Descrição de chapéu The New York Times

Complicações com uso de semaglutida manipulada aumentam nos EUA

Erros na dosagem têm levado a hospitalizações e problemas de saúde, com aumento de casos de intoxicação

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Dani Blum
The New York Times

Três horas após Becky Cheairs, 66, injetar-se com a primeira dose de semaglutida manipulada, começou a vomitar. Agachada sobre o vaso sanitário, sentindo forte náusea, pensou que não conseguiria fazer a viagem planejada de Arkansas para San Antonio naquele fim de semana.

Ela estava certa: passou o dia seguinte vomitando pelo menos uma vez a cada hora.

Como muitas outras pessoas, Cheairs havia tomado o medicamento para perder peso. Mas, em vez de usar os produtos de marca Ozempic ou Wegovy, que vêm em canetas pré-preenchidas com doses específicas, o remédio que ela recebeu, via um serviço de telemedicina, vinha em um frasco acompanhado de seringas, para que ela mesma retirasse a dose.

A imagem mostra três embalagens de medicamentos, com destaque para os nomes 'Wegovy' e 'Ozempic', ambos com informações sobre dosagem. As embalagens são predominantemente brancas com detalhes em azul e preto.
Caixas de Ozempic e Wegovy, fabricados pela Novo Nordisk, são vistas em uma farmácia em Londres, Grã-Bretanha, em 8 de março de 2024. - Hollie Adams/Reuters

O marido de Cheairs perguntou quanto ela tinha tomado e, ao ler as instruções, ficou chocado: ela acidentalmente havia injetado cinco vezes acima da quantidade recomendada.

Acidentes como esse estão se tornando cada vez mais comuns. Já foram registrados 159 ligações para centros nacionais de controle de intoxicações relacionados aos medicamentos agonistas do GLP-1 manipulados, a classe que inclui a semaglutida, apenas este ano. Em 2023, foram 32.

A maioria desses casos envolve pessoas que tomaram doses excessivas, segundo Kait Brown, diretora clínica dos Centros de Controle de Intoxicações dos EUA. A situação se tornou tão preocupante que, no mês passado, a FDA (agência que regulamenta drogas e alimentos americana) emitiu um alerta sobre overdoses de semaglutida manipulada.

Alguns pacientes foram hospitalizados, desenvolveram pancreatite, cálculos biliares, ou desmaiaram e ficaram desidratados. Houve casos de pacientes que tomaram 10 ou até 20 vezes mais do que a dose recomendada.

A alta demanda por Ozempic e medicamentos similares empurrou os compostos manipulados, que antes ocupavam um nicho na saúde, para o popular. Não há dados concretos sobre quantas pessoas utilizam GLP-1s manipulados, mas estima-se que milhões de americanos estejam buscando essas opções, muitas vezes porque procuram uma alternativa mais barata ou porque não encontram o medicamento de marca disponível.

Quando a FDA lista um medicamento como "em falta", como é o caso das injeções de semaglutida, farmácias de manipulação podem adquirir os ingredientes ativos de fornecedores registrados e preparar suas próprias versões. No entanto, a FDA não revisa, aprova ou testa esses medicamentos manipulados, e alertou sobre os riscos associados à menor supervisão.

Muitos pacientes se injetam com medicamentos manipulados sem incidentes, mas alguns têm dificuldade em entender quanto devem preencher na seringa ou em interpretar instruções que usam diferentes unidades de medida. Alguns utilizam "unidades"; outros, miligramas (mg) ou mililitros (ml).

Joseph Lambson, diretor do Centro de Informação sobre Drogas e Intoxicações do Novo México, afirmou que os pacientes que utilizam semaglutida manipulada relatam receber diferentes níveis de orientação dos farmacêuticos sobre como dosar e administrar o medicamento, e há casos de pacientes que tomaram altas doses e disseram a ele não ter recebido nenhuma orientação sobre segurança.

Na internet, pacientes recorrem a calculadoras, tutoriais no YouTube e fóruns no Reddit, postando fotos de seringas e pedindo ajuda: quantos mg equivalem a uma unidade? Quantas unidades são necessárias para cada dose? Alguns ainda postam sobre dobrar as doses, tentando perder peso mais rápido.

Joyce Juntunen, 53, diz ser estressante calcular cada dose de semaglutida manipulada por conta própria. Ela usava o Wegovy original, prescrito por um serviço de telemedicina, há vários meses, quando a empresa começou a oferecer semaglutida manipulada. Após a mudança, as instruções no rótulo às vezes contradiziam o que a empresa lhe dizia por telefone.

"Eu lia a caixa umas 47 vezes para ter certeza de que estava fazendo certo", diz.

Cheairs, do início da reportagem, contou que, mesmo encomendando semaglutida manipulada da mesma farmácia todos os meses, os frascos às vezes chegavam com formulações ligeiramente diferentes ou com unidades de medida diferentes.

Errar a dose é "um erro fácil de cometer, especialmente para uma pessoa leiga", afirma. Seus sintomas duraram dois dias e meio. Ela chegou a pensar em nunca mais tomar outra dose.

"Eu disse: ‘isso me assustou demais, não vou fazer isso de novo’", conta. "Mas então pensei: poxa, quero perder aquele peso."

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