas idas ao supermercado ficaram mais fáceis e tive que comprar um cinto novo para minha cintura cada vez menor. Durante a maior parte da minha vida adulta, tentei, sem sucesso, fazer exercícios físicos de forma consistente. Só agora, ao completar 60 anos, eu senti que tinha decifrado o código.

Especialistas que estudam psicologia do exercício dizem que não foi por acaso que meu novo regime baseado em tarefas teve resultados duradouros. Melhor ainda, o que funcionou para mim pode funcionar para outros.

Encontre a motivação certa

Não sou estranho a truques motivacionais. Depois que meu casamento acabou, no início dos anos 2000, disse a mim mesmo que perder peso me tornaria mais atraente. Ouvindo o conselho do meu médico sobre o colesterol, decidi que só poderia comer batatas fritas no jantar se fosse de bicicleta até o morro mais próximo.

Mas nada se mantinha. Michelle Fortier, psicóloga de atividade física da Universidade de Ottawa, em Ontário (Canadá), diz que motivações externas, como avisos médicos e insegurança em relação ao peso, não resultam em mudanças duradouras de comportamento.

"Isso pode ajudar as pessoas a começar", afirma Fortier, "mas não manterá sua atividade física. Não leva a consequências positivas ou emoções positivas."

A motivação gerada internamente, que é impulsionada por uma sensação de realização ou satisfação, é muito mais poderosa, pontua. "Você faz aquilo porque é divertido", diz, "e a pesquisa mostra que esse tipo de motivação é bom" para a manutenção do exercício.

Minha mudança de comportamento, indica Fortier, provavelmente foi o resultado da combinação de duas motivações geradas internamente que nada tinham a ver com medos de imagem corporal ou pressões externas: adoro andar de bicicleta e adoro a satisfação de fazer as coisas.

Faça uma mudança mental

Mas isso não quer dizer que minha estratégia sem carro funcionará para todos. As pessoas usam mais a bicicleta em cidades com infraestrutura para ciclistas, e caminham mais em comunidades onde se pode caminhar. Tenho sorte: moro na área da baía de San Francisco, que possui uma extensa rede de ciclovias, incluindo uma trilha linda em curvas seguindo a beira-mar, que uso para comprar mantimentos.

Mas o que acontece se você mora numa comunidade rural a 50 km do shopping mais próximo? Ou se o seu escritório não permite mais trabalhar em casa, onde você pode escapar ao meio-dia para uma caminhada? O truque pode ser tão simples quanto mudar o modo de pensar no exercício, diz Benjamin Gardner, pesquisador de psicologia do comportamento habitual na Universidade de Surrey, na Grã-Bretanha.

O excesso de foco na palavra "exercício", afirma Gardner, "lembra ir à academia, levantar pesos, correr em esteiras e assim por diante".

Reconhecer que as tarefas do dia a dia muitas vezes envolvem movimento é uma oportunidade para "incorporar hábitos de atividade física na nossa vida cotidiana", acrescenta.

Todos os dias da semana, depois de levar seus filhos até a escola por 3 km, diz Gardner, ele estaciona o carro e caminha para casa, às vezes marcando reuniões durante o percurso. Depois, à tarde, ele volta até a escola para pegar as crianças e o carro. "Adquiri o hábito de me perguntar", afirma, "com todas as tarefas que faço todos os dias, se existe uma maneira de realizá-las de uma forma mais ativa fisicamente."

Você pode decidir caminhar um quilômetro para comprar um sanduíche para o almoço, em vez de comprar um na lanchonete da esquina. Se você mora numa área rural e não pode ir de bicicleta fazer compras, experimente passar 20 minutos por dia removendo ervas daninhas ou reorganizando a garagem. Qualquer coisa que você esteja adiando, como desenterrar um toco velho ou transportar resíduos do quintal, torna-se uma perspectiva mais convidativa quando você pensa nisso como um treino.

Comece fácil

"O mais importante", diz Fortier, "é que as pessoas encontrem maneiras de tornar sua sessão de exercícios –seja passear com o cachorro ou andar de bicicleta até o mercado– o mais agradável possível."

Em seu trabalho com mulheres clinicamente deprimidas e inativas, Fortier diz a suas pacientes para começarem escolhendo um dia agradável para dar uma caminhada e, em seguida, ajustar um cronômetro para 10 minutos. Se elas estiverem se sentindo bem quando o alarme disparar, talvez caminhem mais um pouco. Se não, encerram o dia.

Ao ouvir Fortier, percebi que, ao iniciar meu novo regime de exercícios com uma árdua corrida ao supermercado, corria o risco de reprimir meu entusiasmo antes mesmo de começar. É melhor prestar atenção no princípio do prazer, começar com desafios mais fáceis e aos poucos entrar em forma.

Portanto, faça seu primeiro exercício numa tarde ensolarada: dê um passeio até a agência dos correios mais próxima para enviar um pacote. Aumente o ritmo por alguns meses e sua lista de tarefas começará a se encher de missões mais árduas. Você pode até comprar um reboque de bicicleta usado na internet, rir de uma chuvarada imprevista e adorar cada minuto.

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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