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Estagnação do peso após uso de Ozempic deixa usuários insatisfeitos

Segundo especialistas, platô é atingido após cerca de 18 meses de uso

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Dani Blum
The New York Times

Kimmy Meinecke se culpou quando parou de perder peso. Por dois anos, ela vinha tomando uma injeção semanal de Ozempic para o tratamento de diabetes. A medicação reduzia tanto o apetite dela que às vezes tudo o que comia no jantar era um iogurte ou queijo com biscoitos. Mas então, um dia, a balança marcou 108 kg — 11 abaixo do peso em que ela havia começado — e ficou por lá.

Ela ficou emocionada que seus níveis de açúcar no sangue diminuíram, um resultado que valeu os efeitos colaterais experimentados, incluindo náuseas e tonturas ocasionais. Ainda assim, Meinecke, pastora em Spokane, Washington, esperava perder mais peso e continuar perdendo por mais tempo.

Seu médico, porém, não ficou surpreso ao ver que ela atingiu um platô. É um ponto que todos que tomam medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro atingirão.

homem gordo obeso injetando Semaglutide Ozempic injeção controle os níveis de açúcar no sangue
Medicamentos como Ozempic imitam um hormônio natural do corpo e retardam a sensação de estômago vazio - Myskin/Adobe Stock

"Se você pensar bem, isso é uma coisa boa", diz Robert Gabbay, diretor científico e médico da Associação Americana de Diabetes. "Seria perigoso se você continuasse perdendo peso."

Mas os médicos dizem que algumas pessoas procuram esses medicamentos para perder o máximo de peso possível — e ficam desanimadas e desiludidas quando param. Alguns interrompem o uso dos medicamentos depois de atingirem seu platô. Quando o fazem, tendem a recuperar o peso perdido.

"Este não é o medicamento mágico que as pessoas gostam de exaltar", afirma Meinecke, 52.

Por que as pessoas atingem platôs de perda de peso?

O corpo humano é projetado para resistir à perda de peso. Corpos menores geralmente precisam de menos energia, então o metabolismo reage ficando mais lento à medida que os quilos diminuem. Essas mudanças reduzem quantas calorias alguém queima por dia, pontua Scott Hagan, professor assistente de medicina da Universidade de Washington, que estudou a obesidade. Perder peso "diminui o termostato". Essa é uma das razões pelas quais muitas pessoas recuperam parte do peso mesmo após a cirurgia bariátrica ou durante restrição calórica intensa.

Medicamentos como Ozempic imitam um hormônio natural do corpo e retardam a sensação de esvaziamento do estômago para que os usuários se sintam mais saciados, de forma mais rápida e por mais tempo. Eles também atuam nas áreas do cérebro que regulam o apetite, reduzindo os desejos. Mas ainda há questões em aberto sobre como eles exatamente funcionam, e isso se estende ao motivo pelo qual algumas pessoas atingem um ponto fixo em um peso ou outro.

Outra complicação é que nem todos respondem a esses tipos de medicamentos da mesma maneira. Nos ensaios clínicos de semaglutida, composto presente no Ozempic e no Wegovy, as pessoas com diabetes tendem a perder menos peso e mais lentamente do que aqueles que não têm essa condição, diz Hagan. Uma pequena proporção daqueles que tomam esses medicamentos não perderá peso de forma alguma, acrescenta.

Quando a medicação encontra expectativas irreais

Andrew Kraftson, professor associado clínico na divisão de metabolismo, endocrinologia e diabetes da Michigan Medicine, afirma que a maioria das pessoas que toma esses medicamentos atingirá um platô cerca de 18 meses após o início do tratamento.

Os pacientes muitas vezes têm expectativas irreais, acrescenta ele, o que leva a "conversas difíceis". Alguns vêm até ele depois de atingirem seu platô, acreditando que o medicamento não está funcionando. "Não é tudo perda de peso o tempo todo", diz.

Mas Kraftson observa que mesmo que alguém ainda seja tecnicamente classificado como acima do peso, sua pressão arterial e colesterol podem estar sob controle, e seu açúcar no sangue pode ter diminuído porque estava tomando o medicamento.

"Não tento parecer o assassino de sonhos, mas às vezes você realmente se pergunta, qual é o vazio que estamos tentando preencher?", diz ele , acrescentando: "E a perda de peso adicional realmente o preencherá?".

Trabalhando para combater o platô

O peso de Gary Czaplewski estagnou cerca de seis meses depois que ele começou a tomar Wegovy em novembro. Desde então, o detetive particular em Milwaukee muitas vezes se perguntou se os desafios valiam os benefícios de tomar a medicação.

Czaplewski, 49, perdeu cerca de 15,8 kg, mas sentiu dores agudas quando aumentou sua dose pela primeira vez — dores tão intensas que ele voltou à clínica de perda de peso onde recebeu as injeções com o pânico de que poderia ter pancreatite. O tratamento custa US$ 600 por mês, que ele paga do próprio bolso, mas não sente mais vontade de comer alimentos como pudim.

Ele tentou aumentar seu exercício para perder mais peso. "Tem sido mais trabalhoso do que eu esperava", diz ele. "Eu pensei que perderia peso mais facilmente, por mais tempo."

Quando os pacientes não estão satisfeitos com a perda de peso, os médicos têm poucas opções, afirma Kraftson. Eles podem tentar adicionar outro medicamento, mas isso pode introduzir um novo conjunto de efeitos colaterais e interações medicamentosas. Eles podem incentivar pacientes a restringir ainda mais a ingestão de alimentos e a fazer mais exercícios, mas isso pode levar a comportamentos alimentares desordenados, afirma, e ser um desafio para aqueles que já comem tão pouco enquanto estão sob esses medicamentos.

"Você poderia dizer a alguém que eles vão perder 15% do seu peso, potencialmente, com Ozempic ou Wegovy", diz ele. "Mas uma vez que eles atingem os 15%, não é como se eles dissessem: 'Ah, agora estou satisfeito, ótimo'".

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