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Paulo Vinicius Coelho (PVC)

A bicicleta, com todo o respeito

Devemos muito aos ciclistas, que também devem obedecer às leis de trânsito

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Paulo Vinicius Coelho (PVC)

Jornalista e autor de “Escola Brasileira de Futebol” (ed. Objetiva), é colunista da Folha; cobriu sete Copas do Mundo e nove finais de Champions League

Tinha 18 anos, jovem repórter da Gazeta de S. Bernardo, habitante do bairro Assunção, no ABC paulista. Não havia ciclovias e, mesmo assim, eu me deslocava todos os dias de bicicleta. Num deles, perto de um viaduto que passava por baixo da rodovia Anchieta, o trânsito parou e o freio falhou. Bati e voei por cima do carro à frente. Não houve nenhum dano à bike, nem ao automóvel. Podia ter quebrado uma perna, um braço. Podia ter morrido.

A ciclovia é indispensável às grandes cidades. O respeito às regras do trânsito, também. Estamos num momento difícil, em que nem a construção das ciclovias avançam na velocidade necessária, nem as pessoas aprendem que a bicicleta —e a motocicleta também— é parte do Código de Trânsito Brasileiro.

Semáforo para ciclistas na esquina da rua Caio Graco com a rua Clélia - Eduardo Knapp/Folhapress - Folhapress

Outro dia, passei pela rua Clélia, em São Paulo, ao lado de um ciclista. O sinal ficou vermelho e parei. Estava de carro. A bike seguiu. No semáforo seguinte, a mesma cena. Por algum acaso do tráfego relativamente livre na Lapa, consegui me aproximar. Abaixei o vidro, pedi licença e disse: "Posso fazer uma observação, super numa boa? A gente precisa respeitar o ciclista e, para isso, o ciclista precisa respeitar as regras de trânsito". Civilizadamente, ele balançou a cabeça positivamente e seguiu em frente.

A cidade de São Paulo deve muito mais às bicicletas do que as bicicletas à cidade de São Paulo. Mesmo assim, parece importante alertar quem anda pelas vias em duas rodas que o respeito é peça fundamental em ruas e avenidas. Carros a 50 km/h, bicicletas respeitando faixas de pedestres e sinais vermelhos.

Outro dia, a rádio CBN relatava incômodos com a nova ciclofaixa da avenida Tiradentes, no centro. Em vez de ser disponibilizada no canteiro central, como na avenida Paulista, está na calçada. A observação era a de que havia problemas, pelo calçamento esburacado. Nesse caso, o desrespeito é com o pedestre, não com o ciclista.

São Paulo é uma cidade que avança em respeito à população, mesmo que lentamente. Seja com o crescimento da quilometragem das vias exclusivas para bicicletas, a partir da gestão Fernando Haddad (PT), seja com as ampliações das linhas de metrô, por parte dos últimos governos tucanos, que facilitaram o acesso ao transporte público em comparação ao passado.

Não é o suficiente, está claro.

Até 1991, a metrópole dispunha apenas das linhas azul e vermelha do metrô. Era norte-sul, leste-oeste e só. O transporte metropolitano paulistano começou a ser construído em 1968 e parou por quase 20 anos. Era uma tragédia. Hoje é apenas um absurdo.

Daí a necessidade de criar-se cada vez mais transportes alternativos e as ciclovias serem indispensáveis na concepção de uma nova cidade, mais humana. Há 20 anos, parecia impossível o que acontece na marginal Pinheiros, com ciclovias e o parque linear Bruno Covas recebendo gente para passear. Não é como pedalar na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Respira-se gás carbônico. Mas é muito melhor do que já foi.

A construção de uma vida melhor e mais respirável também depende da compreensão das regras. A bicicleta é parte do código de trânsito. O ciclista deve respeitar faixas de pedestres, sinais verdes, amarelos e vermelhos. Na Alemanha, já vi policial interromper o pedal para multar quem anda na faixa contrária.

A ciclovia precisa fazer cada vez mais parte da vida da cidade.

O respeito pela legislação de trânsito, mais ainda.

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