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Ajustar o tipo de treino com o ciclo menstrual ajuda a melhorar o desempenho nas atividades físicas

Fase após a menstruação é melhor para os exercícios de alta intensidade, já o período de ovulação é bom para os de resistência

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São Paulo

Aumento da frequência cardíaca, queimação nos músculos e suor são algumas alterações corporais experimentadas durante a prática de atividades físicas. Esses incômodos são somados a mudanças de humor e cólicas quando o exercício é praticado durante o período menstrual. Especialistas dizem que, para driblar esses sintomas, os treinos precisam ser ajustados para cada fase do ciclo menstrual, para que sejam prazerosos e tragam alterações emocionais positivas.

O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação e termina no dia anterior ao da menstruação do mês seguinte. Carolina Fernandes Giacometti, ginecologista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que os dois principais hormônios do ciclo que podem alterar o humor são o estrogênio e a progesterona.

Na primeira fase do ciclo menstrual, da menstruação até a ovulação, o hormônio que predomina é o estrogênio. Na segunda metade, da ovulação até a próxima menstruação, é a progesterona. Segundo a ginecologista, o estrogênio é um hormônio que atua no nosso humor de forma muito benéfica. "Nessa fase do ciclo, geralmente, é quando estamos mais dispostas", diz.

"Já a progesterona pode dar um pouco mais de desânimo e de variabilidade emocional" afirma Giacometti, acrescentando que, com a proximidade da menstruação e a queda da progesterona, pode aparecer também a TPM (tensão pré-menstrual).

Mulher fazendo exercício físico
A intensidade do exercício físico pode ser ajustada caso a pessoa sinta incômodo no período menstrual - Crédito: Unsplash

A ginecologista destaca que, ao longo do ciclo, acontece "uma diferença de performance bem importante na atividade física. Quando a pessoa está menstruada, o desempenho físico pode ser ruim. Nessa fase, o ideal é que os treinos sejam leves, voltados para alguma coisa que dá prazer para essa pessoa, eventualmente uma ioga, alguma coisa que seja um pouco mais recreativa".

Segundo Giacometti, a melhor fase para treinos de alta intensidade é depois da menstruação. Na fase seguinte, da ovulação, os mais indicados são exercícios de resistência, como a musculação. "No período pré-ovulatório, temos um pico de testosterona, o que favorece a realização de atividades físicas de resistência", conta.

No período pré-ovulatório, temos um pico de testosterona, o que favorece a realização de atividades físicas de resistência

Carolina Fernandes Giacometti

ginecologista

Depois da ovulação, os treinos ideais são os de moderada intensidade. "A performance ainda é boa, mas já cai um pouco se comparado com a fase antes da ovulação", explica Giacomett.

Na fase pré-menstrual, o desempenho já é fraco, segundo a ginecologista, e os exercícios físicos leves e focados no aeróbico são os mais indicados. A ginecologista lembra que quem usa pílula anticoncepcional "tem esse ciclo bloqueado e não vai conseguir desfrutar dessa variabilidade hormonal ao longo do mês".

Raul Prado, profissional de educação física e doutorando pela USP (Universidade de São Paulo) e fundador da Academia de Estudos e Pesquisa em Ciência da Mulher, observa que, quando as mulheres se exercitam durante o período pré-menstrual e menstrual, "uma grande porcentagem delas apresenta respostas psicológicas mais negativas, menos motivação e menos afeto pelo exercício".

Ele explica que respostas psicológicas, como o humor, o afeto e a motivação, estão associados à intenção de se exercitar. "Essas variáveis acabam influenciando a pessoa a manter a longo prazo uma atividade física regular. Se ela começa a associar o exercício a respostas negativas, a chance de ela voltar a fazer atividade física regular se reduz muito. O período menstrual é um fator que consegue, de certa forma, reduzir a motivação", conta.

Prado relata que algumas pessoas deixam de ir à sessão de exercício ou diminuem o tempo de treino por causa de sintomas menstruais. "O exercício, durante a prática, é uma coisa desconfortável. A sua frequência cardíaca aumenta, você começa a suar, sente queimação nos músculos. Isso somado, por exemplo, a uma cólica, pode ser muito desagradável", afirma.

Adriana Lacerda, psicóloga do esporte do Clube de Regatas do Flamengo, entende que a atividade física deve ser minimamente prazerosa. "Por exemplo, a pessoa está na musculação fazendo a sua série e aí tem uma ordem nos exercícios conforme o seu objetivo, a recomendação é que o último exercício seja o que ela mais goste, para que fique com aquela memória positiva, resposta afetiva positiva", ressalta.

Segundo a psicóloga, pessoas que se sentem competentes, pertencentes e integradas socialmente ao praticar exercícios físicos se mantêm praticando atividades no longo prazo. "Se ela se sente bem naquele ambiente, a probabilidade de continuar é maior", diz.

Para Prado, "a pessoa que tem um sentimento afetivo não faz mais o exercício físico por obrigação. Ela sente prazer e se sente identificada em estar ali. Essa que é a grande importância de essas respostas emocionais positivas estarem presentes".

O especialista destaca que apesar de as pessoas chegarem "um pouco mais negativas no treino durante o período menstrual e antes da menstruação, depois da sessão de exercício elas ficam mais motivadas, mais energizadas, com afeto maior, independentemente dessas duas fases".

Lacerda explica que com 20 ou 30 minutos de atividade física, de baixa ou moderada intensidade, é possível notar a "diminuição de alguns sintomas do período menstrual, como a ansiedade, e a melhora do humor".

Prado relata que, para pessoas que apresentam sintomas e sentimentos mais negativos no período menstrual, o treino pode ser ajustado. "A intensidade de exercício é uma coisa que a gente manipula para tentar reduzir os efeitos", afirma.

Ele reforça que, para fazer esse ajuste, é necessário que a pessoa tenha autoconhecimento e mantenha um diálogo aberto com o profissional de educação física. "Tem que ter essa consciência e autonomia para conseguir dizer 'eu, durante essa fase, me sinto melhor quando diminuo a intensidade'. Então, melhor reduzir a intensidade, mas mesmo assim ir lá e cumprir o seu calendário de atividades do que deixar de fazer", destaca.

Prado ressalta que o autoconhecimento é importante para que, em períodos com menor desempenho, a pessoa "não se culpe, porque ela consegue identificar, 'essa sou eu porque eu me monitoro e eu sou assim' e vai aprendendo a lidar com isso ao longo do tempo".

Lacerda lembra que, "por mais que haja indícios de que determinadas fases do ciclo menstrual impactam no humor da pessoa, o período que ela vai performar melhor é muito individual".

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